segunda-feira, 16 de junho de 2008

Calçadas e acessibilidade

Opções calçadísticas. 1
Pesquisa e desenvolvimento de sapatos. 3
Calçadas, para que servem?. 4
Cidadania e acessibilidade. 6
Evolução, transformação e sobrevivência nas calçadas. 7
Ônibus cruéis. 9
Ficções tombadas, calçadas curitibanas. 10
Acessibilidade e comunicabilidade. 12
Calçadas para turista. 13
Sensibilidade formal 15
Soluções desumanas. 16
Consciência a favor do pedestre. 18
Rodoviárias e a acessibilidade. 19
Calçadas, uso e função. 21
Tombando no tombado. 22
Calçadas, calçadas e calçadas. 24
Velocidade e cidadania. 25
Calçadas e anti pó. 26
Cidades e responsabilidade social 28
Calçadas, uma vergonha curitibana. 29
Calçadas em Curitiba. 31
Andar e crescer 32
Transporte coletivo e calçadas. 34
Orelhões e barreiras arquitetônicas. 35
Orelhões e barreiras arquitetônicas. 36
Cidadão caminhando. 37
Calçadas criminosas. 38
As calçadas e a atividade comercial 39
Planejamento urbano. 41


Opções calçadísticas

Caminhar é uma forma natural e saudável de se deslocar, sempre que possível. Essa condição foi reconhecida pelas administrações de Curitiba, que fizeram diversos parques em que os circuitos para trânsito dos pedestres ganhou piso asfáltico, bancos, árvores e outros recursos de apoio àqueles que têm tempo e condições para se exercitarem nesses locais. Coerentemente os responsáveis por esses projetos evitaram pedras irregulares, ainda que tão bonitinhas quanto as denominadas “petit pavê”. Graças a essa consideração milhares de curitibanos podem se exercitar, recuperando pelo menos parte da saúde que perdem em meio à poluição urbana. Essas calçadas são mantidas pela prefeitura, conservam-se em condições permanentes de bom padrão de uso.
Na cidade externa aos parques, onde o povo caminha para trabalhar, para estudar, para utilizar o transporte coletivo e cumprir suas obrigações as calçadas, quando existem, têm padrões variáveis e manutenção aleatória. No passado muitas decisões equivocadas foram tomadas viabilizando um pesadelo que demandará muitos anos para ser corrigido. Afinal, Curitiba possui mais de quatro mil quilômetros de ruas, a maior parte delas com passeios feitos com pedras irregulares e cobertos por árvores mal escolhidas, raízes imperando sobre pisos frágeis e hostis aos caminhantes.
A cidade precisa mudar, isso é tão evidente que nosso atual prefeito já assinou instrumentos legais que lhe permitem ações saneadoras, corrigindo padrões que fazem da nossa capital um exemplo de lugar maldito para os pedestres, para aqueles que realmente caminham pela cidade.
É interessante ver que a qualidade e segurança do piso é um fator de projeto e estudos por fabricantes e pesquisadores no mundo mais desenvolvido. Aqui no Brasil descobrimos que já se fala em novos índices para avaliação e decisão de tipo de cobertura de pisos de shoppings, por exemplo. Afinal seus responsáveis não querem perder seus fregueses ou pagar indenizações por descuido em suas instalações. Já nos acostumamos, entre outras coisas, a ver em ambientes fechados cavaletes de plástico alertando para a existência de “piso molhado”, infelizmente esse tipo de cuidado é impossível nas calçadas, onde além das chuvas também temos outros fatores de risco que penalizam os pedestres.
As cidades podem e devem evoluir a favor do cidadão comum, principalmente daqueles que não têm condições de usar o transporte individual e dependem de estruturas públicas para ir e vir. Destaque-se, nesse sentido, os idosos, os portadores de deficiências graves e as crianças, todos demandando segurança que precisa ser construída em cima de uma nova percepção de respeito ao ser humano. Felizmente a legislação federal se aprimora criando condições de se exigir ajustes essenciais em padrões que podem ser até estéticos, terem conteúdo histórico e afetivo, serem fonte de renda de donos de pedreiras etc mas carecem de qualidade necessária e suficiente às necessidades do cidadão.
Nossa Curitiba é de todos, daqueles que aqui nasceram e de outros que escolheram a capital paranaense como lugar para viver. Nessa cidade precisamos de recursos para maior segurança. Cuidados mais do que evidentes quando vemos o constrangimento, os riscos e acidentes a que a população é submetida graças às belas e inúteis calçadas que enfeitam boa parte das nossas ruas.
Felizmente temos alternativas. Com certeza o asfalto, por exemplo, usado em nossos parques, poderia existir em mais lugares. Vendo o carinho que a Prefeitura tem com o circuito dos veículos motorizados, lembramo-nos que esse comportamento poderia ser estendido aos passeios.
Terminamos o ano de 2006 com uma polêmica que entrará para a história de Curitiba graças ao Ministério Público Estadual onde encontramos apoio a questionamentos que não prosperaram no passado. A Dra. Terezinha Rezende Carula, de personalidade ilibada, livre de qualquer adjetivo pejorativo como vemos, lamentavelmente, serem usados contra aqueles que lutam pelo aprimoramento de Curitiba, tem colocado de forma competente e justa a questão da qualidade de nossas calçadas. Esperamos que seu trabalho seja a base de uma mudança real, que certamente deixará a capital melhor do que a encontramos quando, muitos paranaenses vindo de outros estados, aqui decidimos viver. Com todo respeito a algumas personalidade antigas da capital, não queremos afundar em buracos nem escorregar em pisos mal feitos, temos esse direito.

Cascaes
28.11.2006


Pesquisa e desenvolvimento de sapatos

A indústria precisa criar novidades. O comprador aprecia mudanças que lhe dêem mais conforto, segurança e alguma imagem melhor. A produção de bens de consumo é turbinada pelas festas em que se presenteia alguém e pelo desejo de ser diferente, melhor etc. Qualquer loja mostrará com orgulho e grande esperança de aumentar suas vendas, os lançamentos mais recentes, isso vai do automóvel ao perfume, passando por roupas e sapatos.
Curitiba é famosa como laboratório da classe média. Com a industrialização da cidade e a criação de mais e mais favelas, deve estar ganhando conceito nos laboratórios para todas as classes sociais. A cidade ainda é ambiente de experiências urbanísticas, fortalecendo a atenção do povo brasileiro para o que acontece na capital paranaense.
A capital das araucárias é uma das pioneiras brasileiras a favor do respeito ao meio ambiente, e de não respeito. Permitiu a instalação da Renault em local de preservação ambiental, criando um dos maiores pesadelos urbanísticos, ecológicos etc de Curitiba. Afinal aquela era uma região para ser cuidada com extremo carinho, a montante do rio Iguaçu e da cidade e em área de plana, com o lençol freático quase empatando com a superfície agora ocupada por casas improvisadas e muitos motéis. Obviamente aos poucos descobre-se maneiras de se instalar moradias de melhor padrão, sempre agredindo um ambiente que deveria continuar verde.
As contradições curitibanas não param por aí. Apesar de leis, protestos e pedidos até de entidades de defesa a portadores de deficiências, suas calçadas são terríveis, mesmo quando apresentadas com alguma qualidade. Existem exceções, as ciclovias são nossos melhores passeios, apesar do conflito com ciclistas que deveriam usá-las regularmente.
As famosas pedras irregulares, lajotas mal instaladas, raízes de árvores, bancas de revistas instaladas acintosamente no meio do passeio como podemos descobrir em ruas de extremo movimento como a André de Barros e a Marechal Deodoro, são, entretanto, excelentes pistas de testes para a indústria calçadista. Seria de extremo valor para esse segmento empresarial criar um laboratório para seus produtos em Curitiba. Além de avaliar a simpatia por desenhos, cores e texturas, os industriais teriam a oportunidade de medir os impactos sobre os seus produtos em buracos, escorregões, tropeços, desvios por trajetos inusitados (escapando das “calçadas”) etc.
Devemos valorizar o que é nosso. A desinteligência também é charmosa.
Tirando maior proveito da falta de capacidade que os responsáveis pelo planejamento urbano têm de resolver a questão “calçadas” em Curitiba, deveríamos divulgar essa situação mostrando as vantagens que os turistas encontrariam por aqui testando suas habilidades.
Poderíamos criar esportes radicais como, por exemplo, caminhar de olhos fechados pelas nossas calçadas e corrida de cadeira de rodas na Marechal Deodoro (na calçada). Faríamos mídia, seríamos tema de reportagens na imprensa internacional mostrando como treinamos nossos cidadãos a caminhar em ambiente hostil. Ainda não chegamos ao nível de outras cidades que poderão acrescentar a isso a sobrevivência sob chuva de balas mas, para enfeitar, acrescentaríamos testes de travessia de ruas e avenidas, enfrentando motoristas malucos que infestam a cidade.
Quando não se consegue vencer, deve-se aprender a conviver com o inimigo. A sobrevivência é mais importante do que o exercício de mágoas que não curam. É lamentável ver nossa cidade tão maltratada, é nela que vivemos, contudo.
A esperança sempre existe. A cada quatro anos acontecem eleições para mudança de prefeito. Sintomaticamente vimos que a prioridade do último foi avisar os malucos que poderiam levar multa por excesso de velocidade em determinados lugares. Compreendemos que é uma questão ética respeitar os eleitores, inclusive os mais irresponsáveis. Atendendo os mais dependentes do prefeito, o nosso alcaide precisa acrescentar a seus projetos a solução a favor do pedestre do pesadelo curitibano denominado “calçadas”, queremos andar pela cidade e não acreditamos que servir de cobaias para indústrias de sapatos compense o sacrifício.

Cascaes
27.5.2005

Calçadas, para que servem?

A capital paranaense pode e deve se orgulhar de muita coisa. Nossos planejadores e decoradores de cidades fizeram um bom trabalho. A cidade se orgulha de mostrar qualidades que outras capitais brasileiras perderam ou nunca tiveram. Curitiba é referência, lugar obrigatório de estudo para todos que se interessem por urbanismo.
Essa responsabilidade da nossa cidade, permitam-nos falar assim, catarinense e paranaense por opção, cobra dos curitibanos natos e adotados muitos cuidados. Decisões erradas poderão ser imitadas, espalhando males que precisamos corrigir aqui.
As calçadas são, de longe, o pior exemplo que damos e sofremos. Elas são o caminho obrigatório de quem depende do transporte coletivo, de todos que transitam pela cidade a pé. São mais penalizantes para aqueles que não caminham para simplesmente conversar, parar na Boca Maldita, estacionar nas esquinas vendo as moças passarem ou tomar cafezinho em algum bar da moda. Todos que têm compromissos e necessidade de andar depressa sentem que é muito desagradável ficar olhando para o chão para não cair em algum buraco, tropeçar em pedras soltas, escorregar em pedaços de mármore ou granito alisados pelo tempo e solas de sapatos.
Vivemos a polêmica da Marechal Deodoro. Lá o IPPUC estabeleceu um padrão clássico de pavimentação que esquece a importância daqueles circuitos para os pedestres. A superfície do centro de Curitiba é espaço de integração entre diversos terminais de ônibus, entre os quais centenas de milhares de pessoas transitam diariamente. Elas precisam de caminhos seguros para andar.
A tendência da cidade é crescer. Crescer muito. Infelizmente não temos metrô, não existem galerias subterrâneas para podermos caminhar entre terminais. É nas calçadas que todos precisam andar para ir das rodoviárias às praças Rui Barbosa, Tiradentes, Carlos Gomes e outros locais onde pegarão algum ônibus.
Um metro e vinte é largura suficiente nas calçadas da Marechal para os pedestres? Não precisam de mais do que essa trilha para caminharem depressa, preocupados para chegar em tempo na escola, no trabalho, na igreja, em casa?
Vemos o IPPUC propondo a construção da primeira linha de metrô. Ótimo! Já vem tarde. Acontece que o usuário do metrô também precisará de calçadas. Por quê não criar um fundo a partir de empréstimos junto ao BIRD, BNDES e outros bancos para que os proprietários de terrenos, casas e prédios refaçam as calçadas de acordo com padrões que garantam acessibilidade, segurança e conforto aos curitibanos? A Prefeitura poderia ser simples aval desse crédito, pois o dinheiro seria repassado a quem tem a responsabilidade legal de fazer e manter as calçadas.
Carecemos de vontade política e administrativa para solução do pesadelo “calçadas curitibanas”. Possuímos boas experiências. Avenidas reurbanizadas mostram como bons passeios atraem nossos caminhantes. Os parques têm passeios asfaltados, que maravilha para quem tem tempo e pode se exercitar andando por eles. Estranhamente neles o IPPUC não pôs “petit pavê”, haveria muito lugar para contar a história do Paraná nesses circuitos. Já no centro da cidade, onde a maioria dos pedestres é de trabalhadores caminhando entre seus pólos de atenção, enfatiza-se a necessidade de colocar pedras irregulares que, com o tempo, se transformam em tobogãs esperando incautos caminhantes em dias de chuva.
Aos poucos o Brasil aprende e cria compromissos com todos os seus cidadãos. A legislação a favor das pessoas com necessidades especiais ganha corpo. Graças a novas leis e futuros padrões que a ABNT deverá estruturar talvez descubramos a necessidade de refazer, por força de lei, sem grandes tolerâncias, as calçadas que foram projetadas para enfeitar a cidade e garantir espaços para tudo, menos para o cidadão que depende desses caminhos para viver com segurança na capital paranaense.
Para que não desperdicemos dinheiro e tempo, protelando suplícios, precisamos aproveitar todas as oportunidades de reconstrução de calçadas para fazê-las em padrões otimizados, dentro do que o senso de civismo exige de todos nós.

Cascaes
27.12.2006



Cidadania e acessibilidade

Uma visão negativa da sociedade humana é inevitável quando pretendemos avaliá-la e corrigi-la visando maior dignidade, mais fraternidade, uma vida melhor para todos. Nossas cidades e nelas suas instituições parecem querer mostrar que a violência e o individualismo radical dominam vontades e comportamentos. O crescimento urbano acelerado, desordenado e aleatório mostra um lado perverso que assusta. Será que a desumanização das metrópoles é inevitável?
Temos leis, estatutos, códigos específicos e até estruturas no Poder Judiciário e Executivo para desenvolvimento de um espírito mais saudável. Mídia negativa também não falta. A liberdade dos donos das emissoras de televisão (concessionários de serviço público), por exemplo, de criar programas de baixíssimo nível é uma realidade. Os piores programas dominam horários nobres, aqueles que apelam para os instintos mais negativos, simplesmente porque dão muito dinheiro, pois despertam curiosidades e se enquadram no lado menos recomendável da personalidade humana. Assim, nesse cenário, falar de acessibilidade pode até parecer um luxo, algo mais diante da miséria material e intelectual que percebemos sem muito esforço em muitos lugares e instituições que deveriam ser exemplos de cidadania.
Lutar pelo aprimoramento de nossas comunidades, apesar de todas as dificuldades, é o desafio que se impõe a todos aqueles que se sentem conscientes e determinados a fazer mais do que rezar e dar esmolas.
Existem ONGs que despontam como agentes de mudança real, formadas por pessoas dispostas a contribuir para a construção de um Brasil melhor. Diante de tantas falhas, nada mais natural do que o aparecimento de associações de pessoas determinadas a trabalhar para a correção da sociedade em que vivem.
Precisamos evoluir e para isso nada melhor do que o debate e a mobilização para os ajustes necessários. Nesse sentido teremos no próximo mês de maio, dias 19 a 21, um encontro nacional de entidades dedicadas às pessoas com necessidades especiais. O Primeiro Encontro Nacional do “Conhecendo e Respeitando as diferenças”, promovido pelo IBDVA (Instituto Brasileiro dos Deficientes Visuais em Ação, presidente e coordenadora Terezinha Aparecida de Lima, celular para quem quiser ajudar: 96142188) em parceria com outras entidades dedicadas às pessoas com necessidades especiais, deverá reunir representantes de organizações de outros estados em Curitiba para discutir conosco como agilizar o respeito às nossas leis a favor do nosso povo com alguma restrição motora, sensorial e/ou mental. O desafio é grande, começando pelo apoio financeiro que é uma das grandes preocupações dos promotores desse evento, que terá como foco a interação dos portadores de deficiência com a sociedade em geral, o acesso à saúde, organização e participação nos conselhos.
Felizmente estamos nos mobilizando para maior respeito ao ser humano.
O CREA-PR, ilustrando esse esforço, teve a iniciativa de formar e apoiar com sua estrutura o “Fórum pela Acessibilidade”. Nesse ambiente discute-se nossa realidade e expectativas. Outro ponto de apoio importantíssimo tem sido o Ministério Público do Estado do Paraná. Nele encontramos suporte para cobranças que antigamente seriam impossíveis. Aliás, os Ministérios Públicos são a grande revolução no processo de disciplinamento de nossa sociedade. Precisam, contudo, de maior apoio e de independência financeira do Poder Executivo.
Precisamos mudar para melhor. As razões de nossos problemas não são mistério para os estudiosos. O fundamental, diante das tragédias que estão se tornando rotina, é trabalhar para mudar essa tendência à violência, à miséria. Assim, entre as muitas ações que deveremos empreender, cumprimentamos o IBDVA pela promoção do Primeiro Encontro Nacional do “Conhecendo e Respeitando as diferenças”.

Cascaes
9.3.2007



Evolução, transformação e sobrevivência nas calçadas

A sobrevivência da humanidade tem sido possível graças ao uso da inteligência humana. Crescendo a capacidade de raciocínio e o potencial de memória e percepção, o ser humano ganhou recursos monumentais de competitividade com outros seres vivos.
A luta frente aos rigores da natureza é positiva à medida que constatamos a permanência da humanidade e seu crescimento, existindo em praticamente todos os cantos da Terra.
As cidades são agrupamentos de indivíduos com inúmeras relações, sob diversas alternativas de convivência. Nesse jogo testa-se soluções, compromissos e se procura evoluir. Evidentemente o crescimento cobra concessões, demanda novidades, muda cenários.
É natural o saudosismo, o conservadorismo. Afinal a curiosidade é grande em todos os sentidos, inclusive quanto ao passado. Assim criam-se museus e se preservam lugares que tenham significado histórico. Naturalmente cada comunidade terá sua amplitude e o que recordar, faltando assunto vale tudo. O desafio, contudo, é criar espaços para o passado, viver o presente e aprimorar o que for possível para um futuro melhor.
Curitiba é uma cidade não muito antiga em termos relativos, na escala brasileira. Sua localização privilegiada a protegeu de guerras e revoluções. Tem sido, entretanto, pólo de convergência de muitas civilizações, produzindo registros arquitetônicos de origens diversas e interessantes. Aqui podemos ver casarões que foram residências de pessoas ilustres e lugares de comércio típico do início do século passado. As praças não têm muita relação ao que eram, encheram-nas de árvores, hoje mais parecem florestas urbanas do que lugares para reunião de pessoas. As igrejas ficaram pequenas, ainda assim agora quase vazias, sinal dos tempos. Hipódromo, clubes, estação de trem e quartéis ou viraram shoppings, foram desmanchados, transmutaram-se em escolas ou coisa parecida. O asfalto cercou tudo e agora podemos ver arquipélagos envolvidos por fileiras de automóveis parados ou andando.
Nossos urbanistas, entretanto, provavelmente viveram tempos nas praias de Copacabana e outros balneários. De lá trouxeram o “petit pavê” (“petit pavé” em francês). Essas pedrinhas (O petit pavet branco é o mármore dolomítico (calcáreo) e o preto é o diabásio (basalto)) tornaram-se paixão dos planejadores de calçadas de Curitiba a ponto de terem obtido o tombamento dos pisos de algumas ruas. Infelizmente na capital paranaense, onde costuma chover muito, descobriu-se que os passeios com essas pedrinhas ficam escorregadios e, além disso, não se prestam para o uso de cadeira de rodas, não formam um piso firme, facilmente se deformando quando algum veículo mais pesado passa por cima delas, são caros (na construção e manutenção) e não suportam adequadamente o peso de carros de serviço, além de serem excelente munição para vândalos (as pedrinhas citadas) e os buracos que aparecem com facilidade se transformam em autênticas armadilhas.
A evolução existe e já há muitas décadas existiam alternativas melhores, entre elas o ladrilho hidráulico e o próprio asfalto. A ciência evoluiu e pode oferecer critérios técnicos para avaliação e exclusão de pisos inadequados. Seria, pois, altamente desejável determinar-se coeficientes de atrito mínimo desejáveis para os componentes das calçadas e aplicar nelas medições de grau de escorregabilidade “degree of slipperiness”, que a Associação Brasileira da Indústria de Pedras Ornamentais tem usado pala classificar seus produtos (vide portal http://www.abirochas.com.br ). Essa entidade, precisando exportar e oferecer pisos que ofereçam segurança a seus clientes adota padrões que deveriam ser transpostos para as nossas calçadas, além do simples saudosismo ou critério estético. Além de pisos mais seguros há como fazê-los com maior permeabilidade e qualidade estética, é só querer.
As cidades evoluem, não fosse assim estaríamos ainda usando charretes, velas, candeeiros, fogões a lenha etc, esse era o padrão de nossos avós. Queremos que os planejadores de Curitiba entendam que precisamos de calçadas seguras, antiderrapantes, modernas e eficazes.

Cascaes
21.8.2006

Ônibus cruéis

O Brasil produz leis e estatutos com grande facilidade. Por impulso, oportunidade ou compreensão real das necessidades do povo mais frágil trata-se de fazer documentos que, em última análise, transferem para o poder executivo e a sociedade em geral a responsabilidade pelo resgate social.
O Poder Judiciário, como um todo, aos poucos aprende a cobrar atenção às necessidades de todos os brasileiros, principalmente as relativas ao respeito e dignidade do ser humano. A ação dos Ministérios Públicos, por sua vez, tem sido uma muito grata surpresa para os brasileiros.
Nesse quadro institucional compete ao cidadão comum cooperar com as autoridades na vigilância do respeito às leis, trabalhando pelo aprimoramento da nação. Certas questões, contudo, merecem atenção especial diante da lentidão dos ajustes apesar das leis, decretos, regulamentos etc existentes. A aplicação dessas decisões legais depende de processos que facilmente poderão ser esticados ao gosto dos responsáveis pelos serviços..
O decreto federal nº 5.296 - de 2 de dezembro de 2004 estabelece que todos os veículos e instalações dedicados ao transporte coletivo rodoviário (e as rodoviárias) deverão garantir acessibilidade a todos os passageiros, tenham ou não restrições de mobilidade. Infelizmente esse decreto considera prazo a partir da elaboração de padrões e normas a serem definidos por entidades dedicadas ao assunto. Quando serão feitas essas normas? Quem deve fazê-las está preocupado com esse dever cívico? Estão preocupados realmente com esse decreto?
No Paraná temos lei semelhante (lei estadual de autoria do deputado César Seleme, lei estadual 11.818 de 1997) e sobre tudo isso os estatutos do idoso e do portador de deficiências, e qual é o resultado?
Convidamos todos a visitarem a rodoviária da capital paranaense e a examinarem atentamente os ônibus interurbanos, conversando com os motoristas e passageiros. Poderão ver que a questão “acessibilidade” simplesmente não existe. Para entrar ou sair de ônibus dedicado ao transporte entre cidades, ônibus de longo percurso, o passageiro cadeirante, por exemplo, precisará entrar ou sair no colo de alguém, todos com o risco de caírem de escadas mal feitas.
Visitamos um grande fabricante de carrocerias em julho deste ano e a própria Volvo em Curitiba (há um ano atrás). A Volvo mostrou orgulhosamente sua linha internacional de produção, apresentando soluções para pessoas com restrições de mobilidade; ela tem como fazer chassis para veículos urbanos e interurbanos de excelente qualidade, é só querer e pagar. Na fábrica de carrocerias tivemos a mesma resposta e a apresentação de ônibus prontos, destinados à Costa Rica e equipados por elevadores feitos no Brasil pela Guardian, resolvendo de maneira inteligente o acesso aos ônibus com um mínimo de ocupação de espaço. Para nossa surpresa, entretanto, nenhum ônibus rodoviário com elevador para pessoas com problemas de locomoção estava em fabricação para uso no Brasil. Lembrando a necessidade de se adaptar a frota e de que novos veículos tenham condições de acessibilidade, podemos perguntar, quando no Brasil veremos esse recurso em nosso sistema de transporte coletivo?
As leis, infelizmente, dependem de regulamentação de detalhes e fiscalização enérgica. Nesse espaço cria-se a oportunidade de se eternizar soluções que poderiam, simplesmente, serem copiadas de outros países mais desenvolvidos (Costa Rica, por exemplo), como é rotina acontecer em assuntos mais amenos. Mutirões técnicos viabilizariam estudos e soluções para se encontrar propostas técnicas de questões que já têm bons projetos em outros lugares.
É necessário, acima de tudo, vontade real para que nosso país se humanize.
Temos seminários, congressos, campanhas a favor da cidadania. Teremos eleições, discursos, promessas e campanhas. Chegou a hora de se estabelecer cobranças enérgicas.
Não devemos esquecer que todos nós, se vivermos o suficiente, seremos pessoas com restrições de mobilidade. É pouco inteligente esquecer a importância da garantia de universalidade de acesso e da qualidade do atendimento, garantindo-se a dignidade no uso de equipamentos e instalações de serviço público.

Cascaes
21.7.2006


Ficções tombadas, calçadas curitibanas

O narcisismo é um problema clássico. O verbete tem origem na mitologia grega, terra em que essa “qualidade” era comum e própria de comportamentos que geraram glórias e desgraças para seu povo.
Preservar histórias e cenários, portanto, é conveniente para se lembrar decisões de lideranças, artistas, arquitetos, urbanistas, generais etc e também conhecer maneirismos de nações que marcaram época ou simplesmente fazem parte do catálogo de gente que os antropólogos e sociólogos vivem de estudar e escrever.
No Paraná e no sul do Brasil temos situações que merecem atenção; assim tornaram intocável o mato que envolve as pedras de Vila Velha e agora desmancham casas de pescadores em Pontal do Sul, talvez por falta de “vontade” de atacar os prédios que enfeitam alguns lugares da orla marítima do sul do Brasil, onde, em algumas praias, como a “dos Ingleses” em Florianópolis, Piçarras, praia do Mar Grosso em Laguna etc desfiguraram completamente imagens e “habitats” (falando difícil) da fauna e da flora pré-existentes.
Nesse mundo de muitas lógicas e jurisprudências as calçadas curitibanas merecem um tratado em todas as ciências possíveis e imagináveis. Nesse momento de nossa história em que leis, decretos e estatutos são feitos a favor dos idosos, das crianças e dos portadores de deficiências a capital paranaense ainda mantém e teima em preservar ambientes hostis a uma parcela significativa de sua população. Talvez por narcisismo ou saudosismo de alguns indivíduos que, infelizmente, têm força para ditar regras, vemos, entre outras coisas, a não construção de passeios seguros no Largo da Ordem e a manutenção do “petit pavet” na Rua das Flores, volta e meia modificada radicalmente, mas sustentando padrões de calçadas não tão velhos assim.
Vale a pena repetir e registrar o que ouvimos de uma grande autoridade no assunto: o “petit pavet” custa dois reais a mais por metro quadrado de construção se comparado com o piso de “paver”, a permeabilidade alardeada é desprezível, não resiste ao peso dos caminhões e carros de serviço, exige manutenção freqüente e é escorregadio se molhado, escorregadio até estando seco, desde que suficiente desbastado pelo uso e tempo de construção. Podemos acrescentar a isso que essas pedrinhas são uma excelente munição para vândalos e os buracos que costumam formar nas calçadas criam autênticas armadilhas. Calçadas perigosas comprometem, inclusive, a elegância da mulher curitibana que nesses locais desiste de usar sapatos de salto alto ou precisa andar com extremo cuidado, olhando para baixo e pisando com atenção.
Diante de tudo isso causa-nos estranheza o projeto de recuperação das calçadas da Avenida Marechal Deodoro. Justamente no espaço junto ao piso dos automóveis e caminhões decidiram colocar “petit pavet”, lugar em que um escorregão ou tropeço poderá levar o cidadão a cair na rua.
Essa solução, a pretexto de se preservar imagens antigas, tempo da infância de seus projetistas, gente não tão velha assim, talvez exigisse outros projetos, como, por exemplo, algumas picadas com direito a flechadas e mordidas de onça, afinal, se manter lembranças do passado é tão importante, por quê não retroceder um pouco mais?
Há anos gente como o ex-vereador Antonio Borges dos Reis vem lutando para maior racionalidade e segurança nas calçadas. Aliás, a Revista Paraná em Páginas, dirigida pelo jornalista Cândido Gomes Chagas, já dedicou reportagem de capa ao assunto e a própria Gazeta do Povo tem feito reportagens mostrando o absurdo de nossos passeios. No jornal A Folha da Imprensa, graças a nosso amigo Alcy Ramalho Filho, publicamos diversas opiniões a respeito. Sempre ficamos intrigados, por quê tanta resistência a mudanças que seriam boas para o povo curitibano?
O prefeito Beto Richa parece compreender a importância do assunto, começando, por decreto, a mudar esse padrão. Perguntamos, contudo, vamos desperdiçar dinheiro e implementar um projeto errado na Marechal Deodoro? Será que o narcisismo de alguns vale mais do que a saúde e a segurança do povo paranaense?

Cascaes
4.8.2006

Acessibilidade e comunicabilidade

A humanidade caminha para outro período de loucuras. O reaquecimento da xenofobia, o fortalecimento do racismo e o vigor do fundamentalismo religioso são extremamente preocupantes. O desprezo pelos sentimentos de amor ao próximo chega a níveis absurdos, levando povos irmãos a se matarem por motivos estranhos, incompreensíveis para nós. Temos violências e um tremendo esforço de algumas ONGs para reforçar, entre nós, sentimentos de racismo e de fundamentalismo religioso e político. Felizmente nosso povo ainda se limita à violência convencional, excessiva, mas com perspectivas de solução se escolhermos governantes medianamente competentes.
Entre nós talvez o pior seja, contudo, o fundamentalismo monetarista que dominou o período FHC e agora manda em Lula. Para sustentar uma política econômica radical o Brasil travou seu desenvolvimento e submeteu a nação a constrangimentos incríveis. Pior ainda, aos poucos vamos descobrindo a falta de consistência em propostas de ajustes sociais mais do que necessários.
No Brasil, para confundir o povo, a mídia optou por bandeiras que não prejudicam seus patrocinadores. Assim ganhamos campanhas permanentes em torno do lixo, do mico leão dourado, do jacaré etc e esquecemos, entre outras prioridades mais do que reais, a criança catadora de lixo, por exemplo, afinal ela contribui para que tenhamos um lugar de destaque na reciclagem de latinhas de cerveja.
Se a miséria clássica apenas estimula campanhas de esmola, não convencendo o governo a se esforçar pelo desenvolvimento acelerado, mais do que necessário para que se retire da marginalidade milhões de brasileiros, que dizer do apoio às pessoas com alguma espécie de limitação física, sensorial ou mental?
Um exemplo perfeito da omissão de nossas autoridades existe no transporte coletivo rodoviário. Apesar de leis e decretos e da altíssima capacidade da indústria existente em nosso país, os ônibus para viagens intermunicipais e interestaduais são praticamente inacessíveis a pessoas que usam cadeiras de rodas, idosos, obesos etc. O passageiro é parte da receita. Os bagageiros elevados servem para muito mais, levando os usuários para um segundo andar a que devem chegar por escadas perigosas e estreitas. Acrescentando a má qualidade das rodoviárias e das calçadas ao cenário que apresentamos, veremos porquê a opção pelo transporte individual, sempre que possível.
Além das dificuldades de acesso notamos a falta de recursos de comunicação adequada. Para os deficientes visuais e auditivos o pesadelo é ainda maior. Pouco ou nada existe que facilite a vida desses companheiros. Tudo é feito a favor da “modicidade tarifária”, inclusive excluir discretamente pessoas que não interessam às concessionárias. Na lógica mórbida do vale tudo neoliberal, abandonar o povo à sua própria sorte é uma diretriz sagrada que os dirigentes privados e os sindicatos e funcionários de repartições públicas assumem sem maiores pudores.
Precisamos pensar se de fato acreditamos em Deus, se além de rezar e fazer genuflexões e caminhadas rituais entendemos e aceitamos leis universais, escritas no receituário ético de todo ser humano, se é que isso é verdade...
Precisamos de acessibilidade e comunicabilidade. Acessibilidade e comunicabilidade com o Grande Arquiteto do Universo para não esquecermos a necessidade de se aprimorar nossas instituições, cidades, ambiente de trabalho e lazer, onde todos, sem exceção precisam encontrar lugar para existir com dignidade.
A sociedade moderna se consolida como ambiente de exclusão por motivos esotéricos e materiais, que desastre!
Vamos, no Brasil, para mais um período eleitoral. Graças à miséria os barões do dinheiro e os empoleirados em postos de comando contratam miseráveis para segurar bandeiras e participar de passeatas. Felizmente nesse processo talvez algumas lideranças mais sensíveis apareçam e vençam as eleições. Carecemos de líderes que viabilizem a acessibilidade e a comunicabilidade da nação com os seus chefes para maior visibilidade dos problemas reais de nosso povo.

Cascaes
22.7.2006


Calçadas para turista

Curitiba teima em suas vaidades, nem sempre sadias, vaidades que podem matar.
O problema da qualidade das calçadas, quando existem, é gravíssimo, sendo maior nas ruas de anti-pó, onde não existe obrigatoriedade de se fazer e manter passeios para os pedestres. Em alguns lugares da capital paranaense, o infeliz que precisar caminhar estará disputando espaços com ônibus, automóveis e caminhões, em evidente inferioridade. Em outros lugares, como por exemplo, em uma rua junto à Secretaria de Educação do Paraná, o lugar que deveria ser espaço para caminhar é usado para estacionamento de automóveis. Nesse local temos antipó; esse tipo de pavimentação mostra bem a prioridade que se dá ao trânsito de veículos motorizados, sempre acima da segurança e do conforto de qualquer cidadão.
Nas ruas com piso normal, meio fio e calçadas encontramos inúmeras alternativas de cobertura do espaço para os caminhantes. Via de regra a cidade mostra os pisos irregulares, lajotas de pedra mal colocadas e que facilmente saem do lugar. Em dias de chuva, além de serem escorregadias, escondem bolsas de água que espirram sobre o transeunte incauto que nelas pise sem notar a armadilha aquática e de lama que se esconde por baixo do belo piso rústico, que em algum dia infeliz inventaram para a cidade.
Pior ainda quando raízes de árvores ou trechos usados por veículos desmancham, afundam ou elevam os pisos. Afinal, como dissemos, tudo é mais importante do que o cidadão que anda. Para ele o inferno. Afinal não compra carro, não paga IPVA, CIDE e outros impostos tão necessários aos salários dos funcionários públicos.
Aos poucos, graças à forte pressão da mídia e de algumas lideranças, os ippuquianos criaram alternativas razoáveis para quem precisa andar. Assim vieram as calçadas asfaltadas, tão comuns em lugares tão atrasados quanto é a cidade de Paris. Avenidas e eixos especiais também apresentam ciclovias onde os pedestres teimosamente disputam espaços com as bicicletas. Por que será que todos preferem andar pelas ciclovias, arriscando-se a um atropelamento?
Por efeito de muita pressão, a contragosto, o IPPUC aceitou fazer algumas ruas com “pavers”. Esse é um elemento de pavimentação de calçadas e ruas. É constituído por peças pré-moldadas, feitas de concreto, que depois de acentadas se intertravam graças ao formato e atrito entre as faces laterais. A aplicação do “paver” é relativamente simples, não exige máquinas especiais, é antiderrapante, permite infiltração de água no solo (ecologicamente adequado), tendo cor clara naturalmente melhora a identificação e iluminação, nada impedindo, entretanto, que seja tingido por cores a gosto dos decoradores de cidades. Seus padrões facilitam sinalização horizontal, podem ser fabricados na própria cidade, usam mão de obra simples para instalação e manutenção, e finalmente apresentam custo competitivo com qualquer solução similar.
Curitiba agora tem duas opções muito boas para fabricação de calçadas. Pavers e asfalto podem e devem ser usados em substituição aos famigerados “petit-pavé” e pedras irregulares. Por quê a insistência em esquecer tudo isso e fazer besteira?
A reconstrução das calçadas da Avenida Marechal Deodoro é uma decisão lúcida e oportuna do prefeito Beto Richa. Aquele é um circuito de altíssima densidade de pedestres a quem o prefeito deve dar prioridade absoluta. Qualquer outra diretriz de reforma deve ser deixada de lado naquele circuito, pois ali a número de caminhantes exige espaços que já são pequenos. Infelizmente as ruas não são de borracha, mas o trânsito cresce sem parar.
Em cidades servidas por linhas de metrô constroem-se avenidas subterrâneas onde os usuários do metrô caminham entre estações, avenidas sem conflito com qualquer espécie de obstáculo. Curitiba, que já deveria ter sua primeira linha metroviária funcionando, ainda depende totalmente do trânsito de superfície; nessas condições nada mais justo e saudável do que se investir em calçadas mais e mais largas, seguras, sem obstáculos, antiderrapantes e feitas acima de tudo para o conforto e segurança do cidadão curitibano.
Calçadas para serem bonitas são feitas para turistas, podemos construí-las nos parques e praças da cidade. Nos lugares onde o povo de Curitiba caminha para ir e vir do trabalho, escola, igreja etc elas devem ser seguras, antiderrapantes etc. Além da dependência das próprias pernas, muitos ainda precisam de cadeiras de rodas, bengalas e outros recursos; seria crueldade criminosa reformar a cidade esquecendo tudo isso.

Cascaes
4.7.2006


Sensibilidade formal

O ser humano é um animal em provável evolução. Talvez devêssemos dar crédito ao “creacionismo” e acreditar que somos um produto acabado que não terá retoques exceto mudanças de softwares e dados em nossos cérebros. Acreditando na teoria da evolução veremos que mudamos muito do ponto de vista material, descobriremos que há muito pouco tempo, relativamente, saímos das florestas e que há poucos séculos praticávamos atos de pura selvageria explícita sem grandes constrangimentos. Em nome de Deus as pessoas eram torturadas e queimadas, o que ainda acontece em alguns lugares desse planeta, talvez com deuses terrenos, e em todos os lugares para a conquista de bens materiais e poder.
Podemos observar a insensibilidade das pessoas nas cidades, no exercício do poder, ou melhor, descobrir como a sensibilidade formal e hipócrita se manifesta retardando processos que todos precisam para viver melhor. Felizmente já descobrimos o que é necessário para um grande avanço de convivência, principalmente nas cidades. Graças ao processo democrático e principalmente ao exercício das três propostas clássicas de existência social (liberdade, fraternidade e igualdade) que a Revolução Francesa e a norte americana colocaram em evidência, ainda que de forma pouco sincera, temos diretrizes excelentes para construção da democracia, da vida comunitária.
Ganhamos leis e instituições para o disciplinamento da vida humana. Tudo isso possibilitou o surgimento das grandes nações. Nos países mais desenvolvidos temos constituições e muitas leis formando monumentos respeitáveis de lógica humanística, em constante transformação, nem sempre, contudo, a favor do progresso ético, moral e filosófico de seus povos, entendendo-se por isso todo o esforço de se criar uma sociedade justa e perfeita.
Não precisamos ir longe para entender o processo de construção da sociedade.
Em Curitiba vivemos como parte de um laboratório excepcional. É uma cidade com tradição de discussão das questões urbanísticas e sociais. Em conseqüência de sua história tem muito a contar e mostrar. Apesar de tanta cultura possui aberrações, contradições que surgiram principalmente no cacoete demagógico de alguns de seus líderes.
Na capital curitibana, por exemplo, encontramos alertas e lombadas avisando que radares registrarão o não respeito a velocidades de automóveis que são as máximas permitidas dentro das cidades, ou seja, temos o direito de perguntar, no resto do trajeto pode - se desrespeitar as leis que limitam essa loucura? Em Curitiba também veremos junto ao Ministério Público do Paraná um trecho de calçadas junto à Avenida Marechal Floriano Peixoto em que os postes praticamente impossibilitam o trânsito de cadeirantes e põem em risco os pedestres normais, pois além dessa “qualidade” ainda são feitas de pedras irregulares, mas na esquina descobriremos rampas na conjunção do piso dos carros com as calçadas... De que valem o Estatuto do Idoso, do Portador de Deficiências etc?
Felizmente não existe mais segredo técnico e conceitual para o que é necessário a uma vida urbana melhor. Ninguém duvida da importância de certas soluções e ajustes para os equipamentos urbanos, para o cotidiano da vida de todos nós. Não é impossível resolvê-las principalmente diante do anúncio de projetos milionários, gastos em publicidade, perfumarias e em estruturas caríssimas, lamentavelmente pouco eficazes.
O maior poder em qualquer cidade é o seu prefeito, o único administrador urbano eleito, portanto consagrado em processo democrático. Dele esperamos vontade para resolver questões que entendemos serem mais do que necessárias. Se por omissão ou incompreensão dessa autoridade os pesadelos continuam, nada mais justo do que procurar outras instâncias para ação. Afinal somos, todos os indivíduos, cobrados a agir pró -ativamente e como agentes de fiscalização, principalmente quando questões mais severas surgem incomodando a população em geral.
A grande barreira é, entretanto, a frieza daqueles que são pagos pelo povo para resolver questões de interesse geral. Graças à gente mal educada viveremos durante muitos anos em condições muito piores do que seria compreensível e inevitável. Afinal, o ser humano é realmente um animal racional, social e sensível às necessidades do próximo?

Cascaes
1.7.2006

Soluções desumanas

A compreensão da importância da vida de todos os seres humanos é algo que parece antinatural. A visão que se tem é a de que reproduzimos selvas em nossas cidades, onde desafiamos todos a sobreviverem contra uma série de armadilhas feitas sob o pretexto de se valorizar a estética, o design, a velocidade, a lucratividade de alguns setores da sociedade. A sensibilidade é acima de tudo lúdica e a alienação é o padrão que descobrimos na grande maioria das pessoas sob qualquer pretexto. Em nosso país ainda temos o culto à covardia agravando comportamentos de cidadãos que poderiam ser mais eficazes, mas terminam se escondendo em seus clubes, casas e ambientes de trabalho. A falta de respeito ao ser humano é um espanto, principalmente para aqueles que seremos um dia, se vivermos o suficiente, idosos, portadores de restrições sensoriais, motoras, mentais etc.
Curitiba tem uma tremenda responsabilidade. É uma cidade considerada modelo de urbanização. O que é feito na capital paranaense e por extensão no estado é visto como exemplo de qualidade positiva. Isso significa que os habitantes desse estado e de sua capital precisam estar atentos ao que decidem fazer em comunidade.
Assim não se justifica a péssima qualidade da maioria das calçadas, onde caminhar é um desafio de sobrevivência. Será que nossos vereadores e o prefeito não percebem que os passeios são circuitos de pessoas que precisam caminhar, ou seja, boa parte dos seus eleitores? Pisos irregulares, derrapantes e até inexistentes onde temos o lamentável anti-pó, idéia infeliz de algum administrador de nossa cidade em algum tempo do passado.
Temos leis, normas e tudo o mais, falta a quem decide nesta cidade de Curitiba vontade real de resolver questões que merecem prioridade, relegadas, contudo, ao terceiro plano, pois as elites querem outras soluções como, por exemplo, facilidades para seus automóveis.
O transporte coletivo urbano é um exemplo mais do que evidente da falta de cuidado. Os ônibus superlotados, freqüências ruins, manutenção precária e carregando as pessoas como simples mercadorias de baixo valor demonstram a desatenção para o povo.
Não podemos esquecer que a primeira coisa que os eleitos ganham é o direito de usar o transporte individual, com ajudas de custo substanciais (vejam nossos deputados) ou carros e motoristas prestativos. Seria de extremo valor didático e pedagógico que todos os eleitos, inclusive nosso presidente da república, tivessem a semana da vida no padrão dos seus governados. Durante alguns dias deveriam caminhar, usar o transporte coletivo, enfrentar as filas do INSS, entrar nas rodoviárias etc. Com certeza o Brasil seria melhor se o crescimento político não conduzisse a um afastamento da vida do povo que dizem defender e representar.
Temos exemplos flagrantes da falta de respeito ao cidadão comum. Nada melhor do que olhar com atenção os ônibus dedicados ao transporte interurbano. Neles veremos que a acessibilidade é um desafio para os mais saudáveis. Nossos ônibus, que trafegam entre cidades do estado e interestaduais, não podem ser utilizados pelos cadeirantes, a menos que os motoristas ou passageiros mais prestativos os levem no colo para dentro ou para fora dos carros.
As rodoviárias, locais de trânsito do brasileiro menos rico, são locais, com raras exceções, mal cuidados, pessimamente policiados, hostis a qualquer cidadão, quanto mais para os portadores de deficiências. A desculpa é sempre a mesma, falta de recursos que aparecem em abundância na mídia das empresas e dos governos.
Em todas as eleições os candidatos aparecem com imagens bonitas, cativantes. Depois ganhamos lógicas ditadas por grupos ocultos ou explícitos de poder, gente totalmente dissociada das necessidades do cidadão brasileiro. Continuamos a sustentar a agiotagem e a especulação mundial, ficando sem recursos para a saúde, segurança, transporte, energia e tudo o poderia fazer do Brasil uma grande nação. Temos problemas grandes, mas também criamos dificuldades mórbidas que poderiam ser corrigidas aqui mesmo. Lamentavelmente não temos lideranças realmente preocupadas com o povo.

Cascaes
28.5.2006


Consciência a favor do pedestre

A participação de qualquer cidadão na vida de uma cidade é algo que varia em função da consciência que tiver em relação à comunidade em que viver, refletindo-se no respeito ao povo em que estiver inserido. As cidades modernas são espaços de coexistência que se transformam à medida que crescem, tornando-se, em nosso caso, ambientes em que os veículos motorizados ganham importância e prioridades, impondo ao povo cuidados que são cada vez mais necessários.
O veículo motorizado revolucionou a humanidade. A antiga tração animal, que enchia a cidade de excrementos e tinha uma capacidade reduzidíssima, foi substituída pelos motores que movimentam automóveis, ônibus e caminhões, além de uma coleção de outras formas de transporte individual e coletivo. Com os carros conquistamos mobilidade e velocidade de deslocamento. Infelizmente também ganhamos restrições e padrões de vida nem sempre saudáveis.
A preocupação em ganhar tempo (via de regra mal aproveitado ao final da corrida) estimula deslocamentos mais e mais rápidos. Raramente os motoristas aproveitam o potencial de seus veículos no lugar certo, de forma adequada. A velocidade parece ser a marca de gente que aprendeu a correr sem se preocupar com o perigo que isso possa representar a terceiros. Tem-se pressa para não fazer nada.
A saúde do indivíduo depende de uma série de fatores que precisam ser ponderados. Hábitos de higiene, restrições em função de doenças, ruído, gases, comportamentos adequados são necessários para que todos tenham o máximo de segurança e qualidade de vida. Andar é preciso para não nos transformamos em seres quadrados, sem capacidade de deslocamento livre de máquinas. Dizem os evolucionistas que o ser humano surgiu quando o macaco abandonou as árvores, quando aprendeu a caçar e a se defender. Acima de tudo conquistou o formato humanóide ao se fazer bípede. Ou seja, ao aprender a caminhar sobre braços que aos poucos se transformaram em pernas.
Andar era uma forma normal de deslocamento. Há meio século era comum caminhar muitos quilômetros para as rotinas diárias. Ganhamos os automóveis, motocicletas, ônibus e agora passamos a maior do tempo sentados.
Seria importante poder caminhar sem a necessidade de se procurar algum parque distante. Por quê não?
As regras de construção reservam espaços para as calçadas. Usá-las como?
As calçadas ganham importância à medida que se caracterizam como circuito exclusivo de pedestres, deixando-se as ruas para os carros motorizados. A convivência exige segregação, pois o tamanho e a velocidade dos veículos não permitem o uso comum das pistas.
Nossas leis curitibanas colocam no proprietário do imóvel a responsabilidade pela calçada(s) que deva existir nas fronteiras de seus terrenos junto às ruas. Qual é o resultado?
Curitiba deve ter mais de quatro mil quilômetros de ruas, avenidas, alamedas, caminhos em que automóveis, caminhões, carroças e outros veículos convivem com pessoas que precisam caminhar. Isso significa a existência de, talvez, algo em torno de dez mil quilômetros de passeios. Esses caminhos, por efeito de leis obtusas, em muitos lugares são simples áreas de mato, buraco ou pisos irregulares que fazem do caminhante curitibano um ser curvado, aparentemente alheio ao que existe em volta exceto o lugar onde pisa.
A cidade precisa de cidadãos livres. A liberdade também é segurança, mobilidade para todos. Para poder andar, passear, sentir a cidade o curitibano carece de uma revolução a favor do pedestre. Nas últimas eleições o lobby contra os radares foi eficaz; para as próximas, será que conseguiremos eleger um prefeito e vereadores que se preocupem com os pedestres?

Cascaes
20.5.2006


Rodoviárias e a acessibilidade

Temos leis garantindo o respeito aos portadores de deficiências. Uma delas, de autoria do deputado César Seleme, determina que os prédios públicos do estado do Paraná tenham garantido a acessibilidade ao portador de deficiências. Isso acontece?
O transporte interurbano é um dos recursos essenciais à nossa vida regular, importante para qualquer cidadão. Principalmente aqueles que moram em locais distantes, a possibilidade de viajar, de chegar a um centro urbano maior onde terá assistência médica e outras necessárias à sua sobrevivência é algo fundamental à sua vida.
Viajando pelo interior do Paraná vemos todo tipo de estação rodoviária. Algumas realmente são mal projetadas, mal mantidas e operadas. São instalações importantes, mas que, talvez por atenderem basicamente gente humilde, não cativam nossas autoridades. Com algumas exceções percebe-se nitidamente que o desleixo é a regra, mais ainda quando lembramos as dificuldades que muitas pessoas têm de se locomover, problemas que a idade, acidentes, doenças etc criaram.
Pior ainda são os ônibus. De modo geral não oferecem condições de acesso digno. Como um cadeirante consegue entrar e sair de um ônibus do transporte interestadual ou entre cidades do estado do Paraná?
Nosso país é digno das comédias e tragédias que desde os tempos gregos vêm ilustrando o comportamento humano. Temos estatutos, leis e muito discurso, mas vemos o desrespeito ao cidadão comum em todos os detalhes da vida cotidiana. Das calçadas aos ônibus, o desprezo é total. O indivíduo só começa a ser visto quando se torna dono de algum automóvel, a partir daí vemos os cuidados dos prefeitos e demais autoridades, sempre zelando pela qualidade e segurança das ruas e estradas...
Falando dos ônibus, há como torná-los melhores e mais confortáveis aos seus usuários. Com certeza enfrentam a concorrência do transporte aeroviário, mais ainda quando as promoções afundam as tarifas. Neste cenário os empresários poderiam se unir para corrigir seus veículos e fazer dos pontos de parada, inclusive e principalmente as rodoviárias, locais de maior qualidade. É difícil de entender a omissão desses empresários, pois sabemos que lutam para competir com outras modalidades de transporte.
Temos, naturalmente, como diretriz de competição a redução de custos, poderia ser maior a ênfase na qualidade, na disputa pelo melhor serviço.
A acessibilidade é um problema não apenas para aqueles que visualmente demonstram dificuldades de locomoção. Muitas pessoas, principalmente as idosas, sentem em suas articulações a agilidade perdida e a necessidade de equipamentos mais funcionais. É um espaço de criatividade que nossos projetistas e arquitetos raramente dão atenção. Parte-se do princípio de que todos estão no uso pleno de suas capacidades físicas e mentais e usam-se exemplos ruins, como podemos ver em abundância na nossa capital federal, e daí fica prevalecendo a estética em detrimento da segurança e necessidades elementares dos brasileiros.
O estado do Paraná prima pelas suas posições a favor do cidadão. Aqui temos instituições, ONGs e outras formas de apoio aos portadores de deficiências. Nossas cidades são vistas como exemplo de urbanismo. Tudo isso aumenta a responsabilidade dos nossos políticos e empresários. O que precisa ser feito para consolidar essa imagem de cidadania?
Com certeza o transporte interurbano é um recurso que atende um direito básico estabelecido em nossa constituição federal. O direito de ir e vir é firmado como uma condição de liberdade, fundamental a qualquer cidadão. Para que isso aconteça, contudo, precisamos aprimorar nossos sistemas de transporte coletivo. No deslocamento individual, para quem pode, há sempre alguma maneira de se fazer as coisas se o indivíduo tiver dinheiro, já quando se depende do governo, de concessionárias, as coisas se complicam diante de outras prioridades, nem sempre sensatas e justas.
Vale o desafio ao Ministério Público, qual é a real obrigação dos administradores públicos em relação às leis já aprovadas e relativas aos portadores de deficiências?

Cascaes
26.4.2006

Calçadas, uso e função

Terminamos o ano de 2005 com a esperança de que finalmente teremos um prefeito realmente preocupado com as calçadas de Curitiba. Inexplicavelmente os alcaides anteriores pouco ou nada fizeram para que esses circuitos de trânsito do povo da capital do estado se transformassem em vias seguras e integradas às necessidades urbanas.
Temos ruas asfaltadas, sinalização para os motoristas, espaços de estacionamento, guarda de trânsito e não temos fiscais e orientadores para o trânsito dos pedestres. Talvez essa omissão aconteça porque as pessoas mais ricas e a classe média usam automóveis, dispensam os passeios. A população restante, maioria na vida urbana, vive como pode, tão prejudicada em tudo o que fazem que as calçadas se transformam em problema secundário. Afinal têm dificuldades para morar, estudar, rezar etc.
O envelhecimento da população, contudo, e a necessidade de caminhar por motivos de saúde, está levando muita gente, que antes desconhecia os passeios, a andar. Editorial da Folha de São Paulo da edição do dia 29 de dezembro diz que 52% das vítimas de acidentes de trânsito na capital paulista no primeiro semestre de 2005 (714 mortes) eram pedestres. Dos pedestres mortos, 31,5% tinham mais de 60 anos - faixa etária a que corresponde apenas 9,6% da população brasileira. Só esses números mostram a gravidade e o alvo maior da falta de atenção ao pedestre. As vítimas maiores são aquelas que o motorista alienado despreza, que outros nem se lembram que existem, e que os responsáveis pelas calçadas ignoram solenemente.
Em Curitiba, por exemplo, o desrespeito pelo transeunte é flagrante na Vila Isabel, na região próxima à Avenida Arthur Bernardes. Revendedores de carro de luxo e outros resolveram dedicar as calçadas internas ao bairro para estacionamento de carros de clientes, de funcionários e de veículos para venda. Em alguns lugares, como é o caso da esquina entre as ruas Wenceslau Glaser e Ulisses Vieira, a guia rebaixada prolongada leva os motoristas a estacionar perpendicularmente à calçada, bloqueando completamente a passagem do pedestre. Naturalmente o policiamento de trânsito não pode manter plantão no local, assim a má educação se consolida e estimula outros analfabetos urbanos a agirem da mesma maneira.
Podemos e devemos lembrar que as calçadas devem ser espaço para trânsito de pedestres e não lugar para barraquinhas, orelhões, lixeiras, canteiros e muito menos para estacionamento de carros. E elas devem ser feitas de material adequado, serem bem conservadas, acima de tudo precisam garantir segurança a quem precisa caminhar.
Curitiba é considerada cidade modelo de urbanização, precisa aprender a ser padrão de excelência em urbanidade. Infelizmente nem sempre isso se consegue com bons modos. A legislação precisa ser aprimorada e vir a ser mais enérgica contra aqueles que, imprudentemente, colocam a vida dos outros em risco. Nada mais doloroso do que perder algum ente amigo em algum acidente. É um fato inesperado, que pega de surpresa aqueles que ficam para contar a história. Obviamente pior para a vítima e seus dependentes.
A administração municipal tem uma tremenda responsabilidade sobre o que acontece nas cidades. Indiretamente, por ação ou omissão, são co-responsáveis pelos desastres que deixam, todo ano, milhares de brasileiros nos cemitérios ou aleijados, com restrições para o resto da vida. Muitas são as razões para tanta desgraça, mas, com certeza, a existência, a qualidade e o uso das calçadas é um dos principais fatores de segurança em nossas vias urbanas. Aprendemos a cuidar criteriosamente das pistas para automóveis, esquecemos os seres humanos que andam, que dependem de suas pernas para irem de um lugar ao outro.
Não podemos esquecer, calçada é o lugar em que o cidadão comum anda e nela precisa de segurança, merecendo tanto quanto se pretende para motoristas, a quem as autoridades dedicam tradicionalmente tanta atenção.
Cascaes
29.12.2005


Tombando no tombado

Tudo pode ter sua graça. Um brasileiro famoso morreu caindo dentro de um vulcão italiano, virou referência de acidente. Tem gente que se atrapalha com a própria dentadura, outros desmancham cadeiras por serem muito pesados. Humor negro ou não, ganhamos situações que podem até servir para imagens cômicas se alguém estiver com uma filmadora ligada e captar a cena desajeitada. Aliás, as pegadinhas espontâneas são autênticas aulas de segurança pois ilustram acidentes em ambientes em que todos deveriam ter segurança.
Preservação de imagens é algo que certamente poderá vir a ser um pesadelo urbano, se o mundo continuar mudando e a população crescendo. Naturalmente gostamos de lembrar cenários do passado. Quanto mais velhos, mais saudosistas, afinal é bom saber que em algum tempo no passado tínhamos tudo no lugar. A memória, eventualmente, poderá querer reproduzir coisas ruins. Com certeza muitos nazistas ainda se lembram com tristeza da perda dos seus tempos de glória. Eles provavelmente gostariam de tombar seus canhões e fortalezas...
No século passado a humanidade vivenciou mudanças tecnológicas surpreendentes. Tudo se transformou e todas as ciências e artes passaram por momentos especiais, alguns pouco funcionais, outros completamente malucos, todos eles mostrando a personalidade do artista, do intelectual, engenheiro, arquiteto etc.
A cidade de Curitiba viveu essas mudanças, a maior delas foi o crescimento populacional, em alguns momentos completamente desordenando, mal administrado. Assim ganhamos favelas e o agravamento do trânsito. Não temos um sistema complementar ao transporte coletivo convencional, prometendo um agravamento considerável em poucos anos.
Curitiba é uma cidade relativamente nova. A partir da metade do século vinte ganhou expressão e qualidade de vida, chegando ao nível atual, onde é considerada modelo de urbanismo. Ótimo mas nos deixa exigentes e preocupados com as lições que estivermos transmitindo.
Um aspecto importantíssimo é o respeito aos idosos, aos portadores de deficiências, àqueles que por qualquer razão precisam de alguma atenção maior para se sentirem seguros e livres.
Com certeza um pesadelo curitibano é a qualidade das suas calçadas. Mal projetadas, mal feitas e pessimamente utilizadas. Alguns donos de banca de revistas, por exemplo, devem ter padrinhos fortes pois simplesmente tiram boa parte da capacidade desses passeios com suas barracas. Postes e árvores inadequados são outro problema que se junta a orelhões, constituindo um conjunto de objetos que deve ser um pesadelo para qualquer deficiente visual ou dependente de cadeira de rodas.
Lei burra estabelece que o proprietário do terreno é responsável pela calçada em frente ao seu imóvel, o asfalto da rua, para os automóveis, não. Ou seja, o indivíduo motorizado tem o conforto da atenção prioritária da prefeitura, para andar deverá encontrar o dono do terreno e cobrar dele a atenção que não presta ao cidadão curitibano.
Mais ridículo que tudo isso é o tombamento das calçadas com o polêmico “petit pavé”. Essas porcarias, escorregadias, irregulares, são a base das principais calçadas de Curitiba, agredindo o direito de poder andar com segurança de qualquer cidadão. Não ocorreu aos planejadores que o desenho desse pavimento poderia ser reproduzido em calçadas não derrapantes, seguras. E dizem que têm rampas, sim, em dias de chuva não são rampas mas locais perfeitos para se levar um tombo pois ficam tremendamente escorregadias. O que se conclui é que nossos administradores só andam pela cidade em época de campanha eleitoral. E os planejadores, usuários de automóveis e freqüentadores de shopping centers ou das pistas para pedestres dos parques curitibanos, desconhecem ou nunca sentiram as dificuldades de caminhar numa cidade mal planejada para os portadores de deficiências, isso é Brasil!
Talvez tenha alguma graça cair em calçadas tombadas, quem sabe alguém entre para a história curitibana desta maneira...

Cascaes
15.6.2005


Calçadas, calçadas e calçadas

Como é bonito fazer seminários, falar difícil, escrever artigos técnicos. Em torno das lógicas de urbanismo encontramos gente que vive de complicar o óbvio. Entra ano e sai ano, prefeitos e vereadores mudam e os problemas continuam porquê simplesmente não se aceita o óbvio ou as prioridades são outras, menos o conforto e a segurança do povo.
Estatísticas recentes mostraram quantos brasileiros caminham. É um número grande e seria maior se esses estatísticos tivessem considerado como pedestres aqueles que utilizam o transporte coletivo urbano. Por uma incrível doença matemática e conceitual talvez os nossos urbanistas imaginem que aqueles que utilizam ônibus saiam voando de casa ou do trabalho diretamente para os terminais e portas dos ônibus.
Quem usa o transporte coletivo é “inferior”, inculto, não merece a atenção dos sócios dos clubes grã-finos. Deles costumam ser objeto de campanhas do “agasalho”, da “sopa” ou outro tipo de esmola. Afinal os mais ricos querem ir para o céu. Os pobres, por quê são pobres? Alguns dirão insensatamente que são preguiçosos, ou simplesmente virarão as costas alegando que isso não é problema deles. Contra os miseráveis existe a polícia.
Felizmente mais e mais gente atinge a terceira idade. Indivíduos que desfilavam pela cidade em seus carros começam a usar o transporte coletivo. Os obesos, cardíacos e outros que precisam caminhar e não podem ou não conseguem chegar aos passeios dos parques e clubes, também usam as ciclovias e calçadas para andar e recuperar a saúde. Assim, aos poucos redescobre-se a importância de algo que nos tempos das carroças ou quando automóvel era exceção poderia ser esquecido.
Crise na lavoura, milhares de pessoas fugindo para as cidades. Por quê não se criar frentes de trabalho e entre as opções de serviço não colocar essa gente para fazer e refazer os passeios?
É bom lembrar que os saudosos governador José Richa e prefeito Maurício Fruet tiveram a sensibilidade de procurar projetos que absorvessem os contingentes humanos que chegavam às cidades, graças à crise do início da década de oitenta. Assim criou-se trabalho para gente que, de outra forma, teria dependido de esmolas para sobreviver.
Podemos criar rapidamente um imenso programa de construção de calçadas e ciclovias para gerar trabalho, ocupação e qualidade de vida. Naturalmente seria melhor se em paralelo existisse um programa de habitação popular proporcional a nossas necessidades, infelizmente o time do Banco Central não deixaria isso acontecer pois produziria inflação e seus salários poderiam diminuir...
Caminhar é saudável (quando não se é assaltado, atropelado, ou quando não se cai dentro de algum buraco ou se escorrega em alguma pedra maldita...). Substitui-se muito remédio andando, pois nosso corpo não foi feito para ficar parado, sentado e engordando.
Vivemos numa sociedade que perdeu consciência (ou nunca teve) da importância de usar as pernas.
Descobrimos o efeito estufa, os gases e a necessidade de deixar os carros em casa.
O transporte coletivo é a alternativa mais imediata para os longos deslocamentos, bicicleta e caminhar é o lógico para os trajetos médios e pequenos.
Em Curitiba centenas de milhares de automóveis transportam a metade do que se desloca nos menos de dois mil ônibus a serviço do povo. E tudo é feito para o automóvel, até radar.
O novo prefeito de Curitiba, filho de um grande governador do estado do Paraná, ex prefeito de Londrina, senador da república, começa sua administração amadurecido, sabendo dessas coisas. Não tem o direito à ignorância nem precisa se deixar dominar por tecnocratas sempre insensíveis aos problemas do povo mais humilde. Lembrando que as calçadas, de um modo ou de outro, são necessárias a todos os curitibanos, esperamos que o prefeito Beto Richa não vacile e comece de imediato o maior e melhor programa de construção e recuperação (de acordo com técnicas melhores) de passeios que a capital curitibana jamais teve.


Cascaes
20.3.2005

Velocidade e cidadania

O abuso dos motoristas é algo inacreditável ou, talvez, compreensível diante da ignorância de nosso povo. O assunto é gravíssimo, deixando anualmente quase meia centena de milhares de brasileiros no cemitério, fora aqueles que aleija permanentemente. Perdemos bilhões de reais todo ano, lembrando aos economistas e políticos que a vida tem custo.
Inexplicavelmente a indústria automobilística oferece carros mais velozes e silenciosos num país com estradas de péssima qualidade. Esses veículos evoluem trazendo mais segurança para os seus usuários mas nada oferecem para aqueles que estão do lado de fora. Ao contrário, deixando-os nessas condições, estimulam os malucos a correrem pelas ruas, nosso principal problema urbano.
A defesa do cidadão comum é o policiamento. Para isso a eletrônica e a informática viabilizam sistemas tremendamente eficazes. O que acontece em nossa terra? Inibe-se a vigilância eletrônica, chegando-se ao absurdo de determinar por lei a sinalização dos locais em que ela exista. As leis podem ser transgredidas fora desses pontos de vigilância?
Fala-se em indústria das multas, não seria melhor realizar uma investigação técnica e policial nesse sentido?
A maior parte da população de qualquer cidade, com ou sem metrô, anda, não usa automóveis. Com a tendência de aumentar a idade média dessa gente, as ruas terão mais idosos. Hoje mostram mais crianças e jovens. Nesses dois extremos, crianças e idosos, atravessar uma rua pode ser um desafio difícil e perigoso. Nem todos escutam ou enxergam bem. Alguns podem ter, inclusive, restrições mentais. Essas pessoas não têm direito à segurança?
Infelizmente a demagogia domina as administrações políticas. O que é antipático, ainda que necessário, transforma-se em discurso e programa de governo remover. O resultado é a violência urbana.
Curitiba tem ruas consideradas expressas. Algumas avenidas possibilitam velocidades absurdas. O policiamento de trânsito preocupa-se mais com o estacionamento em lugar proibido do que com o controle do trânsito. Não temos passarelas ou passagens subterrâneas para pedestres. Graças aos radares, contudo, percebia-se uma redução na velocidade dos automóveis pela cidade. Será que essa lógica será mantida? Tudo indica que não pois descobre-se que aumentarão a sinalização indicativa de vigilância eletrônica e ela é retirada de alguns lugares, por quê?
Os brasileiros não são melhores ou piores que outros povos. Podemos ver nitidamente que o controle dos excessos viários, mesmo em países com altíssimo nível educacional, baseia-se principalmente no policiamento e leis enérgicas contra o abuso ao volante. Paralelamente descobre-se nos países mais ricos a progressão dos sistemas eletrônicos, eles permitem maravilhas. Graças a isso em muitos países as estatísticas de acidentes são reveladoras de um grau de segurança espetacular.
Percebemos quanto a agressividade das cidades é perturbadora quando temos filhos. Qual é o pai que dorme tranqüilo quando seus filhos saem de casa? Em Curitiba esse problema é agravado pela péssima qualidade de nossas calçadas, quando elas existem. Onde são melhores é porquê foram feitas para serem ciclovias. O pedestre curitibano apropriou-se das pistas para ciclistas, prefere ser atropelado por eles a escorregar, tropeçar, cair em alguma calçada feita pelas famigeradas “pedras irregulares”, quando não é obrigado a disputar espaço com carros e ônibus nas ruas com anti pó.
A pressa em atender os motoristas sem contrapartida para o pedestre mostra a personalidade de um governo. Ou a imaturidade dessas autoridades ainda precisa de tempo para transformar-se em consciência da importância de projetos que, ainda que hostilizados por alguns, são importantes para todos nós. O drama desse processo é que ele cobrará um saldo de mortos e feridos até que a onda automobilística passe.

Cascaes
11.2.2005

Calçadas e anti pó

Decisões urbanísticas acontecem sob visões técnicas, econômicas e políticas. Elas refletem a maturidade cívica dos responsáveis pelas cidades e a sensibilidade que tiverem em relação à importância do cidadão comum e, inevitavelmente, das elites dominantes. As razões e prioridades atendem sentimentos e pressões nem sempre saudáveis, formam, contudo, a dinâmica da grande tribo que é uma cidade.
O século vinte pode ser qualificado como sendo o do império do automóvel. Esse veículo motorizado, barulhento, perigoso, começou o século passado como curiosidade, logo assumiu símbolo de status e chegou aos nossos tempos como instrumento de trabalho, equipamento quase essencial a nossas atividades. Nessas condições foi mais do que lógico ver, gradativamente, as cidades se transformarem em espaços dedicados aos carros motorizados, em detrimento dos seus habitantes.
A inversão de prioridades, contudo, é algo ruim para a sociedade. Por efeito desse processo o transporte coletivo urbano perdeu qualidade e as cidades se transformaram em ambientes hostis ao indivíduo que não pode utilizar o transporte individual.
Em Curitiba um exemplo dessa diretriz é o “anti pó”. Nesse padrão de pavimentação não se faz meio fio nem se exige a construção de calçadas. Pretende-se, dessa forma, reduzir custos e viabilizar a pavimentação de mais ruas. Ótimo para os carros, ruim para o pedestre.
Na capital paranaense temos ruas de movimento intenso com “anti pó”. Algumas delas são circuitos de ônibus e caminhões. Agravando tudo isso, em diversos locais estreitos (Fazendinha por exemplo), entre barrancos e buracos, o pedestre não tem outra opção apesar de morar em conjuntos habitacionais (demanda enorme de transporte concentrada) e depender dos ônibus. Ou seja, o indivíduo que precisar caminhar por esses circuitos estará sob elevado risco de atropelamento.
Precisamos ponderar muita coisa, principalmente quando nossas decisões afetam a segurança de terceiros. Não é justo expor a vida de idosos, crianças, cidadãos comuns.
Uma cidade que atinge uma população elevada precisa rever padrões. Isso significa a necessidade de maior atenção com a impermeabilização do solo, taxas de ocupação, drenagem, água, lixo, esgoto; até cemitério vira problema. Cada item é assunto para muita discussão. Felizmente a população curitibana tem feito boas opções.
É ruim, péssimo, contudo, o cenário “calçadas”.
Uma série enorme de equívocos faz com que nossas ciclovias (onde existem) sejam realmente os passeios preferenciais, onde, apesar de se disputar espaço com ciclistas, nem sempre bem educados, podemos andar sem ficar olhando para o chão ou cuidando para não virar tapete de automóvel.
Curitiba orgulha-se de seu transporte coletivo. Ônibus modernos, carrocerias otimizadas e catracas eletrônicas somam-se a terminais, canaletas e estações tubo para melhor atender sua população. Isso faz da cidade um modelo num Brasil mal construído e pessimamente educado. Falta pouco para podermos ver nossos ônibus servindo com dignidade nossos cidadãos.
Uma cidade servida por sistema subterrâneos ou elevados de metrô tem circuitos protegidos de acesso e integração. Caminha-se muito entre estações sem o risco de atropelamento. Pode-se, nessas metrópoles, transitar pela cidade sem medo de atropelamentos, exceto em casos especiais de demência de motoristas ou de quem anda sem qualquer atenção.
Podemos e devemos, não podendo implementar sistemas mais caros e eficazes de transporte, investir naquilo que torna o sistema existente mais capaz.
As calçadas complementam o transporte coletivo urbano, melhoram a vida da população e reduzem acidentes. Por quê em Curitiba nossos planejadores insistem em desprezá-las? A existência de ruas importantes com anti pó e sem calçadas é um dos exemplos mais completos do desprezo pelo ser humano, pelo cidadão mais humilde, incapaz de comprar e usar os belos e agressivos automóveis.

Cascaes
21.1.2005

Cidades e responsabilidade social

A irritação de motoristas contra a vigilância às suas loucuras e o espaço que esses indivíduos ganharam mostram a inversão de prioridades em nossa sociedade. A impressão que se tem é a da existência de dois tipos de cidadãos, aquele que dirige e aquele que precisa caminhar. O resultado dessa loucura é a prioridade do asfalto. As calçadas se transformaram em pistas de obstáculos, ainda que absolutamente necessárias para não ser atropelado impiedosamente pelos ônibus, automóveis, caminhões e outras máquinas que transitam pelas nossas ruas. Outro efeito dessa situação, reforçado pela omissão de nossos governantes em relação à segurança, é a opção pelos shoppings centers. Se antigamente eles eram mal vistos, agora simplesmente moram no coração de todos os cidadãos, assustados com as ruas onde além de guardadores e as travessuras do clima, precisam escapar de buracos, barreiras, escorregões, poças d’água, atropelamentos, assaltos, seqüestros etc.
A discussão em torno das calçadas é emblemática. Elas são absolutamente necessárias a quem depender do transporte coletivo urbano, o que significa pelo menos a metade mais pobre dos habitantes de nossas monstrópolis. Tem a mesma importância dos ônibus com todos os seus recursos técnicos e terminais de integração, onde multidões correm de um lado para o outro na esperança de encontrar algum transporte nas horas mais difíceis do nosso trânsito.
A mobilidade é condição de sobrevivência numa sociedade que afasta cada vez mais o trabalhador dos seus pólos de serviços. A falta de um programa habitacional decente é um pesadelo que ainda não acordou nossos presidentes. Eles preferem a mídia fácil da esmola ou da prosa extraída de alguns sucessos do Plano Real do que enfrentar os grandes desafios nacionais.
Se a necessidade de transitar é vital a todos nós, por quê os prefeitos relutam tanto no empreendimento de programas de construção e conservação de passeios públicos? Será que não comove esses cidadãos o número de atropelamentos, os acidentes simplesmente caminhando em calçadas esburacadas cujos donos irresponsáveis pouco se ligam às necessidades de quem existe fora de seus muros?
Conhecendo a história das calçadas curitibanas descobrimos que elas foram motivo de preocupação de legisladores e administradores para criar espaços de permeabilidade, produzir empregos para os lascadores de pedra e calceteiros, lugar para plantar árvores ou marcar faixas de orientação de turista. E os moradores da capital?
Alguma coisa tem sido feita. Graças à visão da necessidade de ciclovias, os andarilhos da cidade, apesar de disputarem espaços com os ciclistas e de serem eventualmente atropelados por algum maluco, agora têm onde caminhar com mais conforto e segurança. É extremamente agradável andar em algumas alamedas de nossa cidade. Elas, por si só, já deveriam ter motivado mais e mais obras com essas características. É muito caro refazer tudo, mas as calçadas são nossas artérias de convivência urbana e deveriam merecer mais atenção de todos nós.
É importante registrar o trabalho do engenheiro Antônio Borges dos Reis, que, sempre que pôde, lutou pela melhoria de Curitiba. Seus projetos para a recuperação e construção de calçadas precisam ser implementados, outros aprovados. Sentimos a falta dele na Câmara de Vereadores, onde enfrentou com firmeza a hostilidade de muitas “personalidades” da capital paranaense, inconformadas com a insubordinação do Borges às ordens de arquitetos e urbanistas, mais preocupados em preservar formas de um passado recente e equivocado do que em fazer de Curitiba uma cidade justa, humana e sensata.
De qualquer forma o Prefeito Cássio Tanigushi avançou em alguns programas. Lamentavelmente alguns projetos pararam no meio. As avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas poderiam ter seus projetos de reurbanização estendidos até a Arthur Bernardes. Se assim tivesse acontecido teríamos circuitos excelentes de comunicação entre eixos importantes da cidade.
A cidadania desenvolve-se quando as pessoas se encontram, caminham juntas, conversam e convivem sem medos e preconceitos. As calçadas de uma cidade mostram com clareza que tipo de sentimento seus moradores possuem em relação à comunidade. Podemos e devemos melhorar, só depende dos prefeitos.

Cascaes
19.3.3

Calçadas, uma vergonha curitibana

O jornal Gazeta do Povo publicou em 9 de fevereiro de 2003 uma excelente reportagem sobre as calçadas da capital paranaense sob o título: “Calçada ruim, de quem é a culpa?”.
Nessa reportagem descobrimos mais um produto do trabalho maravilhoso da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil, sob a coordenação da Sra. Elin Tallarek de Queiroz. Além da cartilha elaborada pela associação mostrando que qualidades as calçadas deveriam ter, agora apresentam o resultado de uma pesquisa feita dentro da campanha “Passeio Nota 10”, analisando e propondo melhorias para as calçadas curitibanas. A pesquisa mostrou com números o que já sabemos, ou seja, que a maioria da população desaprova o padrão e conservação das calçadas de Curitiba.
A reportagem lembra também as promessas de campanha do atual prefeito e apresenta as desculpas pelo abandono da proposta. Lamentavelmente vemos o eterno jogo de responsabilidades entre a Prefeitura e os proprietários de imóveis. Nessa lógica o pedestre sempre sai perdendo, aumentando as estatísticas dos acidentados por atropelamento.
Temos por aí mais uma demonstração da falta de respeito ao cidadão comum. Chegamos ao absurdo de sermos obrigados a caminhar por passeios de altíssimo valor comercial, como é o caso dos existentes na Marechal Deodoro, olhando para o chão. Os comerciantes dessa via são tão primários que ainda não perceberam que eles também perdem muito dinheiro não zelando pela segurança daqueles que andam em frente às suas lojas, querendo encontrar nas vitrines e balcões o que precisam comprar. Assim os “shoppings centers” ganham a simpatia da população, onde, apesar de preços eventualmente maiores, terão a segurança que as ruas já não oferecem.
A alegação da falta de dinheiro por parte da prefeitura mostra a necessidade de maior atenção popular para o orçamento municipal. Prioridades são definidas todo ano, será que o dinheiro arrecadado está sendo usado de forma adequada? Precisamos mostrar a todo habitante da cidade o significado de suas decisões e o resultado dos impostos que pagam. Levantamentos são feitos para que a municipalidade não perca qualquer centavo de suas possibilidades arrecadadoras. Fiscais acompanham todas as atividades urbanas. A receita do município de Curitiba, principalmente após a Constituição de 1988 e a transferência da dívida da CIC para o estado, cresceu muito e poderia resolver muitos dos problemas graves que observamos no centro, bairros e periferia.
O município, com o apoio do Tribunal Regional Eleitoral e de entidades de pesquisa poderia promover consultas permanentes. A internet também seria um excelente instrumento para isso. Com o apoio dos jornais, televisão e rádio haveria como criar um ambiente de debate permanente e de seleção das melhores propostas. Acima de tudo seria necessário encontrar outras formas de planejamento e gerência da cidade onde o prefeito, vereadores e técnicos dariam o apoio e orientação que a população precisa para compreender e agir pró ativamente.
Temos pessoas e entidades dedicadas às questões urbanas. A Sra. Elin Tallarek de Queiroz e sua Associação dos Condomínios garantidos são um exemplo muito especial, pois nada em sua campanha mostra segundas intenções ou interesses corporativos e empresariais. Com apoio de lideranças dessa espécie poderíamos construir uma Curitiba melhor, mais saudável e segura. É só querer e trabalhar para que aconteça.

Cascaes
9.2.3

Calçadas em Curitiba

Pouco a pouco a cidade de Curitiba vai ganhando espaços para os pedestres. Nos bairros já podemos ver as ciclovias (mais usadas pelos caminhantes) e os passeios com asfalto. Sem aparecerem como um grande e merecido programa, vão tornando a cidade mais humana, apesar de suas típicas falhas brasileiras.
A reforma da Avenida Iguaçu deverá mostrar ciclovias nos dois lados da avenida. Ótimo, assim as pessoas, que por ali caminharem, poderão fazê-lo com mais segurança e dignidade. Note-se que pela cidade foram instalados radares, lombadas e outros recursos para controlar a velocidade dos carros. A sinalização parece, de modo geral, mais preocupada com os acidentes entre motoristas do que os atropelamentos. O resultado é o elevadíssimo número de mortos e feridos nessa guerra entre indivíduos que se atrevem a andar.
As cidades precisam ajustar-se a suas necessidades. Entre as muitas diretrizes imagináveis está a de receber mais e mais pessoas idosas. A expectativa de vida aumenta, mostrando uma população que certamente não está nos plenos poderes da juventude. A redução de acuidade sensorial e motora com o avanço da idade é uma realidade, que precisa fazer parte dos critérios de planejamento dos urbanistas, engenheiros e arquitetos. Omissão nesse sentido significa segregação e exposição de boa parte da população a acidentes de toda espécie.
Pode-se imaginar e desejar no Poder Judiciário a existência de profissionais dedicados à vigilância e cobrança de segurança e qualidade nos projetos urbanos. De alguma forma precisaremos encontrar formas de disciplinamento da expansão das cidades. Elas são mais e mais perigosas. Não falando da criminalidade sem controle no Brasil, temos o desafio de tornar mais humana a vivência no simples ato de ir e vir a pé.
A reforma da Avenida Iguaçu destaca-se muito menos pelo piso de concreto, poderia ser outro, do que pela estrutura que oferece aos pedestres. Nosso amigo, arquiteto e urbanista Antônio Carlos de Mattos Miranda, especialista em ciclovias, poderá protestar reclamando também a importância do caminho para os ciclistas, mas quem caminha sabe como as calçadas fazem falta em Curitiba. Muita gente já se machucou seriamente nas armadilhas que aparecem sob seus pés. Temos as famigeradas pedras irregulares e o escorregadio mosaico português. Razões históricas questionáveis criaram padrões que deveriam ser revistos a favor da dignidade dos cadeirantes, dos cegos, das pessoas que têm dificuldades em transitar por muitos lugares importantes de Curitiba. Um acinte, um verdadeiro absurdo é a Marechal Deodoro, onde alguns trechos de suas calçadas são absurdamente mal conservados ou simplesmente obstruídos por todo tipo de barreira.
Não é difícil ver em Curitiba senhoras andando pela rua com carrinhos de feira e até com bebês pela impossibilidade de se deslocarem com segurança no que deveriam ser os passeios. Aliás, a cidade tem problemas graves decorrentes de outro desastre fernandino, a miséria que faz do Brasil campeão mundial em reciclagem e em catadores de lixo. Talvez graças a eles muitos motoristas estejam aprendendo a dirigir com mais atenção.
O planejamento urbano precisa inverter prioridades, partir do indivíduo, da gente que vive nas cidades. Sabemos e vemos que a principal atenção é com os automóveis, aqui, Curitiba, felizmente é dos ônibus. Sendo do transporte coletivo, seria justo imaginar que seus usuários são pessoas, que ao sair de seus veículos serão pedestres. Assim se justifica e se torna importantíssimo cuidar das calçadas. Esse é um desafio que as administrações municipais deverão enfrentar, ainda que cobrando responsabilidades de pessoas, que são incapazes de olhar além de suas paredes.

Cascaes
13.7.2

Andar e crescer

O cidadão moderno da classe média tem hábitos estranhos. O Arnaldo Jabor mencionou um dia desses o kit babaca, que seria o conjunto: celular + carro importado + não sei o quê. Na inteligência excepcional desse cidadão chega a incomodar a adoção de padrões talvez ridículos e inúteis da classe média. Isso sempre existiu e dificilmente deixará de acontecer, o problema é a alienação conseqüente do afastamento do mundo pelo brasileiro comum.
Começando pelo mais duro, temos cadeias infectas, penitenciárias superlotadas porque os diplomados, se condenados, terão direito à prisão especial. Se todos estivessem igualados no crime, certamente nosso sistema penitenciário seria melhor. Nas delegacias os mais ricos chegam com bons advogados, os pobres apanhando. Em casa humilde a polícia entra de qualquer jeito, nas mais ricas, nem com mandato judicial.
As rodoviárias, apesar de serem pontos de trânsito da maior parte dos brasileiros, estão em padrões de conforto, funcionalidade e segurança muito inferiores aos dos aeroportos. Pobre não usa avião, mas viaja de ônibus...
Os ricos despertam respeito de imediato enquanto os mais humildes são desprezados por eles mesmos.
E caminhar é uma necessidade para quem não usa automóvel. Quem não tem carro ou motorista? Resultado, as calçadas são uma porcaria. Os ônibus são bonitos, afinal enfeitam as ruas, mas saindo deles caímos em buracos, escorregamos, tropeçamos em pedras, caminhamos sobre gramas dedicadas às chuvas. Em Curitiba vivemos uma época desinteligente que produziu as calçadas com pedras irregulares. Incrível, mas verdadeiro. Resultado, não temos pés tão flexíveis, mas aprendemos a caminhar sobre superfícies irregulares, ridículo!
O espantoso é observar o comportamento de prefeitos. Autoridades eleitas, autoridades coroadas, assumem o comando das cidades preocupados com as próximas eleições. O resultado é a preocupação onipresente com a mídia e o abandono de tudo o que não dá voto (esgoto, calçadas, construções irregulares etc). Temos boas exceções. Em Curitiba já vemos muita coisa bem feita, mas há muito a ser feito e uma das grandes necessidades é uma orientação para o pedestre. As calçadas asfaltadas apareceram graças à luta de nosso ex-vereador Borges dos Reis, com ele também tivemos magníficos momentos de defesa das pessoas portadoras de deficiências, infelizmente não foi reeleito, não teve dinheiro para mostrar seu trabalho...
Caminhar é saudável quando não somos atropelados, assaltados, acidentados em lugares perigosos, mal feitos e desprezados. Assim opta-se por andar nos parques, afinal o corpo humano precisa de exercícios. As gorduras economizadas no assento dos automóveis precisam ser reduzidas.
As ciclovias são as melhores calçadas da cidade. Por quê? Piso anti derrapante graças às qualidades do asfalto, sem obstáculos, sinalizada, regular, contínua. Já imaginaram que espetáculo seria se a Marechal Deodoro tivesse ciclovias, pelo menos? Lá encontramos uma excelente pista para caminhadas com obstáculos. Bancas de revistas, caçambas, orelhões, piso absolutamente irregular, muita gente, um bom exemplo bem no centro de Curitiba do que não deveria existir, apesar dos confrontantes ganharem muito dinheiro com os transeuntes. Talvez esses comerciantes mal instruídos algum dia resolvam recuperar a avenida e aí perceberão que muita gente que passa diante de suas vitrines olhando para o chão descobrirão suas lojas.
Caminhar é uma forma eficaz de descobrir o povo e a própria cidade. Andando sentimos as pessoas, as casas, os jardins, o conjunto de comunidades de trabalhadores, de filósofos de calçada, de gente humilde e maravilhosa. Vale a pena construir passeios, caminhar e crescer dentro do espírito de cidadania que faz tanta falta à nossa classe média.

Cascaes
6.6.2

Transporte coletivo e calçadas

O transporte coletivo urbano possui uma belíssima história no século vinte. A formação de grandes metrópoles criou ambientes onde o cano de descarga dos cavalos infectava as ruas. A necessidade de deslocamento crescia à medida que os trabalhadores eram afastados de seus locais de trabalho. A invenção do motor elétrico foi assim uma imensa contribuição à limpeza do ar e ruas de cidades que, como acontecia com Londres, Chicago e Paris começava a ficar irrespirável.
A produção, operação e manutenção de bondes e locomotivas viabilizaram indústrias que hoje ostentam nomes multinacionais e um patrimônio tecnológico fabuloso para as nações pioneiras.
Paris inaugurou sua primeira linha de metrô em 1900. Esse projeto foi precedido de imensas discussões, bem ao gosto francês. Talvez entre as questões mais debatidas tenha sido a decisão de ser ou não subterrânea a linha número 1. Aconteceu sob a terra, em trincheira coberta. A capital francesa possui um dos melhores sistemas de transporte coletivo urbano, nela e em outras cidades onde o respeito ao cidadão é diretriz séria, além dos veículos modernos e seguros, encontramos calçadas feitas para o caminhante. Assim, somando-se a um sistema subsidiado mas de imenso valor econômico, oferece-se ao pedestre circuitos seguros para o seu trânsito através da cidade.
Em Curitiba começamos a discutir o metrô. Infelizmente seu primeiro trajeto é questionável apesar de marcar o que poderá se o eixo espetacular da Curitiba século 21. Mal defendido, não diz que é um sistema complementar, perimetral, capaz de vencer a irregularidades do contorno metropolitano sem grandes é caríssimas escavações e impermeabilizações. Com certeza, havendo recursos, teremos os eixos diagonais dentro da cidade, formando a malha que poderá tornar o transporte coletivo urbano mais racional e menos poluente. Entraremos na fase de subsídio explícito. Modais mais caros não se pagam com a receita operacional. Nem o famoso transporte coletivo por ônibus escapa da contribuição fiscal. Se os espaços ocupados pelos terminais, canaletas e mais os serviços para transportar o povo curitibano fossem apropriados às tarifas, elas no mínimo dobrariam de valor.
O que continua lamentável, deplorável, vergonhoso é a falta de atenção com as calçadas. O usuário do transporte coletivo precisa de segurança, do conforto de poder caminhar sem medo dos malucos do volante, livres de mergulhar em buracos, dispensados de caminhar sempre olhando para o chão desviando de postes, árvores, pedras, bancas de revista, telefones públicos, montes de lixo, caçambas etc.
O desrespeito pelo cidadão, que anda, aparece até nas campanhas da oposição, infinitamente mais preocupada com os radares, que nunca deveriam ser sinalizados pois é lei e fator de sobrevivência de todos nós a obrigação de respeito aos limites de velocidade. Não podemos esquecer que os pardais eletrônicos incomodam quem dirige, quem tem automóvel, quem não se preocupa ou esquece que pilota um veículo de pelo menos meia tonelada.
As calçadas, quando teremos nos líderes que nos governam uma verdadeira atenção por elas? Quando os projetistas irão esquecer padrões perigosos e antigos e adotar o que todos nós precisamos, pavimento antiderrapante, plano, seguro? Quando teremos sinalização para pedestres nos principais cruzamentos, ou melhor, em todos aqueles onde for necessário? E as passarelas, galerias e a segurança policial?
É bom sonhar. Sonhando poderemos imaginar como Curitiba será bela e justa quando oferecer a seus cidadãos mais humildes o conforto e a segurança de transitar pela cidade sem medo.

Cascaes
11.5.2

Orelhões e barreiras arquitetônicas

Curitiba é uma cidade cujos planejadores costumam valorizar tanto a estética que até as necessidades dos idosos e portadores de deficiências são consideradas secundárias. A luta para os ajustes a favor dos portadores de deficiências encontra a má vontade de nossos gerentes e assim a reforma do calçadão da Rua das Flores manteve padrões condenáveis e até contrariando lei sancionada pelo prefeito atual.
Surpreendentemente os orelhões mudaram de padrão e o fizeram colocando um monstrengo nas ruas curitibanas. Vá ter mau gosto lá na casa da...
Além da falta de cuidado estético os novos telefones públicos e seus protetores não foram feitos para considerar o trânsito dos deficientes visuais. Conversando com uma senhora cujo marido é quase cego ela me disse que não é raro ele machucar-se batendo com a cabeça na concha de cobertura do telefone. Na base não se colocou nada para alertar da presença do telefone e assim, ao caminhar, se a bengala não tocar no cano de suporte (estreito) ele não consegue perceber em tempo a existência do orelhão.
As reformas da Rua Pedro Ivo assim como o foi a da Rua André de Barros felizmente foram feitas com blocos que formam um piso antiderrapante como pretendia lei aprovada nesse sentido (lei de autoria do Vereador Antonio Borges dos Reis). Não tiveram o cuidado, contudo, de dar a esses tijolos cores diferentes de modo a tornar as calçadas mais bonitas. Será que o projetista dessas calçadas queria desmoralizá-las?
Na Pedro Ivo, apesar da falta de atenção estética, as calçadas foram alargadas. Sensacional, é uma rua com grande trânsito de pedestres, unindo pólos importantes dos usuários do transporte coletivo urbano. Vamos torcer para que os ambulantes e a própria PMC não instalem obstáculos penalizando quem precisa caminhar por essa rua.
Diversas reportagens e a simples observação de nossas cidades mostram que a população brasileira está com um número crescente de idosos. Gente que aos poucos adquire restrições motoras e sensoriais. Esses brasileiros que construíram esse país merecem respeito e a eles não se poderá negar o direito de ir e vir.
Como nossos arquitetos e urbanistas entendem esse processo? Será que eles sabem ajustar seus projetos a essa realidade?
O atual Ministro da Justiça notabilizou-se pela defesa da cidadania. O Ministério Público tem se apresentado de forma surpreendente diante de inúmeras injustiças e crimes. A legislação a favor dos portadores de deficiências já é extensa, falta apenas exigirem o cumprimento e aplicação delas em nossos institutos de planejamento e escritórios de arquitetura...
Os orelhões curitibanos mostraram ausência de atenção estética e de atenção pelos portadores de deficiências. Em Curitiba a falta de cuidado pela qualidade visual dos equipamentos urbanos é novidade. A operadora desses telefones, por sua vez, perdeu uma excelente oportunidade de mostrar mais respeito pela cidade. Nunca é tarde para se corrigir uma besteira.

JCC, 21/5/2000

Orelhões e barreiras arquitetônicas

Curitiba é uma cidade cujos planejadores costumam valorizar tanto a estética que até as necessidades dos idosos e portadores de deficiências são consideradas secundárias. A luta para os ajustes a favor dos portadores de deficiências encontra a má vontade de nossos gerentes e assim a reforma do calçadão da Rua das Flores manteve padrões condenáveis e até contrariando lei sancionada pelo prefeito atual.
Surpreendentemente os orelhões mudaram de padrão e o fizeram colocando um monstrengo nas ruas curitibanas. Vá ter mau gosto lá na casa da...
Além da falta de cuidado estético os novos telefones públicos e seus protetores não foram feitos para considerar o trânsito dos deficientes visuais. Conversando com uma senhora cujo marido é quase cego ela me disse que não é raro ele machucar-se batendo com a cabeça na concha de cobertura do telefone. Na base não se colocou nada para alertar da presença do telefone e assim, ao caminhar, se a bengala não tocar no cano de suporte (estreito) ele não consegue perceber em tempo a existência do orelhão.
As reformas da Rua Pedro Ivo assim como o foi a da Rua André de Barros felizmente foram feitas com blocos que formam um piso antiderrapante como pretendia lei aprovada nesse sentido (lei de autoria do Vereador Antonio Borges dos Reis). Não tiveram o cuidado, contudo, de dar a esses tijolos cores diferentes de modo a tornar as calçadas mais bonitas. Será que o projetista dessas calçadas queria desmoralizá-las?
Na Pedro Ivo, apesar da falta de atenção estética, as calçadas foram alargadas. Sensacional, é uma rua com grande trânsito de pedestres, unindo pólos importantes dos usuários do transporte coletivo urbano. Vamos torcer para que os ambulantes e a própria PMC não instalem obstáculos penalizando quem precisa caminhar por essa rua.
Diversas reportagens e a simples observação de nossas cidades mostram que a população brasileira está com um número crescente de idosos. Gente que aos poucos adquire restrições motoras e sensoriais. Esses brasileiros que construíram esse país merecem respeito e a eles não se poderá negar o direito de ir e vir.
Como nossos arquitetos e urbanistas entendem esse processo? Será que eles sabem ajustar seus projetos a essa realidade?
O atual Ministro da Justiça notabilizou-se pela defesa da cidadania. O Ministério Público tem se apresentado de forma surpreendente diante de inúmeras injustiças e crimes. A legislação a favor dos portadores de deficiências já é extensa, falta apenas exigirem o cumprimento e aplicação delas em nossos institutos de planejamento e escritórios de arquitetura...
Os orelhões curitibanos mostraram ausência de atenção estética e de atenção pelos portadores de deficiências. Em Curitiba a falta de cuidado pela qualidade visual dos equipamentos urbanos é novidade. A operadora desses telefones, por sua vez, perdeu uma excelente oportunidade de mostrar mais respeito pela cidade. Nunca é tarde para se corrigir uma besteira.

JCC, 21/5/2000

Cidadão caminhando

Vale a pena conhecer e analisar a proposta orçamentária da PMC para o ano de 2001. No site do Vereador Antonio Borges dos Reis pode-se conhecê-la em detalhes assim como as propostas do vereador (http://www.borgesdosreis.com.br/ldo_2001.htm ). Na proposta do Prefeito não encontraremos uma preocupação efetiva com as calçadas. Existe o Programa Cidadão em Trânsito, ou seja, há uma grande atenção pelas ruas. Noutros programas veremos cuidados com terminais e transporte coletivo urbano. E as calçadas? Nossos administradores se esqueceram de que para transitar pela cidade há necessidade de mais e melhores calçadas. A propósito, quem na PMC estuda e planeja o trânsito dos pedestres? Parece que essa função começa a existir, pelo menos a Rua Pedro Ivo dá essa impressão, muito tímida ainda.
Em torno de 10% da população curitibana é portadora de pelo menos alguma redução forte de capacidade sensora, motora ou mental. A população idosa cresce acrescentando mais gente com dificuldades para caminhar. Essa gente toda a cada dia sente o aumento nos riscos de existir numa cortada por “ruas expressas” e centenas de milhares de veículos motorizados. Avenidas largas, ruas mal sinalizadas e muita gente mal educada complicam a vida de quem precisa andar pela cidade. E cruzar ruas não é fácil. Como atravessá-las quando não se consegue andar depressa? Precisamos rever nossas estratégias de existência em Curitiba.
Lamentavelmente a falta de preocupação com a segurança e conforto de todos os cidadãos aparece nos mínimos detalhes. Vivendo numa cidade que despreza o pedestre e que só valoriza quem usa automóvel nota-se a falta de amor ao próximo, o desprezo pela vida dos mais humildes. A falta de educação é regra. Assim não é de estranhar a visão de muitos de que a segurança é simplesmente questão policial.
O povo curitibano deve refletir sobre a importância de andar pela cidade. Ciclovias, orelhões, canteiros, árvores, tudo parece ser mais importante do que o ato de caminhar com segurança. Em algum momento infeliz os planejadores de Curitiba adotaram as pedras irregulares como padrão de calçamento. Provavelmente eles tinham pés de borracha. As famosas árvores são outro problema. Escolhidas sem muito critério rebentam e ocupam calçadas, induzindo nosso povo a andar pela rua. As árvores são bonitas, suporte para muitos passarinhos. Cobrem os sistemas de iluminação, agridem os alérgicos durante a floração, diminuem a insolação. São bonitas, agradam a todos nós. Automóveis, telefones públicos, canteiros, árvores e o direito de caminhar, de andar devem compor um cenário harmônico. Todas as exigências de uma cidade precisam entrar numa solução de compromisso em que o pedestre, o motorista e o passarinho negociem espaços diminuindo os riscos de cada um.
O ambiente mudou muito nas últimas décadas. O automóvel conquistou o brasileiro. A velocidade é até motivo de orgulho nas pistas de automobilismo. A visão ambientalista, a recuperação do verde e a violência entraram na vida de todos nós. Como reverter os piores processos? Como ajustar a cidade para que tenha mais graça, funcionalidade e segurança? Certamente certos projetos seriam essenciais, entre eles o do metrô. Vamos para mais um processo eleitoral. Será que nossos candidatos oferecerão solução para essas questões?

JCC, 18/6/2000

Calçadas criminosas

A péssima qualidade das calçadas no centro de Curitiba assusta. O mais incrível é sentir a indiferença das autoridades para esse equipamento urbano, essencial a todos aqueles que precisam caminhar pela cidade.
Quem anda? Todo usuário do transporte coletivo urbano é um pedestre, é uma pessoa que precisa caminhar entre o ponto de ônibus e a sua residência, escola, loja, clube etc. Isso significa uma população de mais de um milhão de habitantes só na capital paranaense. Todo esse povo sofre diariamente uma série de constrangimentos sobre esses passeios feitos de pedras irregulares e obstruídos por toda espécie de tranqueira.
Nosso povo mais humilde talvez nem perceba o que perde por não saber o que tem direito. Muitos vivem em condições tão ruins que as calçadas ainda não chegaram ao patamar de exigências sociais. Mas a falta de atenção de nossa gente curitibana não deveria ser motivo de falta de cuidados com as calçadas.
Fazer, manter, melhorar calçadas gera empregos. Cria postos de trabalho para profissionais sem qualquer escolaridade, é uma forma de distribuir renda. Em uma época tão carente de empregos deveríamos forçar ações de aprimoramento de nossas instalações civis.
A cidade está cheia de oportunidades de trabalho. Bastaria desviar o foco da atenção da administração municipal para a criação milhares de empregos. Deixando de gastar tanto dinheiro com o asfalto em ruas, poderia aplicar um pouco mais no melhoramento do trânsito de pedestres.
Andar pela cidade é bom. É importante ver os jardins, praças, fachadas de prédios, observar nosso povo e suas casas. Para tudo isso é importante a existência de boas calçadas.
Em campanha nosso prefeito falou no Plano 2000. Prometeu fazer dois mil quilômetros de calçadas. Ótimo! É um anúncio extremamente importante para a cidade. Precisamos também da troca das malditas pedras irregulares por material que torne o piso dos passeios regular, anti derrapante, seguro. O centro de Curitiba precisa dessa atenção.
E os tapumes? Chegamos ao absurdo de ver cercas de obras bloqueando completamente as calçadas, obrigando os pedestres a mudar de lado de rua no centro da cidade.
Curitiba tem charme, fama de cidade de bom padrão. Para nós, que vivemos e caminhamos pela cidade, contudo, ainda faltam as calçadas. Os turistas poderão ver Curitiba de dentro de seus ônibus e "vans", nós caminhamos.

JCC, 28/11/2000

As calçadas e a atividade comercial

Vender exige comunicação, capacidade de convencimento, mostrar e fazer o comprador entender e acreditar no produto exposto. Ou seja, o comprador quer e precisa enxergar o que deseja adquirir.
O contato mais tradicional e convencional entre vendedores e compradores é a vitrine, a banca, a prateleira onde o comerciante mostra seus produtos. Na cidade, ao longo de suas ruas, milhares de estabelecimentos comerciais têm grandes janelas onde mostram e oferecem aos transeuntes suas mercadorias. Ao longo das calçadas os fregueses em potencial caminham, procurando nas vitrines e cartazes alguma orientação para o atendimento a suas necessidades. Muitos saem de casa sem convicção de seus objetivos, sabendo e faltando certeza do que, onde, como e quanto comprar. São compradores à espera de um bom vendedor e de uma loja que lhe inspire confiança.
Caminhar é um ato que a cidade nem sempre permite com segurança. O resultado em muitos circuitos é que o pedestre transita com mais atenção à própria calçada do que ao ambiente em que estiver. Para não cair, preocupado em não esbarrar em qualquer obstáculo ou mergulhar em algum buraco, o nosso freguês em potencial não presta atenção ao mostruário das lojas, aos cartazes e alternativas de atendimento. A conclusão é que boas calçadas, bem feitas, seguras, livre de obstáculos são um fator de simpatia e de aumento de resultados comerciais.
É uma conclusão fácil, basta ver o sucesso dos “shopping centers” onde as pessoas se sentem seguras e em ambiente onde o ato de caminhar não assusta.
O vereador Antonio Borges dos Reis conseguiu a aprovação da lei 9.121 de 10/07/97 (determinando padrões mais seguros) e a lei 9.132 de 04/09/97 (criando o Programa comunitário de construção e melhoria de passeios). Ainda considerando a utilidade pública dos passeios apresentou projeto de lei atribuindo ao município a responsabilidade pela construção e manutenção das calçadas. É uma diretriz que se reforça diante do decreto 327 de 14 de junho deste ano onde o Prefeito Municipal autoriza a cobrança através da URBS pelo uso de espaços públicos (inclusive o sub solo). Essas estrutura legal, se aplicada para valer, mudará a cidade, tornando-a mais humana e funcional.
Não podemos esquecer que todo o investimento em transporte coletivo urbano é complementado pela existência de boas calçadas. O usuário do sistema precisa caminhar, locomover-se entre os pontos de parada dos ônibus e seus locais de origem e destino, ou seja, residência, igreja, áreas de lazer, escolas, comércio, locais de trabalho etc.
Outro aspecto importantíssimo na existência de boas calçadas é tornar mais segura e confortável a vida dos portadores de deficiências, das pessoas idosas, das crianças e senhoras muitas vezes carregando crianças ou carrinhos de toda espécie. A humanização da cidade exige bons passeios.
Para o comércio as calçadas são parte de suas instalações. Simplesmente não há como utilizar áreas comerciais se o freguês em potencial tiver dificuldades de acesso. Entre nossas metas de aprimoramento urbano, sem qualquer dúvida, está a de criar a base legal e motivar as autoridades e povo curitibano sobre a necessidade da cidade ter boas calçadas.
Um documento interessante e de grande valor social é o livreto “Passeio Nota 10”, um guia para a construção e manutenção de calçadas em Curitiba, distribuído pela Associação dos Condomínio Garantidos do Brasil. É bom sentir que nosso povo começa a despertar para a importância das calçadas.

JCC, 21/08/2000

Planejamento urbano

A campanha política trará com força o tema “planejamento urbano”. Em Curitiba é um assunto que promete pois muitos dos candidatos à sua prefeitura têm condições de se aprofundarem no assunto.
Ao final de 1999 vimos os debates sobre a nova Lei de Zoneamento. Esquentaram levando a muitos conflitos, que deixaram cicatrizes. Por uma série de equívocos o Prefeito talvez tenha perdido muito mais do que conquistou politicamente. O lado ruim das discussões apaixonadas é que elas perdem lógica técnica. Certos assuntos poderiam ter sido melhor analisados.
A campanha eleitoral está começando. A discussão sobre o futuro da capital paranaense será esquentada por alguns “acidentes” como, por exemplo, a invasão das áreas de preservação ambiental pelas favelas e indústrias importadas. O acidente da Petrobrás provavelmente será lembrado pois atingiu um rio sem qualquer vigilância apesar de sua tremenda importância. O metrô estará em pauta. Rural ou urbano? Elevado ou subterrâneo? Perimetral ou apenas uma linha entre dois pontos vazios? Com ou sem maldade questões técnicas serão motivo de discussões. Pelo menos nos ambientes mais técnicos são temas constantes.
Teremos eleições também para a Câmara de Vereadores. Lamentavelmente, apesar de sua importância, é o lugar para o qual o eleitor menos pensa antes de votar. Os vereadores são parte vital em qualquer administração urbana. Eles são os eleitos mais próximos do povo, votam orçamentos e as leis do município, são aqueles que estarão nos representando com mais propriedade. A qualidade da Câmara de Vereadores é diretamente proporcional à cultura de seus eleitores. Se o Prefeito parece distante, um ser superior, o vereador é aquele indivíduo que todo cidadão se considera no direito de abordar se precisar de alguma coisa.
O que preocupa é o potencial que os futuros vereadores terão para discutir as grandes questões que atingem Curitiba. O acidente da Petrobrás foi exemplo da necessidade de atenção para o rio que abastece Curitiba e carrega abaixo seus esgotos. Metrô, gás, água tratada, sistema viário, impostos, uma série de questões poderão melhorar ou piorar dependendo do resultado das urnas. Em que tipo de cidade o curitibano pretende viver?
Infelizmente ninguém passa por um teste de conhecimentos antes de poder se candidatar aos cargos mais importantes de uma cidade, estado e até da União. Nossa sociedade é extremamente exigente para entregar uma carteira de motorista ou admitir qualquer funcionário. Para os cargos mais importantes, entretanto, pede-se apenas a capacidade de agradar o eleitor.
As grandes cidades precisam de pessoas capazes de entendê-las em todos os seus aspectos. Como conciliar a liberdade e o direito de qualquer cidadão de votar e ser votado com a necessidade de bons governantes e legisladores?
Vivemos entre a utopia e a realidade. As grandes teses românticas contrastam com a realidade. E o romantismo gerou, democraticamente, muitos ditadores e guerras brutais.
Curitiba não fará guerra contra outra cidade mas precisa combater o mal desenvolvimento, a degradação ambiental, a destruição de seus melhores valores. Agora a munição de seu povo é o voto. Usando-o bem não será preciso apelar para outras armas.

JCC, 2/8/2000

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