terça-feira, 17 de junho de 2008

Perguntando como a universidade atende o surdo

Às lideranças de defesa aos portadores de deficiência auditiva
Ofício/email ABDC 05/2008
Assunto: vestibulares e atenção ao surdo nas universidades

Tema: acessibilidade

Prezados Senhores

Sendo pai de estudante universitário com deficiência auditiva e por isso acompanhando a evolução das escolas instaladas em Curitiba, sinto que o progresso no atendimento ao estudante surdo é lento, havendo casos de regressão na atenção dispensada a esse contingente de cidadãos brasileiros.
Especialmente em relação ao deficiente auditivo as dificuldades são maiores diante da utilização exclusiva por muitos deficientes auditivos da Linguagem Brasileiras de Sinais – Libras (Lei 10.436 federal de 2002, Lei estadual do Paraná No 12.095, de 1998). Se não for oralizado, o aluno nessa condição carecerá de compreensão da nossa língua portuguesa, implicando em restrições severas. Sendo estudante com treinamento para leitura labial, ainda assim terá dificuldades de compreensão das sutilezas da nossa língua comum, existindo aí uma barreira considerável aos esforços de preparação do estudante com restrições auditivas. Acrescente-se a isso as dificuldades de entrosamento com os colegas de sala de aula e as rejeições decorrentes dessas limitações de comunicação e teremos um quadro perverso, agravado pela visão que a maioria das pessoas têm do surdo, acreditando que suas limitações são superáveis com próteses comuns.
A responsabilidade de nossas universidades públicas é muito grande, pois, sendo entidades mantidas pelo povo, devem muito justamente atender a todos, ainda mais diante do que estabelecem nossas leis e estatutos.
Para orientação nossa, responsáveis pela ABDC – Associação Brasileira de Defesa Cívica, pedimos aos senhores, se possível, informar como as universidades em sua região estão atendendo o deficiente auditivo.
O questionário a seguir é apenas uma orientação pois qualquer informação que puderem nos enviar em relação a esse tema será aproveitada em nossa luta a favor dos deficientes auditivos e demais PPDs.

1. Quantos alunos com necessidades especiais existem dentro das universidades públicas de sua região (por favor, definir a região)?

2. Como se divide esse público (surdos, cegos, paraplégicos, etc)?


3. Nos cursos de terceiro grau existentes no vosso estado:

a. Como as universidades, operando no vosso estado, atuam para garantir direito justo de acesso aos surdos?

b. Oferecem tradutores para LIBRAS?

c. A contratação de tradutores para LIBRAS foi precedida de ações judiciais?


4. As universidades têm programas de evolução do corpo docente no atendimento a pessoas com necessidades especiais na área auditiva?

a. O que esses programas prevêem realizar?
b. De que forma?
c. O que contêm?
d. Quem são os responsáveis por esses projetos e programas?
e. Que recursos estão alocados para a execução desse trabalho?

5. Qual é o cronograma de implementação dos programas existentes?

6. O que já foi realizado?


7. Como as universidades existentes em vosso estado pretendem avaliar o sucesso de suas inovações a favor dos estudantes especiais?

8. Essas universidades mantêm programas educacionais para convivência pró-ativa com os alunos especiais (corpo docente e discente)?

9. As universidades desenvolvem pesquisas e produtos para melhor atendimento aos PPDs?

a. Podem relacionar esses projetos de P&D?

10. As universidades de vossa região têm acordos, convênios ou programas de intercâmbio técnico e cultural com outras universidades e ONGs para melhor atendimento aos surdos?

Temos a convicção reforçada por algumas verificações pessoais de que nossas universidades estatais não se prepararam para atender os portadores de deficiências, principalmente os surdos. Além de vestibulares inadequados, o que reduz substancialmente a presença desse tipo de aluno em suas salas de aula, não vimos, por exemplo, treinamento de professores para a apresentação de suas aulas.
Quando questionados apresentam planos abrangentes, vagos e prolixos mas sem propostas objetivas, concretas. Se cobrados com mais rigor alegam falta de recursos materiais, de criação de vagas etc.
Podemos, ainda, reforçar nosso questionamento lembrando que existe a possibilidade de desenvolvimento de recursos para melhor comunicação entre alunos e professores, como, por exemplo, disponibilizar via Internet suas matérias com explicações detalhadas das aulas proferidas. Nesse sentido propomos em diversas ocasiões no estado do Paraná a criação de bibliotecas de livros didáticos em formato eletrônico.
A oferta de livros didáticos em formato eletrônico seria útil a todos os alunos, mas, para os surdos e cegos, poderia ser enriquecida por padrões especiais de modo a se viabilizarem como fontes de comunicação eficientes.
Tendo lecionado na Universidade Tuiuti, CEFET, UFPR e UFSC em épocas diferentes e acompanhando os desafios da inclusão, entendemos que existe a necessidade de um esforço maior, permanente e objetivo para a viabilização do aluno portador de deficiência nas universidades. O problema vem de fora delas, principalmente na falta de educação de alunos e professores em todos os níveis, e se cristaliza numa visão quase fatalista no ambiente universitário estatal (falta de verbas, rotatividade de comando, baixo nível de agressividade dos alunos especiais na luta pelos seus direitos etc).
Conhecendo a superestrutura e o corporativismo dominante nas escolas de terceiro grau, principalmente naquelas sob comando de governo, entendemos que se faz necessário criar e manter pressão forte para que se preparem e atendam bem os alunos especiais. Nossas estatísticas são indicadores eloqüentes da exclusão implícita e explícita a partir de cursos de segundo grau, precariamente acessíveis ao aluno especial, vestibulares mal feitos e a dificuldade de permanência com bom aproveitamento em nossas universidades.
O pesadelo do estudante portador de deficiência, quando não múltiplas, pode ser minimizado se todos trabalharem para a solução dessa adversidade, via de regra sem qualquer responsabilidade do aluno especial, nessa condição como vítima de acidentes, medicação inadequada, má alimentação, questões genéticas etc.

Sem mais para o momento, subscrevemo-nos
Atenciosamente

Atenciosamente



João Carlos Cascaes
Diretor Técnico da Associação Brasileira de Defesa Cívica - ABDC
Curitiba, 06.04.2008
Coordenadas:
jccascaes@onda.com.br
Rua Dorival Pereira Jorge, 282, Vila Isabel, Curitiba PR 80320-060
Telefax: x41 3242 7082

De acordo
Ariadne Zippin Monteiro da Silva
Presidente da Associação Brasileira de Defesa Cívica - ABDC

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