segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Acessibilidade e o surdo


A importância da acessibilidade. 1
Kit educação. 3
Acessibilidade e responsabilidade social – DAIKEN e ELETROSUL. 4
O desespero de um pai deficiente. 6
Mobilidade necessária e suficiente. 8
Cidadania e acessibilidade. 9
Educando e integrando. 11
Próteses e equipamentos, P&D.. 13
Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência. 15
Universidade para surdos. 17
Deseducação social 19
Diplomas inteligentes. 21
Acessibilidade e comunicabilidade. 23
Surdez e transporte coletivo. 25
Livro eletrônico e gráficas “on line”. 27
Qualificação profissional 29
Cultura Técnica. 31
Ensino Especial à Distância. 33
Literatura e normas técnicas. 35
O portador de deficiências e o governo. 37
Comunicação para os portadores de deficiências auditivas. 39
O bom professor. 41
Redução de custos. 43
Biblioteca Nacional 45
Televisões e os deficientes auditivos. 47
Universalização da cultura técnica. 49
Os portadores de deficiências e o trabalho. 51
Esqueceram os surdos. 52
A escola e o portador de deficiências. 54
O ensino especial à distância. 56

A importância da acessibilidade
Felizmente a expectativa de vida aumenta. Ser ou vir a ser idoso é uma situação que podemos considerar como altamente provável. Que tipo de cidadão queremos ser?
Acidentes e doenças degenerativas também ganham espaço. Na loucura das cidades não se é difícil aparecer em lista de vítimas e de internamentos de emergência. Ser portador de deficiência é uma hipótese significativa, dependendo do grau de exposição do indivíduo.
Mais pessoas se qualificam para viver na grande sociedade humana. As comunidades mais desenvolvidas sabem evitar acidentes, doenças e criam condições de segurança que permitem padrões de vida inimagináveis há algumas décadas. A Tecnologia viabilizou recursos fantásticos a que já nos acostumamos, esquecendo que nossos pais e avós talvez nem sonhassem com as facilidades que agora podemos aproveitar. Talvez, por exemplo, poucos avaliem o impacto da energia elétrica em suas vidas. Graças à eletricidade as telecomunicações, os serviços de saneamento básico, os sistemas de lazer eletrônicos, educativos, enfim, uma coleção de atividades se somou àquelas de antigamente.
O desafio é viver integralmente quando não se possui plenas condições de mobilidade e comunicação. A vida, avançando ao longo do tempo, passados os anos dourados da juventude e o período de plenitude física e mental, empurra-nos para uma fase de restrições crescentes. O que fazer?
Com certeza todo cidadão que chega à terceira idade passará a depender de próteses e cuidados que não imaginava alguns anos antes. E que experiência é sentir a incapacidade de pessoas e estruturas de atender com dignidade quem trabalhou, criou seus filhos, deu tudo de si para a comunidade. Nesse período percebemos também o que poderíamos ter feito a favor das pessoas deficientes. Passamos a descobrir as falhas de cidades que se acostumaram com a indiferença, lugares que talvez tivéssemos, no passado, a oportunidade de corrigir.
Acessibilidade é sinônimo de dignidade e a educação social uma condição de convivência fundamental ao espírito de civilidade que devemos desenvolver para termos uma vida melhor. Não é favor, é, inclusive, lei, mais ainda, uma coleção de leis, decretos, normas etc. Ou seja, ignorar os direitos das pessoas deficientes pode levar a processos e vexames desagradáveis... A legislação existente vai sendo regulamentada e produzindo documentos técnicos que precisam ser aplicados em todas as nossas atividades. Graças a isso já vemos mudanças no visual urbano de muitas cidades, pioneiras nesse processo de responsabilidade social. Ganham a simpatia de todos nós e aprendem que uma multidão de pessoas agora se integra ao mercado de trabalho, ao consumo, na produção de riquezas, à vida.
O respeito ao cidadão deficiente finalmente ganha proteção legal; agora o desafio é treinar, estudar, aprender a eliminar barreiras de modo a se criar condições de acessibilidade e a construir cidades belas e justas como todos nós merecemos.
João Carlos Cascaes
Curitiba, 7 de maio de 2008

Kit educação

Perguntar não ofende?
Alguma secretaria de educação ou o MEC já desenvolveram algum conjunto de programas de apoio ao ensino com software livre (LINUX) e programas dedicados a núcleos específicos de estudantes, para distribuição gratuita e condições de instalação em computadores a partir da geração 386?
A evolução dos computadores está produzindo um volume colossal de máquinas obsoletas, lixo eletrônico que muitas empresas e usuários domésticos guardam em algum depósito ou doam a alguma entidade, quando não vão para o lixo, simplesmente. Esses equipamentos viram uma esperança frustrada nas mãos de pessoas que os recebem como doação na esperança de ter “computador”. Poderiam ser ferramentas valiosíssimas de educação se tivessem apoio adequado e condições de utilização com programas menos exigentes, o que pode ser feito no universo LINUX.
Esse sistema deveria ser simples, intuitivo, adaptável a computadores antigos, com suporte das entidades dedicadas ao ensino público. ONGs poderiam, a partir da base criada, produzir programas específicos. Nossas universidades, com tantos especialistas, teriam um espaço infinito de criação.
Precisamos, acima de tudo, criar condições de educação para milhões de brasileiros que ainda não podem dispor de computadores modernos e programas sofisticados. Temos condições, em curto prazo, de dar um salto de qualidade, desde que iniciemos esse processo do básico, computadores baratos, o software operacional (LINUX) e programas especialmente desenvolvidos para ensinar a ler, escrever, contar, falar, enfim, tudo aquilo que nossas crianças e até professores precisam aprender para formarmos a base de um Brasil século 21.

Cascaes
8.5.2008



Acessibilidade e responsabilidade social – DAIKEN e ELETROSUL

O direito de ir e vir, de existir, de ser numa sociedade que pretenda ser justa e fiel aos melhores princípios cristãos é a meta de nosso povo à medida que entendemos melhor nossas obrigações para com os idosos, as pessoas com restrições motoras, sensoriais e mentais. No Brasil estamos criando leis e normas técnicas que finalmente regulam a acessibilidade abrindo um espaço a um contingente de pessoas antes restrita a seus lares, escondidas em asilos e outros cantos destinados àqueles que não usufruíam da plenitude dos recursos de um corpo perfeito.
Atualmente 14,5% da população, percentual crescente à medida que a expectativa de vida crescer, passaram a ter um amparo legal que possibilita a sua inclusão social. Isso significa a necessidade, por força de lei, de reformas em prédios que atendem o público em geral, com mais significado naqueles que se dedicam a pessoas de alguma forma deficientes.
Em nossas cidades muitas construções mais antigas ainda não oferecem recursos adequados e possíveis em nossa capacidade construtiva, industrial, tecnológica enfim. Podemos destacar, por exemplo, a instalação de elevadores especiais com dispositivos de segurança e conforto para cadeirantes e pessoas dependentes de macas ou próteses locomocionais.
No Paraná a empresa Daiken, que iniciou suas atividades em 1993 e está situada na região metropolitana da cidade de Curitiba, sul do Brasil, possui uma equipe altamente especializada em projetos eletrônicos e mecânicos que desenvolve, com tecnologia própria, produtos de alta qualidade, dentro de normas internacionais de funcionalidade e segurança. Podemos destacar em sua linha a fabricação de elevadores especialmente projetados para uso de pessoas deficientes.
Constatamos, pois, a existência de público e recursos para aprimoramento da acessibilidade num país que exige também recursos para educação e saúde além daqueles existentes em seus orçamentos oficiais. Impõe-se identificar soluções e apelo ao trabalho voluntário da sociedade para aceleração dos ajustes que identificamos em muitos lugares com potencial de aprimoramentos em suas instalações.
Felizmente nossas empresas estão adotando como linha de ação cívica projetos que visam inclusão profissional, o aprimoramento educacional, o desenvolvimento da cultura local, a geração de emprego e renda, o atendimento à demanda social, cultural e esportiva da comunidade bem como ações voltadas à sustentabilidade socioambiental.
Programas denominados “de responsabilidade social”, definidos como sendo o conjunto de políticas públicas, programas, projetos e práticas integradas na sociedade que reforcem a consciência e o exercício da cidadania viabilizam recursos que, complementados com ações de voluntários organizados em clubes de serviço.
Com esse intuito a Daiken pretende associar-se a outras empresas e ao LIONS e/ou ROTARY para instalação de elevadores de sua fabricação em prédios de ONGs dedicadas ao atendimento de pessoas carentes com restrições de mobilidade.
Um exemplo típico de entidade que poderá ser alvo desse trabalho é a APH – Associação Paranaense dos Hemofílicos, uma entidade filantrópica particular sem fins lucrativos cujo lema é o de tratar, orientar, assistir e defender, os portadores de hemofilia (CNPJ/MF: 76.103.985/0001-42, reconhecida como de utilidade pública federal, estadual e municipal, filiada à Federação Brasileira de Hemofilia).
A APH, conduzida hoje por diretores, conselheiros e demais colaboradores, todos trabalhando em regime de voluntariado, mantém em sua sede própria, alojamento completo, com refeições, para os hemofílicos sem recursos de todos os municípios do Paraná (e até outros estados) e que necessitam de atendimento da HEMEPAR, Hospital de Clinicas, Pequeno Príncipe e outros, quer para tratamento e/ou cirurgias.
A manutenção da APH se faz, através de convênios mantidos com Prefeitura de Curitiba, com o Estado e bem como, com doações voluntárias da população.
A APH é hoje, referência nacional no tratamento da hemofilia, tendo recebido como conseqüência e com freqüência, pacientes de outros estados brasileiros.
Essa entidade pode ainda, graças a doações recentes da Receita Federal, oferecer cursos para seus associados mas, reflexo do cenário à época da construção de sua sede, carece de elevadores para pessoas com restrições de mobilidade, situação que se agrava quando recebe pessoas em estágio adiantado de hemofilia.
Nesse contexto o “Edital de Seleção de Projetos para Patrocínios Social e Institucional Recursos Próprios” publicado pela Eletrosul Centrais Elétricas é uma oportunidade de ação que devemos aproveitar propondo uma parceria entre a DAIKEN, Clubes de Serviço e Eletrosul para um avanço na qualidade de serviços de nossas ONGs dedicadas a pessoas com necessidades especiais.

Cascaes
Curitiba, 22 de maio de 2008


O desespero de um pai deficiente

Deus é um grande educador. Ele nos ensina e acima de tudo nos dá desafios que precisamos entender. Deus não nos ensina para o prazer da cultura, mas para que façamos algo, para que realizemos alguma de suas vontades.
Damos à figura do Criador qualidades humanas. Temos o hábito de imaginar um ser superior muito parecido conosco. É uma visão pretensiosa, egocêntrica; é, apesar disso, a que conseguimos construir.
Nascemos, crescemos, vivemos e envelhecemos. Para quê? Existirá no Universo alguma vontade ética? Moral?
Devemos acreditar que temos missões, que a vida significa criar, produzir, fazer algo. E a missão que tivermos será, talvez, proporcional à que o Grande Arquiteto terá planejado para nós.
Nossas tarefas podem vir de diversas formas. Alguns têm poderes, outros mostram necessidades...
Ser pai de uma criança com necessidades especiais é um desafio monumental. O sofrimento é indescritível. A esperança, contudo, é a força que leva qualquer pai ou mãe à luta. No mínimo a vontade de ver seu filho ou filha amado, respeitado leva-nos a insistir em sua formação universal, profissional. Não raro nos defrontamos com situações estranhas, kafkianas. Ver nossos filhos expostos à vontade de pessoas nem sempre bem educadas é um suplício. Nada é mais triste do que a incompreensão, a frieza de certos indivíduos que sabemos poderem fazer muito, mas que se limitam a ações de conveniência pessoal, a metas corporativas, a vontades pequenas que nem merecem ser descritas.
Deus sabe o que faz e nós simplesmente servimos de objeto de sua vontade, mas que seria isso?
Todas as explicações éticas e materiais existem a favor daqueles que agridem nossos filhos, afinal, como eles entenderão a magnitude do desespero que domina nossas mentes? São pessoas que ganharam saúde, que não têm outros defeitos além de qualidades morais fáceis de serem escondidas. Podem tranqüilamente viver e morrer em paz com suas pequenas consciências.
A deficiência é dos pais. Quem mandou gerarem filhos especiais? Por quê vêm incomodar os perfeitos?
A raiva ou o fatalismo serão caminhos que poderemos escolher. Poderemos ser simpáticos. Poderemos agradar. Poderemos aceitar as regras das corporações, dos chefes, de mestres, daqueles que governarem nossos filhos; e os outros?
Poderemos encontrar soluções específicas, e os outros?
Poderemos salvar um filho, e seus amigos?
Aos poucos vamos sentindo o peso de nossa tremenda deficiência. Não conseguimos vencer barreiras, perdemos para o primeiro burocrata de plantão.
Impõem-nos a resignação ou a tremenda raiva que nos coloca em posição quase assassina.
Quando chegamos ao desespero, tendo inspiração, ganhamos idéias. Os projetos, as propostas aparecem. Vamos, contudo, enfrentar as críticas, os desafios.
Poderemos ser ricos, poderosos e usar tudo o que tivermos para salvar nossos filhos, e os outros?
Felizmente o mundo evolui. Talvez regrida moralmente, mas a ciência cresce. Assim vamos ganhando a esperança de que a Matemática, a Física, a Biologia, a Informática, a Mecânica e outras ciências exatas, inexatas, materiais e biológicas resolvam o que a humanidade não corrige socialmente. Evoluímos num sentido e oscilamos noutro.
Nesse turbilhão de sentimentos um pai deficiente se perde, angustia-se, pode até destruir seu filho. Nesse mundo desumano e brutal é difícil achar simpatias e vontades reais de solução de problemas que existem, talvez, para testar a qualidade de nossa formação. A separação do joio do trigo é um desafio permanente...
O fundamental, entretanto, é encontrar um espaço para nossos filhos e com eles aprimorar o comportamento da sociedade como um todo, todos merecem serem respeitados, precisam de oportunidades para crescer. É lhes dar o que merecem, o que têm direito. A luta compensa, é justa e natural, é divina.

Cascaes
21.12.2006




Mobilidade necessária e suficiente

A invenção do automóvel e a descoberta de grandes jazidas de petróleo e o desenvolvimento de seus derivados, gasolina e óleo diesel, revolucionaram o mundo. Henry Ford soube organizar a produção de carros em série, reduzindo seus custos assim como no petróleo grandes empresas criaram estruturas internacionais, com altíssima capilaridade, viabilizando sistemas de transporte inimagináveis há alguns séculos. O resultado disso tudo é que dois terços do petróleo que os norte-americanos consomem, por exemplo, é em transporte de gente e cargas.
O transporte individual em alguns países dominou o planejamento de desenvolvimento das cidades e na mídia conquistaram adeptos de modo que agora criam dependências cada vez mais poluentes, agressivas, pois as cidades podem crescer em tamanho, mas suas ruas e avenidas são rígidas, limitando espaços e exigindo demolições, avanços sobre lugares que deveriam ser preservados. A capital paulista chegou a construir avenidas em fundos de vale, pagando, agora, um preço enorme pela falta de previdência.
As universidades brasileiras são um exemplo dos hábitos de nossos patrícios. Os automóveis dos alunos, professores e servidores cobrem áreas de estacionamento maiores do que as utilizadas por salas de aulas e laboratórios. Para aqueles que se formaram há algumas décadas, é surpreendente ver como a motorização atingiu os alunos. Quem usa motocicleta ocupa menos espaço, mas, lamentavelmente, polui mais, pois os motores desses veículos não têm filtros e fazem mais ruído, contribuindo com mais intensidade para a degradação ambiental, se não considerarmos os espaços exigidos pelos automóveis.
O direito de poluir, contudo, não é universal. Custa caro, exige possibilidade de se gastar com o veículo, combustível e de se ter condições de utilizá-lo.
Felizmente as telecomunicações estão trazendo um tremendo potencial de satisfação local, sem necessidade de deslocamentos físicos. Aparelhos de televisão, rádios, computadores, Internet etc dão condições para a realização em casa, no clube mais próximo ou no escritório de atividades que antes obrigariam o indivíduo a grandes viagens.
Evitar deslocamentos é algo importante num ambiente agressivo, perigoso, onde o cidadão pode ser assaltado, atropelado, assassinado se estiver na mira de algum irresponsável ou de algum criminoso. Em muitos lugares de nossas cidades é uma aventura sair de casa em determinados horários.
O deslocamento através das cidades, se é difícil para o cidadão comum, é pior para aqueles que têm restrições motoras, sensoriais, mentais ou alguma combinação delas. Obviamente é impossível evitar toda e qualquer mobilidade, mas pode-se racionalizá-la, oferecendo-se a quem desejar recursos de atendimento local.
O estudante e o profissional agora podem usufruir o potencial dos computadores, da Internet, dos sistemas de arquivo e apresentação de textos, sons e imagens que a tecnologia viabiliza a custos cada vez menores e com um potencial crescente. Nesse sentido o ensino formal pode e deve se ajustar às necessidades dos alunos.
Ensino à distância, estudo orientado, livros eletrônicos, laboratórios e bibliotecas virtuais, tudo é possível e existe uma montanha de recursos à disposição de quem quiser produzi-los. O fundamental é aproveitar essas oportunidades com honestidade, seriedade e dentro de uma preocupação de realmente atender aqueles que precisam desses recursos. Por exemplo, o estudo “off line”, assíncrono, sem salas virtuais, sem necessidade de transmissão simultânea de aulas é a forma mais barata de se aplicar cursos. Monitores podem complementar aulas em locais definidos em função das necessidades e possibilidades dos alunos.
Alunos adultos devem saber o que querem e o exemplo da OAB é perfeito, pode-se, isso sim, aplicar exames de verificação de domínio profissional e não simplesmente entregar diplomas a quem segue algum roteiro escolar.
Nossa proposta é, entre outras, a criação do Livro Técnico Didático Eletrônico, formando uma (inúmeras, se possível) biblioteca de uso universal, sem custos para os estudantes e profissionais, é nossa esperança de viabilizar um avanço na cultura técnica do nosso povo, atendendo, principalmente aqueles que, carentes de recursos pessoais, não possam pegar seus automóveis para freqüentar aulas em colégios e universidades distantes, comprar livros caros (se existirem), transitando sem necessidade pelas cidades, já entupidas de automóveis, ônibus e caminhões.

Cascaes
31.10.2006



Cidadania e acessibilidade

Uma visão negativa da sociedade humana é inevitável quando pretendemos avaliá-la e corrigi-la visando maior dignidade, mais fraternidade, uma vida melhor para todos. Nossas cidades e nelas suas instituições parecem querer mostrar que a violência e o individualismo radical dominam vontades e comportamentos. O crescimento urbano acelerado, desordenado e aleatório mostra um lado perverso que assusta. Será que a desumanização das metrópoles é inevitável?
Temos leis, estatutos, códigos específicos e até estruturas no Poder Judiciário e Executivo para desenvolvimento de um espírito mais saudável. Mídia negativa também não falta. A liberdade dos donos das emissoras de televisão (concessionários de serviço público), por exemplo, de criar programas de baixíssimo nível é uma realidade. Os piores programas dominam horários nobres, aqueles que apelam para os instintos mais negativos, simplesmente porque dão muito dinheiro, pois despertam curiosidades e se enquadram no lado menos recomendável da personalidade humana. Assim, nesse cenário, falar de acessibilidade pode até parecer um luxo, algo mais diante da miséria material e intelectual que percebemos sem muito esforço em muitos lugares e instituições que deveriam ser exemplos de cidadania.
Lutar pelo aprimoramento de nossas comunidades, apesar de todas as dificuldades, é o desafio que se impõe a todos aqueles que se sentem conscientes e determinados a fazer mais do que rezar e dar esmolas.
Existem ONGs que despontam como agentes de mudança real, formadas por pessoas dispostas a contribuir para a construção de um Brasil melhor. Diante de tantas falhas, nada mais natural do que o aparecimento de associações de pessoas determinadas a trabalhar para a correção da sociedade em que vivem.
Precisamos evoluir e para isso nada melhor do que o debate e a mobilização para os ajustes necessários. Nesse sentido teremos no próximo mês de maio, dias 19 a 21, um encontro nacional de entidades dedicadas às pessoas com necessidades especiais. O Primeiro Encontro Nacional do “Conhecendo e Respeitando as diferenças”, promovido pelo IBDVA (Instituto Brasileiro dos Deficientes Visuais em Ação, presidente e coordenadora Terezinha Aparecida de Lima, celular para quem quiser ajudar: 96142188) em parceria com outras entidades dedicadas às pessoas com necessidades especiais, deverá reunir representantes de organizações de outros estados em Curitiba para discutir conosco como agilizar o respeito às nossas leis a favor do nosso povo com alguma restrição motora, sensorial e/ou mental. O desafio é grande, começando pelo apoio financeiro que é uma das grandes preocupações dos promotores desse evento, que terá como foco a interação dos portadores de deficiência com a sociedade em geral, o acesso à saúde, organização e participação nos conselhos.
Felizmente estamos nos mobilizando para maior respeito ao ser humano.
O CREA-PR, ilustrando esse esforço, teve a iniciativa de formar e apoiar com sua estrutura o “Fórum pela Acessibilidade”. Nesse ambiente discute-se nossa realidade e expectativas. Outro ponto de apoio importantíssimo tem sido o Ministério Público do Estado do Paraná. Nele encontramos suporte para cobranças que antigamente seriam impossíveis. Aliás, os Ministérios Públicos são a grande revolução no processo de disciplinamento de nossa sociedade. Precisam, contudo, de maior apoio e de independência financeira do Poder Executivo.
Precisamos mudar para melhor. As razões de nossos problemas não são mistério para os estudiosos. O fundamental, diante das tragédias que estão se tornando rotina, é trabalhar para mudar essa tendência à violência, à miséria. Assim, entre as muitas ações que deveremos empreender, cumprimentamos o IBDVA pela promoção do Primeiro Encontro Nacional do “Conhecendo e Respeitando as diferenças”.

Cascaes
9.3.2007




Educando e integrando

O estudante com necessidades especiais encontra barreiras imensas quando precisa freqüentar qualquer escola. As dificuldades começam ao sair de casa, fora tudo conspira contra a sua presença. Até em sala de aula as barreiras são sensíveis. Normalmente poucos professores e colegas de classe têm disposição para compensar as deficiências dos alunos e companheiros especiais.
A “modernização” dos cursos de terceiro grau, principalmente, reduziram os sentimentos de turma, de amigos que entravam e saiam juntos das universidades. As lógicas ultra competitivas do neoliberalismo e da globalização transformam jovens em feras, que disputam espaços sem grandes preocupações éticas. A formação de grandes multidões leva os indivíduos a se sentirem isolados, perdidos em massas disformes e agressivas às quais aos poucos se integram. A desagregação familiar pouco contribui para a formação de bons cidadãos...
O desafio maior, apesar de tudo, é criar condições de aprendizado aos portadores de deficiências. Para os indivíduos com problemas físicos as evidências orientam os responsáveis por esses lugares públicos. Não deve ser difícil identificar suas dificuldades e encontrar soluções para resolvê-las. As limitações serão financeiras e de boa vontade.
A acessibilidade e a integração são mais graves para aqueles que têm restrições de comunicação e, pior ainda, não evidenciam suas necessidades.
Com problemas de comunicação os estudantes portadores de deficiências encontram barreiras e rejeições entre colegas, que via de regra optam por identificar outros parceiros de equipes e de conversas. Nesse contexto o surdo, principalmente, é o aluno mais agredido. Se não é motivo de gracejos, é, no mínimo, pessoa indesejável em qualquer trabalho de equipe onde os professores jogam tarefas cujos resultados serão valores de mérito para todos. Nesse contexto o professor deverá ter habilidades para valorizar a presença do aluno especial, sinalizando para seus colegas algum benefício adicional, infelizmente.
Uma sugestão de alguém que vive o problema “integração” é a criação de monitores de apoio ao aluno especial, gente que seria treinada para isso, de preferência um aluno da própria sala, tendo alguma recompensa monetária ou de mérito e distinção ao final do curso. Esses monitores complementariam sistemas adicionais que a escola pudesse criar e disponibilizar ao aluno surdo (uma sugestão: livros técnicos didáticos eletrônicos, mais completos, com mais detalhes que os livros convencionais, feitos, entre outras coisas, para compensar deficiências de comunicação em aula) ou cego e aulas de reforço quando necessário.
O deficiente auditivo é extremamente penalizado na sua formação escolar a ponto de termos o seguinte (e lamentável) registro estatístico do ambiente escolar brasileiro: “5.750.809 possuem dificuldades auditivas ou surdez, no Brasil* , 519.460, até 17 anos de idade*, 276.884, entre 18 e 24 anos*, 56.024 surdos matriculados na educação básica**, 2.041 no ensino médio**, 300 alunos universitários com surdez** (*Censo Demográfico de 2000, do IBGE. **Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), de 2003)”.Essa progressão mostra a exclusão violenta contra o deficiente auditivo e o resultado final é a presença de uma fração infinitesimal de alunos em cursos superiores.
Podemos, assim, afirmar que existe a necessidade de se aplicar uma enorme campanha de educação em torno da tolerância e relação pró-ativa com os surdos. Esse projeto é mais do que urgente em nossas escolas. Podemos, entre outras questões, perguntar: as universidades públicas brasileiras estão se preparando para atender os alunos com necessidades especiais? O que elas têm feito? Por incrível que pareça é nas universidades privadas que encontramos mais atenção, principalmente em Curitiba. Aliás, nossos doutores em administração, pedagogia, sociologia e psicologia poderiam e deveriam fazer estudos meticulosos da evolução de nossas universidades, procurando causas e efeitos das leis criadas em torno do ensino superior no Brasil.
A integração do aluno com necessidades especiais em nossas escolas é um excelente indicador da educação de nosso povo. Queremos evoluir realmente?

Cascaes
31.8.2006

Próteses e equipamentos, P&D

Pessoas com deficiências visuais e auditivas têm muito a ganhar com a evolução da engenharia, arquitetura, urbanismo, medicina etc. Com certeza aos poucos algumas hipóteses de apoio vão se materializando ou apenas esperando quem lhes desenvolva. A engenharia genética acrescentará soluções a favor de todas as pessoas com necessidades especiais se for utilizada para isso. Tudo depende de prioridades em P&D que governos e empresas dêem a esse segmento da população.
Um fator de decisão importante é o crescimento da expectativa de vida das pessoas. A humanidade deve estar se aproximando do primeiro bilhão de indivíduos com mais de sessenta anos. Isso representa um tremendo filão comercial e político à disposição de quem decide e pode ganhar com isso, inclusive essas pessoas mais velhas. O crescimento desse povo deve mudar muita coisa, principalmente nos países mais sensíveis e realmente preocupados com o bem estar de todos os seus cidadãos.
Os urbanistas podem e devem rever seus critérios de concepção e planejamento das cidades. Elas são tão violentas em relação aos idosos que, mostram as estatísticas, fazem dos idosos as principais vítimas do trânsito. Nesse sentido a evolução da educação precisará caminhar par e passo com as soluções, pois esta é realmente a principal carência dos cidadãos. Tornar as cidades mais seguras e acessíveis aos seus habitantes mais carentes de cuidados é um belo e justo desafio.
Mas, dizíamos, a ciência oferece mais e mais oportunidades de solução para o aprimoramento da vida humana. No Brasil, a favor dessa caminhada, temos os fundos setoriais de apoio à pesquisa e desenvolvimento (vide portais dos ministérios atinentes ao assunto). É um volume de dinheiro razoável que também poderá ser utilizado para ajustes e criações nesse sentido. Além disso, até para melhor aproveitamento dos incentivos fiscais e utilização de verbas dedicadas à P&D, estão sendo criados institutos de pesquisa e laboratórios. Professores, cientistas e outros profissionais agora podem pleitear recursos e obtê-los para pesquisas a favor de nosso povo. O fundamental é que se encontre forma justa de aproveitamento desse dinheiro com um mínimo de burocracia e maximizando resultados.
A Web é uma ferramenta poderosa e nela poderemos acompanhar os programas federais de incentivo à pesquisa. Estudando-os eventualmente descobriremos falhas e deficiências que poderão ser corrigidas se soubermos agir politicamente. Ou seja, em nosso país abrem-se portas que precisam ser conhecidas e exploradas a favor das pessoas com necessidades especiais.
Em noticiários e programas científicos na televisão e também navegando na Internet descobriremos fundos internacionais de apoio à P&D. Multinacionais poderosas têm recursos para esse tipo de atividade. Nos Estados Unidos da América do Norte é tradição a doação de recursos para universidades e centros de pesquisa. Aqui nossos mega empresários ainda não avançaram muito nesse sentido, talvez porque as religiões aqui dominantes não mostrem esse caminho para o paraíso...
Os acidentes acontecem. As pessoas envelhecem. Gente que nunca se imaginou em cadeira de rodas ou aparelhos de surdez e óculos de lentes grossas já vive dependendo de próteses. Talvez alguns, com poder político, dinheiro pessoal ou sentimentos de amor ao próximo descubram que podem valorizar essa etapa de suas vidas apoiando centros de P&D no desenvolvimento de próteses, softwares, adaptação de aparelhos, ajustes urbanos, dos sistemas de transporte coletivo, lazer etc de modo a torná-los menos refratários à presença das pessoas especiais.
Inovação, criatividade e boa vontade são a receita de uma vida melhor para os idosos, os cegos, surdos, deficientes mentais e sensoriais. O fundamental é que as pessoas descubram que se a ciência viabiliza bombas atômicas, bombardeiros, tanques de guerra etc, pode também criar condições para uma vida melhor, mais segura e digna se todos se interessarem nesse desenvolvimento.

Cascaes
31.8.2006

Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência.

No Brasil sabemos festejar. Nosso carnaval é sucesso mundial e pelo Brasil afora as cidades vão descobrindo esse filão turístico e comercial. Aproveitando isso ou aquilo ganhamos roteiros permanentes de danças e cantorias variadas. Pelo menos isso. Talvez por isso tenhamos dias comemorativos de toda espécie. Alguns mais outros menos importantes.
Datas especiais podem lembrar algum santo ou ato histórico relevante. Existem também para se criar momentos de reflexões e de retomada de projetos que poderão ser esquecidos, se nada mais acontecer para relembrá-los. A mídia televisiva e nossos jornais têm assunto de sobra para preencher suas agendas.
Algumas datas são especiais, precisam ser valorizadas.
Merece destaque e está entre os mais importantes, nesse contexto, o Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes. Instituído pelos movimentos sociais em Encontro Nacional em 1982, foi escolhido o dia 21 de setembro pela proximidade com a primavera e o dia da árvore numa representação do nascimento de nossas reivindicações de cidadania e participação plena em igualdade de condições.
Esta data deve ser comemorada e lembrada todos os anos, servindo de momento de reflexão e busca de novos caminhos em nossas lutas a favor das pessoas com necessidades especiais, e também como forma de divulgar lutas e conquistas por inclusão social. Consolidando essa vontade, a Lei Nº 11.133, de 14 de Julho de 2005 instituiu o Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência.
Perguntamos: no Paraná, onde, como e quem fará desse dia um momento de reflexão sobre as pessoas especiais? Nossas entidades privadas e públicas terão algo a mostrar, demonstrando preocupação real com os deficientes auditivos, visuais, pessoas com restrições motoras, mentais etc?
Infelizmente o Brasil mergulhou em escândalos e em lógicas econômicas brutais. A mídia só fala em crimes e da necessidade de se combater a inflação com venenos mortais. O resultado é a alienação em relação a muitas questões tão ou mais importantes.
Queremos, ano a ano, mostrar a evolução, por exemplo, das nossas cidades. Elas estão implementando algo mais a favor dos cadeirantes? Os sistemas de comunicação em nossas rodoviárias têm painéis para suprir as necessidades dos surdos? O transporte coletivo é acessível, seguro? Os motoristas respeitam os pedestres, especialmente aqueles mais velhos? As calçadas têm piso seguro, transitável sem riscos de escorregões, tropeços e outras armadilhas? Nossos planejadores sabem o que é povo? Os clubes de serviço, ONGs, etc atuam firmemente a favor do cidadão comum ou se limitam a ações de rotina?
O mundo tem muitos exemplos bons e ruins. Recentemente, conversando com uma pessoa em grande cargo de planejamento, esse indivíduo relacionou cidades que acreditava serem modelos de respeito ao pedestre. Infelizmente, entre muitos exemplos, alguns simplesmente não mereceriam tal distinção, estavam, contudo, no imaginário dos paradigmas que essa pessoa julgava válidos para Curitiba. Assustador!
Uma característica do mundo moderno é a evolução. Se há algum tempo isso ou aquilo era bom ou suportável, agora existem soluções muito melhores, dando-nos a oportunidade de aprimoramentos reais e de excelente qualidade. Nesse contexto, se os gerentes de nossas cidades realmente quiserem, poderão transformá-las de forma positiva ou, seguindo conveniências de alguns, optar por separar o lixo, criar pistas de corrida em pleno centro urbano, eliminar calçadas, encher de árvores espaços que seriam para ocupação humana, etc. Aliás, é mais do que evidente a opção por bandeiras importadas em detrimento de propostas que a nação brasileira precisa urgentemente. As neuroses dos europeus são mais charmosas que as nossas carências.
O dia 21 de setembro precisa ser uma data de luta pela dignidade humana, pela vida decente para todos os homens e mulheres de nosso país, independentemente de suas restrições, ou melhor, considerando a necessidade de inclusão, de acessibilidade, de valorização de todos aqueles a quem chamamos de filhos de Deus.

Cascaes
1.9.2006


Universidade para surdos

O presidente Lula está viabilizando mais uma universidade no Paraná, a Universidade do Mercosul. Antes disso criou a UTFPR a partir do CEFET/PR, consagrando um complexo educacional de altíssimo nível em nosso estado.
Discute-se fortemente a criação de cotas em função da raça nas universidades brasileiras. Tese altamente polêmica, dá votos.
O ensino universitário no Brasil precisa ser rediscutido integralmente, inclusive uma autonomia que viabiliza um tremendo corporativismo, algo que o povo precisa olhar com mais atenção, afinal as escolas públicas devem ter por objetivo primordial atender as necessidades e anseios da nação; são mantidas com o dinheiro do contribuinte...
A mídia é a verdadeira mandatária das prioridades nacionais, como ela tem estado cheia de assuntos excitantes, as questões relativas aos portadores de deficiências ficaram em segundo plano. É um foco que precisa ser retomado com vigor.
Na educação o Paraná está maduro para mudanças mais do que necessárias, entre elas a maior atenção às pessoas com necessidades especiais.
Os cadeirantes encontram apelo fácil, pois é difícil ignorar a dependência de aparelhos para se locomoverem e os equipamentos públicos podem ser adaptados às suas condições de deslocamento, saúde e outras que eles, melhor do que ninguém, conhecem e sabem explicar. Podem e devem pretender a inclusão.
Carecemos, contudo, de atenção para os deficientes auditivos. Esses talvez estejam entre aqueles mais desprezados e rejeitados pela sociedade. Quem perde audição gradativamente vai descobrindo como as pessoas não têm paciência com aqueles que ouvem mal. Parece ser obrigação do surdo descobrir uma forma de adaptação aos que ouvem normalmente. O problema é infinitamente maior nas escolas. A solução tem sido a complementação de ensino aplicada pelos pais e mestres especiais. O pesadelo cresce à medida que o surdo sobe na escala da formação profissional.
As universidades são ambientes de competição que tem início no vestibular. Seus alunos são pessoas que se destacaram disputando vagas e querem, mais adiante, serem escolhidos entre outros para os melhores postos de trabalho. Ou seja, o egoísmo e a competição é a regra implícita nesses locais de lançamento dos futuros profissionais de nosso mundo.
A questão básica é: os surdos não mereceriam maior atenção? Por quê não se criar cursos de terceiro grau dedicados aos deficientes auditivos? Que tal elencar carreiras em que os deficientes auditivos teriam maior probabilidade de sucesso, começando por elas a formação de uma universidade para os surdos?
Na pátria americana do capitalismo, há mais de um século (1864), existe a Gallaudet University. Transcrevendo de seu portal http://www.gallaudet.edu/x228.xml : “By 1864, Congress authorized the Institution to confer college degrees, and President Abraham Lincoln signed the bill into law. Gallaudet (Edward Miner Gallaudet—son of Thomas Hopkins Gallaudet, founder of the first school for deaf students in the United States) was made president of the entire corporation, including the college, which that year had eight students enrolled. President Gallaudet presided over the first commencement in June, 1869 when three young men received diplomas for having completed the entire four-year course of studies. Their diplomas were signed by President Ulysses S. Grant and to this day the diplomas of all Gallaudet graduates are signed by the current U.S. President.”
Por quê não seguir esse caminho no Brasil? No Paraná a UFPR, a UTFPR, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná, consorciadas ou a mais capaz poderiam estabelecer um convênio (por exemplo) com a Gallaudet, criando a base da primeira universidade dedicada aos surdos brasileiros. Com certeza nosso povo aplaudiria essa iniciativa e assim criaria mais uma alternativa de atendimento às pessoas especiais de nosso país.

Cascaes
26.8.2006

Deseducação social

Há alguns anos um amigo, sócio e diretor de um colégio em Curitiba, confidenciou -me que um consultor contratado pela escola que dirigia terminou seu trabalho recomendando, entre outras coisas, que não facilitasse o ingresso de portadores de deficiências em sua escola, pois isso o levaria a perder alunos.
Em outro momento, discutindo na Secretaria de Educação do Estado do Paraná a inclusão de alunos especiais, concluímos que a maior preocupação de quem representava os professores era usar essa desculpa para aumentar salários.
Para surpresa nossa a Copel descontinuou (1995) um convênio com o CEFET/PR para desenvolvimento de equipamentos de apoio a pessoas com necessidades especiais, logo no início do último governo, antes do atual, sob o pretexto de que os cinqüenta mil reais que esse acordo significava seriam excessivos em relação a suas contas.
Na Prefeitura de Curitiba vemos o IPPUC resistindo à modernização e aprimoramento das calçadas curitibanas sob o pretexto de que precisa preservar imagens antigas, ainda que prejudiciais aos cadeirantes, aos cegos e aos idosos.
Vemos com tristeza ilimitada que pessoas que amamos são descriminadas nas universidades pelos próprios colegas por causa de deficiências eventuais.
Envelhecendo vamos descobrindo que nos tornamos motivo de chacota e desprezo pelos mais jovens.
Equipamentos urbanos, cidades, empresas, escolas e até em nossas casas sentimos que ter necessidades especiais é um pesadelo difícil de ser suportado diante da má educação que descobrimos por todo lado.
Felizmente temos leis e outros documentos legais pressionando por mudanças, algumas sutis e talvez mais eficientes, tais como a re-introdução de ciências mais humanas no currículo de nossas escolas. Precisamos, contudo, de muito mais.
Se a mídia gastasse a metade do tempo que usa em programas de promoção de defesa de florestas e animais selvagens na promoção de comportamentos mais fraternos, com certeza o Brasil seria muito melhor. Talvez por medo da valorização de ideologias socialistas, os programas de televisão concentram seus esforços no lixo, na camada de ozônio e no mico leão, ignorando que o maior perigo da humanidade é ela própria à medida que se abraça com atitudes racistas, de xenofobia, fundamentalismo religioso e valorização de competitividades sórdidas. Aliás, vivemos sob o império de lógicas monetaristas e na promoção de uma globalização sacana, onde o que importa é acumular riquezas, que ficamos sem entender a aplicação, a menos que gastemos algum tempo analisando a evolução dos banqueiros e especuladores nacionais e internacionais.
Nunca foi tão urgente quanto agora rediscutir o processo educativo, tão ou mais importante que a fabricação de técnicos, engenheiros, arquitetos, médicos etc. Profissionais mal educados continuarão a planejar e fazer cidades cruéis, escolas restritivas, hospitais para milionários, planejando e fazendo armas e não instrumentos de paz e amor, como chegou a ser saudação nos anos sessenta, por quê não?
O Congresso Nacional, antes de mergulhar na fase policial, discutia a elaboração dos estatutos e ajustes de leis a favor dos portadores de necessidades especiais, e nesse universo temos o idoso, um segmento da população que tende a crescer em número e percentual. Esse processo de evolução legal é importantíssimo para a viabilização da vida de todos os brasileiros. Não podemos continuar a ver famílias escondendo as crianças e os jovens com necessidades especiais em casa porque não encontram espaço seguro, pró-ativo e fraterno para seus entes queridos.
Nós, mais velhos, queremos andar, viajar, existir na sociedade sem medo de agressões, acidentes e restrições que poderiam ser reduzidas ou eliminadas. A esperança não morre. Acima de tudo, entretanto, precisamos nos unir para enfrentar os mais reativos a mudanças que todas as pessoas especiais precisam, se entendermos que o Brasil deve ser realmente justo e belo como alguns apregoam.

Cascaes
26.8.2006

Diplomas inteligentes

A discussão sobre a regulamentação da profissão de jornalista poderia nos remeter a outras polêmicas igualmente oportunas.
Qual a validade dos cursos convencionais?
São necessários?
A OAB agora exige uma bateria de exames para o indivíduo exercer a profissão que escolheu ao fazer o vestibular de Direito. Se esses exames são realmente eficazes, para quê exigir o diploma fornecido pelas faculdades de Direito?
Meu pai e o pai de meu pai eram eletricistas, excelentes eletricistas que sabiam mais do que a maioria dos engenheiros eletricistas que tive a oportunidade de conhecer. Meu avô tinha escolaridade até o terceiro ano do primeiro grau, como se diz hoje em dia. Meu pai completou o segundo grau. Nenhum deles era engenheiro. Pedro Cascaes, de quem tenho a honra de ser filho, falecido em 1966 por efeito de um câncer provavelmente provocado pelo cigarro, tinha carteirinha do Crea, pela qual precisou lutar até em tribunais onde quem o contestava não teve coragem de discutir engenharia.
Trabalhei quase vinte e sete anos na Copel. Lá conheci técnicos excelentes, pessoas incríveis, e muitos diplomados absolutamente ignorantes.
Fora da Copel, infelizmente, experimentei situações de sobrevivência na força de diplomas, pois a complexidade e importância das atividades de certos profissionais simplesmente não justificavam tantas exigências.
Somos um país que ganhou uma base fascista. Desse período herdamos o corporativismo radical que apareceu e se consolida à medida que a demagogia dos chefes políticos de plantão descobrem maneiras de ganhar votos privilegiando alguns em detrimento de outros. Aliás, o Brasil tende a consolidar o racismo na lógica das cotas, mais adiante teremos, provavelmente, a consolidação de rivalidades religiosas, futebolísticas e outras para agradecer votos de minorias que procuram na força escusa da consolidação de rivalidades primevas elementos de superioridade, tudo ainda para para conveniência de pessoas incompetentes e irresponsáveis.
Graças à tecnologia temos a possibilidade de aprendizado à distância. Além das aulas síncronas, mais caras, exigindo professores e alunos conectados simultaneamente, existe, também, a possibilidade de se aprender em lições previamente gravadas, assíncronas. Via correspondência esses alunos podem complementar suas aulas com CDs ou DVDs contendo aulas virtuais, laboratórios e museus, livros técnicos etc completando a bateria de informações que precisam. Universidades e escolas profissionais poderiam ter monitores e professores para complementação de ensino espalhados pelo nosso território e para consulta a critério dos alunos, nunca desprezando a vontade e capacidade do aluno ser autodidata, aprender como lhe for melhor. Estágios profissionais deveriam ser a base da formação prática que os laboratórios das escolas fazem de conta que oferecem, com raras exceções. Os títulos e diplomas tão amados deveriam ser obtidos por exames especiais, esses sim, feitos em locais definidos e sob fiscalização direta dos mestres. Ou seja, nada mais lógico do que os exames da Ordem dos Advogados que, implicitamente, dizem que os testes realizados nas universidades dizem muito pouco.
Mais do que diplomas devemos reforçar o conceito de aprendizado contínuo. Rara é a profissão que se completa nos bancos escolares. O ensino à distância é a maneira mais versátil para essa condição de estudo. Boas universidades e escolas de segundo grau podem estabelecer padrões e conteúdos necessários e suficientes a qualquer curso. Acima de tudo devemos libertar os alunos das salas de aula, tão importantes nos jardins de infância e no primeiro grau, mas elementos de exclusão do segundo grau em diante.
O Brasil precisa multiplicar cursos, principalmente com escolas que funcionem ininterruptamente, sem greves, sem perturbações causadas pelos professores e seus auxiliares e sob custos suportáveis pelo contribuinte. O ensino à distância, feito de maneira inteligente e honesta, é uma alternativa que carece de melhor análise.

Cascaes
28.7.2006

Acessibilidade e comunicabilidade

A humanidade caminha para outro período de loucuras. O reaquecimento da xenofobia, o fortalecimento do racismo e o vigor do fundamentalismo religioso são extremamente preocupantes. O desprezo pelos sentimentos de amor ao próximo chega a níveis absurdos, levando povos irmãos a se matarem por motivos estranhos, incompreensíveis para nós. Temos violências e um tremendo esforço de algumas ONGs para reforçar, entre nós, sentimentos de racismo e de fundamentalismo religioso e político. Felizmente nosso povo ainda se limita à violência convencional, excessiva, mas com perspectivas de solução se escolhermos governantes medianamente competentes.
Entre nós talvez o pior seja, contudo, o fundamentalismo monetarista que dominou o período FHC e agora manda em Lula. Para sustentar uma política econômica radical o Brasil travou seu desenvolvimento e submeteu a nação a constrangimentos incríveis. Pior ainda, aos poucos vamos descobrindo a falta de consistência em propostas de ajustes sociais mais do que necessários.
No Brasil, para confundir o povo, a mídia optou por bandeiras que não prejudicam seus patrocinadores. Assim ganhamos campanhas permanentes em torno do lixo, do mico leão dourado, do jacaré etc e esquecemos, entre outras prioridades mais do que reais, a criança catadora de lixo, por exemplo, afinal ela contribui para que tenhamos um lugar de destaque na reciclagem de latinhas de cerveja.
Se a miséria clássica apenas estimula campanhas de esmola, não convencendo o governo a se esforçar pelo desenvolvimento acelerado, mais do que necessário para que se retire da marginalidade milhões de brasileiros, que dizer do apoio às pessoas com alguma espécie de limitação física, sensorial ou mental?
Um exemplo perfeito da omissão de nossas autoridades existe no transporte coletivo rodoviário. Apesar de leis e decretos e da altíssima capacidade da indústria existente em nosso país, os ônibus para viagens intermunicipais e interestaduais são praticamente inacessíveis a pessoas que usam cadeiras de rodas, idosos, obesos etc. O passageiro é parte da receita. Os bagageiros elevados servem para muito mais, levando os usuários para um segundo andar a que devem chegar por escadas perigosas e estreitas. Acrescentando a má qualidade das rodoviárias e das calçadas ao cenário que apresentamos, veremos porquê a opção pelo transporte individual, sempre que possível.
Além das dificuldades de acesso notamos a falta de recursos de comunicação adequada. Para os deficientes visuais e auditivos o pesadelo é ainda maior. Pouco ou nada existe que facilite a vida desses companheiros. Tudo é feito a favor da “modicidade tarifária”, inclusive excluir discretamente pessoas que não interessam às concessionárias. Na lógica mórbida do vale tudo neoliberal, abandonar o povo à sua própria sorte é uma diretriz sagrada que os dirigentes privados e os sindicatos e funcionários de repartições públicas assumem sem maiores pudores.
Precisamos pensar se de fato acreditamos em Deus, se além de rezar e fazer genuflexões e caminhadas rituais entendemos e aceitamos leis universais, escritas no receituário ético de todo ser humano, se é que isso é verdade...
Precisamos de acessibilidade e comunicabilidade. Acessibilidade e comunicabilidade com o Grande Arquiteto do Universo para não esquecermos a necessidade de se aprimorar nossas instituições, cidades, ambiente de trabalho e lazer, onde todos, sem exceção precisam encontrar lugar para existir com dignidade.
A sociedade moderna se consolida como ambiente de exclusão por motivos esotéricos e materiais, que desastre!
Vamos, no Brasil, para mais um período eleitoral. Graças à miséria os barões do dinheiro e os empoleirados em postos de comando contratam miseráveis para segurar bandeiras e participar de passeatas. Felizmente nesse processo talvez algumas lideranças mais sensíveis apareçam e vençam as eleições. Carecemos de líderes que viabilizem a acessibilidade e a comunicabilidade da nação com os seus chefes para maior visibilidade dos problemas reais de nosso povo.

Cascaes
22.7.2006

Surdez e transporte coletivo

Entre os portadores de deficiências talvez os menos lembrados sejam aqueles que têm redução de capacidade auditiva. A mídia mostra com mais ênfase as pessoas que se apresentam nitidamente diferentes, esquecendo o drama de muitos que até não dão entrevistas por efeito da dificuldade de comunicação. Essas limitações se refletem na falta de cuidados que quase todos poderão sentir, se viverem o suficiente. O envelhecimento pode trazer problemas auditivos em pessoas já habituadas a ouvir normalmente. Nesses casos o desafio maior é a dificuldade de adaptação do idoso, levando-o ao isolamento até em conversas entre amigos.
No transporte coletivo urbano, interurbano e em todas as espécies de sistemas é fácil ver que esqueceram o surdo. Os sistemas de comunicação de emergências e operacionais dinâmicos, quando existem, principalmente em rodoviárias e terminais urbanos, são à base de alto-falantes, freqüentemente operados de forma tão precária que até as pessoas sem restrições auditivas encontram dificuldades de entender.
Felizmente a tecnologia é uma ciência que apresenta mais e mais recursos a favor da sobrevivência humana. É fácil e já não tão caro fazer e instalar painéis dinâmicos de comunicação escrita, ou, pelo menos, com sinais convencionais de alerta. Esses painéis deveriam ser colocados em pontos estratégicos, escolhidos criteriosamente, de modo a serem visíveis pelo maior número de pessoas, e com letras e sinais suficientemente grandes a compensar problemas visuais.
Alegar falta de recursos é algo difícil de aceitar quando vemos o luxo adotado pela Infraero em nossos aeroportos. As rodoviárias brasileiras são um caso de polícia, ruins para todos. Isso não significa, contudo, que devemos aceitar o que existe, afinal, basta existir alguma oportunidade de festa e mídia para governadores e prefeitos descobrirem recursos para enfeitar os lugares e circuitos dos “formadores de opinião” além fronteiras.
O deficiente auditivo precisa ver, ter luz, enxergar para compensar problemas de compreensão sonora. Isso também implica na qualidade da iluminação, na necessidade de prever contatos visuais até em locais reservados, como os banheiros públicos. Podemos e devemos imaginar situações em que a pessoa carente de assistência precisa ser descoberta e ela ter condições de se fazer anunciar. Afinal, temos ou não bons arquitetos, engenheiros e outros profissionais que planejam e constroem nossas cidades?
É nas cidades que sentimos a necessidade de mais cuidado com o idoso e o portador de deficiência(s), de modo geral. Somos um país com um povo onde predominam pessoas jovens ou adultos recentes, gente que ainda não sabe o que é ter limitações motoras, sensoriais e, ou, mentais. Um exemplo disso é o desprezo pelas calçadas, que além de mal feitas, abandonadas, são espaços de estacionamento de automóveis de indivíduos incapazes de compreender a importância desses circuitos para os pedestres, mais importantes, com certeza, para aqueles que têm restrições naturais ou adquiridas.
O transporte coletivo, entre as muitas atividades a serviço do povo, pode e é um sinal da sensibilidade de governantes que precisam entender que nosso maior problema é simplesmente sobreviver em ambientes tão hostis quanto estão ficando as cidades. Não precisamos procurar causas estranhas e complexas para morrer, para ficar isolados, é na rotina da vida urbana que descobriremos a violência e a omissão de nossas lideranças.
Concluindo queremos desafiar a todos a se mobilizarem a favor dos portadores de deficiências, e em nosso caso, em defesa dos deficientes auditivos. Há muito a ser feito e as soluções não são impossíveis. O fundamental é conscientizar os planejadores e gerentes de ruas, estradas, parques, rodoviárias, veículos, etc e aqueles que operam e transitam por esses equipamentos, lembrar-lhes que existem seres humanos que perderam ou nunca tiveram audição normal. Tendo consciência e boa vontade saberemos melhorar a vida dessas pessoas e de todos aqueles que viverem o suficiente para atingir a idade em que perdemos as qualidades físicas que talvez tenham marcado nosso comportamento mais juvenil.

Cascaes
16.3.2006


Livro eletrônico e gráficas “on line”

Tudo na natureza se transforma permanentemente. Nada é eterno. As mudanças acontecem gradativamente ou em meio a processos caóticos, explosivos. Ninguém poderá afirmar com segurança como será o futuro. Nossa ignorância é tremenda diante da natureza. E é grande também em relação ao que em tese já sabemos, dominamos. Ou seja, a humanidade já reúne conhecimentos que poderiam ter se transformado em produtos muito melhores do que aqueles que encontramos em nosso dia a dia. O que isso teria a ver com a natureza, por quê esse gancho?
É interessante sentir a resistência às mudanças. O atavismo, o saudosismo, a vontade de se manter coisas antigas é impressionante, contribuindo para não se perder o que o passado nos deu que mereça sustentar, mas também atrapalhando bastante em determinadas situações.
Nossos conhecimentos técnicos possibilitariam mudanças grandes de hábitos. Uma das mais significativas seria a utilização mais intensa da divulgação eletrônica de obras literárias e técnicas. No Brasil dificilmente encontraremos em alguma loja o que se convencionou chamar de “e-book”, um dispositivo que permite acumular textos e lê-los em qualquer lugar, tela grande, formato equivalente ao de nossos livros. De qualquer modo já encontramos “ipods” onde é possível armazenar centenas de livros. Equipamento com memória estática, de volume pequeno, portátil, capaz de ser guardado em nossas maletas, pastas ou ser carregado em nossos bolsos. A mídia divulga essas “prateleiras” como instrumentos musicais, MP3, são muito mais do que isso.
Universidades públicas, o MEC e nossas secretarias de educação poderiam começar processos de edição de livros técnicos didáticos e colocá-los sem custo à disposição dos alunos via “web”, contribuindo assim para a universalização da cultura técnica e convencional em nossa língua. Imagine-se o que significará a oferta de literatura consolidada, selo de qualidade, reconhecimento oficial, à disposição de todos, independentemente do lugar em que estiverem, desde que tenham acesso à internet. Direitos autorais podem ser compensados por prêmios, destaque e mídia que mostrariam a todos a qualidade dos profissionais que deram sua contribuição ao desenvolvimento de nosso povo. Tudo isso sem impedir o livro convencional.
E o livro de papel?
O custo financeiro, as dificuldades de transporte e armazenamento e a perda de qualidade, até por desatualização, poderiam ser compensados pela criação de gráficas em livrarias, gráficas de balcão, utilizando-se impressoras e dispositivos de cópia modernos, que poderão evoluir significativamente.
O cliente de uma livraria moderna chegaria a seus funcionários, escolheria o título, o formato de impressão, as ilustrações, se quisesse com fotografias da mamãe, do papai ou de amigos, voltando algumas horas depois para pegar o seu livro em papel do jeito que escolhera. Quem tem dinheiro pode se dar ao luxo que quiser e quem não é rico ainda assim poderia obter seus livros em padrão dos tempos da vovó ou do papai, escolhendo um papel inferior, impressão em preto e branco, encadernação mais simples. O fundamental é que a gráfica expressa seria a ponta de um sistema público de divulgação do livro eletrônico. Em nossas livrarias modernas, a cada dia com menos livros sérios e mais café, internet e música, poderíamos descobrir, por exemplo, a coleção de títulos que a nossa Biblioteca Nacional já oferece de graça via internet assim como obras interessantes em portais distantes, em qualquer lugar do mundo. O fundamental seria o apoio de especialistas nessas lojas onde buscaríamos livros que já não existem ou que poderão ser criados com as inúmeras verbas culturais criadas em todos os rincões de nosso país.
Podemos e devemos universalizar a cultura, precisamos, para tanto, usar com inteligência e competência os recursos que o mundo moderno oferece.

Cascaes
11.2.2006

Qualificação profissional

A Ordem dos Advogados aplica exames em bacharéis para avaliação de competência para o exercício da advocacia, exame que é exigência formal para finalização de acesso à carreira. Para dirigir automóvel não basta diploma, é necessário fazer exames de habilitação. Para muitas carreiras existem concursos que filtram profissionais na esperança de se garantir maior qualidade.
Para a gerência técnica de repartições públicas, concessionárias, prestadoras de serviços, empreiteiras etc, qualquer que seja o nível, parece que estamos necessitando de exames rigorosos de avaliação de competência. Principalmente em atividades que sejam essenciais ou tenham potencial elevado de acidentes, a sociedade carece de segurança. Títulos não são suficientes, há necessidade de algo mais. Os vexames mais recentes são assustadores. Punições e multas não devolvem a vida das vítimas, não pagam os prejuízos colossais que alguns desses eventos causaram.
O contribuinte, a comunidade precisa se proteger e não simplesmente vingar atos mal gerenciados.
Ficamos constrangidos vendo o desempenho de colegas engenheiros na televisão. Explicações esfarrapadas incomodam e mostram claramente que até eles não acreditam no que falam. Precisam preservar empregos e nomeações, não podem ofender os patrões.
A evolução das estruturas essenciais à vida moderna cobra um novo tipo de profissional. O desafio é descobrir o que se deveria exigir, como medir essa capacidade. Esse é um tema que precisa fugir a corporativismos e atavismos belos e inúteis. Infelizmente o diploma de engenheiro ou arquiteto permite ao formando fazer qualquer coisa, é só ver em que artigo da lei existe definida a sua atribuição. O simplismo aumenta com a fragilidade do curso. Escolas mal estruturadas, além de preparar mal os seus alunos, criam uma falsa impressão de domínio da profissão que preocupa os mais experientes.
Nunca é demais repetir, à medida que as cidades crescem e as demandas aumentam, entramos em instalações mais e mais complexas, capazes de produzir catástrofes se mal feitas, se forem operadas e mantidas de forma inadequada.
No Setor Elétrico isso é mais do que evidente. Os apagões mostram com mais destaque o resultado da imperícia de chefes e equipes técnicas, felizmente existem os raios para levarem a culpa das besteiras que fazem.
No ano passado vimos uma barragem nordestina “explodir” no primeiro enchimento. Provavelmente porquê envolve algum figurão, o assunto desapareceu do noticiário. O acidente da Cataguazes causou um dos maiores desastres ambientais, “acidente” perfeitamente previsível, evitável. No Paraná temos uma coleção de acidentes envolvendo a Petrobrás, ALL, Porto de Paranaguá, estradas etc.
A Defesa Civil, o CREA, a OAB, as Forças Armadas e outras instituições deveriam ser mobilizadas para análise desse perigo interno que não exige canhões ou bombas para solução. Nossos políticos teriam por aí um excelente tema de discussão e fonte de ações corretivas, disciplinadoras. Vivemos sob o império da Lei 8666, das lógicas dos custos minimizados. Zeramos a qualidade e a segurança. Aos poucos as empresas prestadoras de serviços, empreiteiras e fabricantes vão desprezando os melhores (e mais caros) profissionais, a melhor matéria prima e produzindo porcarias que matam e criam custos imprevisíveis.
Deveríamos calcular quanto tem custado ao Brasil essa lógica ingênua de construção e manutenção, certamente seríamos surpreendidos com a dimensão do problema.
Enquanto as melhores leis não acontecem, devemos pensar melhor na formação de nossos profissionais e na colocação desses trabalhadores em cargos estratégicos de nossas empresas. Talvez assim tenhamos mais qualidade de vida e segurança.

Cascaes
28.1.2005


Cultura Técnica

A polêmica criada diante da orientação estabelecida pela Eletrobrás em torno da utilização dos seus recursos de apoio cultural foi interessante, colocou questões importantes para a nossa realidade. É muito dinheiro, podendo viabilizar muita coisa. Quem dispõe de tanto poder certamente se transforma em objeto de disputa. O debate sobre essa “mina” trouxe – nos questões oportunas.
Como desenvolver obras de arte num país com as características brasileiras? Será que os artistas sempre dependerão de subsídios das estatais? As empresas privadas não poderiam fazer este papel? Por quê não temos uma indústria cinematográfica forte, tão rica em outros países? Quem paga não pode decidir sobre o conteúdo do projeto? As grandes empresas privadas apoiariam obras culturais com mensagens contrárias a seus interesses?
Essas dúvidas mereceriam uma discussão profunda no Congresso Nacional. Dela poderíamos lucrar análises e propostas mais objetivas e completas dos incentivos culturais. Talvez a nação ganhasse mais consistência no uso desses recursos, existentes em suas estatais e descontados do imposto de renda das empresas privadas.
Poderíamos, diante do que vimos e ouvimos, perguntar: por quê não reservar uma parcela significativa desse dinheiro para incentivo à produção de literatura técnica?
Lamentavelmente notamos as prateleiras de nossas livrarias vazias de livros técnicos. Na Engenharia encontraremos aqueles livros mais populares, faltando muito para atender as necessidades de nosso país. A falta e o preço elevado do que acontece viabilizam atos ilícitos mas necessários. O resultado é apreensões em fotocopiadoras, quando os alunos, sem outra alternativa, decidem xerocar livros para seus estudos. Um assunto que deveria ser pacífico torna-se policial diante do deserto de oportunidades de estudo em língua portuguesa, pagos em reais. Copia-se livros antigos, usa-se apostilas, cata-se cadernos velhos para que se possa formar engenheiros nesse Brasil sempre atrasado.
Há algum tempo lemos na revista Classe (mídia TAM) um artigo do Dr. Francisco Alberto Madia de Souza. Nessa oportunidade o diretor presidente da MADIAMUNDO MARKETING falava com entusiasmo do potencial do livro eletrônico. Sentia-se ali um espaço fantástico de edição, de acesso a livros, principalmente para o leitor de menor renda mas carente de cultura como todo ser humano.
Pesquisando sobre esse assunto sentimos receptividade na Eletrobrás, no CEPEL e na Memória da Eletricidade para a formação de uma biblioteca técnica, aplicando-se concursos nacionais e aproveitando-se o gigantesco espaço dos CDs e até da internet para a multiplicação e divulgação de obras literárias de Engenharia, feitas por pesquisadores, professores e profissionais atuando na área em nosso país. Infelizmente mudou o governo e os problemas maiores acabaram sufocando outras questões, que só aparecem quando alguma decisão polêmica atinge interesses de personalidades famosas, como aconteceu na divulgação dos critérios da Eletrobrás para uso de suas verbas de incentivo cultural.
Usando a tecnologia do livro eletrônico, a um custo desprezível, os nossos governos (municipais, estaduais e federal) poderiam, em pouco tempo, colocar à disposição dos milhões de estudantes e profissionais brasileiros uma literatura técnica moderna, atualizada, de baixo custo (~10% do preço do livro convencional). Para tanto haveria necessidade de se organizar uma base para operacionalização desse projeto. Os resultados dessa ação apareceriam logo no aprimoramento do ensino de profissões que ainda dependem de livros importados, caros, inacessíveis ao estudante que paga mensalidade e precisa sustentar sua família, servindo ainda como fonte de renda para muitos professores e outros profissionais capazes de produzir obras técnicas de boa qualidade.
O Brasil é um país carente com um tremendo potencial. Para crescer não precisa de muito, mas de uso preciso e adequado dos recursos que dispuser. A sugestão do Dr. Madia, aplicada à área técnica, é uma das pontes que precisamos para atingir um bom padrão de ensino técnico. Falta apenas o entusiasmo e o apoio real dos donos do poder. A tecnologia oferece o tremendo espaço do livro eletrônico, que poderá ser colocado à disposição de quem dele precisar via internet, CDs e outros possíveis meios de registro e divulgação de textos eletrônicos.

Cascaes
16.5.3


Ensino Especial à Distância

A tecnologia traz problemas e soluções, permanentemente. As cidades crescem, a velocidade no trânsito é um pesadelo assim como a insegurança sob aspectos complexos e triviais. Se algumas situações dependem apenas da competência dos administradores públicos, outras são inerentes às monstrópolis que se formam com o aumento da população.
Os problemas crescem à medida que as limitações aumentam. Pessoas saudáveis, com dinheiro para usar o veículo que precisarem, capazes de se adaptar com facilidade sempre terão vantagens no ambiente competitivo, que se forma até no aprendizado em escolas convencionais. Tudo se torna mais difícil, contudo, quando o alvo é a pessoa portadora de alguma deficiência.
Para o ensino presencial, clássico, precisamos de alunos perfeitos. Até os professores costumam tratar com muita crueldade qualquer perda de rendimento, ainda que causada por alguma dificuldade em ouvir, ver ou sentir o que o “mestre” acredita ensinar. No convívio escolar sentimos nitidamente a falta de vocação e até a ausência de amor ou respeito para com o aluno. Não raro encontraremos professores e alunos com problemas não convencionais, exigindo estratégias diferentes para o ajuste das aulas.
A grande revolução do final do século passado foi a internet. Graças a ela o mundo ganhou um padrão de comunicação que poucos puderam imaginar ser possível. Instantaneamente (on line) ou fora de sincronismo, em tempos diferentes (off line), é possível transmitir e até estabelecer diálogos entre alunos e professores. Aulas podem ser preparadas pelos melhores especialistas e usando o que houver de melhor para ilustrar suas apresentações. Cursos de todo tipo podem atingir pessoas com necessidades especiais assim como aqueles alunos que dispõem de pouco tempo para freqüentar aulas convencionais.
Para suporte ao ensino as escolas poderiam criar centros de apoio onde professores, durante todo o tempo necessário, estariam livres para atender seus alunos em contatos diretos com a ajuda de laboratórios e bibliotecas. As provas, testes que muitos professores tanto apreciam, poderiam ser aplicadas até em hotéis e balneários, criando uma “freguesia” intelectual nesses lugares de residência temporária. Em torno do ensino à distância existe um universo de oportunidades inexploradas, só esperando alguma instituição competente para implementá-las.
Em Curitiba temos algumas iniciativas importantes em diversas escolas, mas ainda não vemos algo a favor dos portadores de deficiências. Nossas universidades poderiam dedicar um tempo maior à criação de cursos para as pessoas com necessidades especiais. Algumas delas, como é o caso da Tuiuti, têm tradição no atendimento a pessoas portadoras de deficiências. Tendo cursos de pedagogia, núcleos de edição (filmes, CDs, livros) e capacidade de acesso a fontes de recursos federais (fundos setoriais e outros) essas escolas teriam como formar centros de edição de cursos à distância de toda espécie para atender idosos, cegos, surdos, paraplégicos etc.
Durante algum tempo tivemos a esperança de formar com um clube de serviços um sistema de ensino à distância para os PPDs. Visitamos até o escritório da UNESCO em Brasília onde sentimos o entusiasmo e disposição daquela entidade em colaborar com essa iniciativa. Infelizmente a burocracia dessa entidade dedicada a “serviços sociais” mostrou-se incrivelmente lenta e ineficaz, inibindo um sentimento que era enorme no princípio da jornada.
Sabemos que um centro de edição de cursos, dedicado às pessoas com necessidades especiais, poderá ganhar o mundo, onde cresce o número de pessoas idosas e outras, prejudicadas por acidentes, remédios inadequados e todo tipo de doença e má alimentação.
Precisamos descobrir uma forma de utilizar o poder das novas tecnologias para a criação de sistemas de baixo custo, potentes e eficientes para o ensino de pessoas com necessidades especiais. O Ensino Especial à Distância é uma excelente ferramenta nesse sentido.

Cascaes
9.2.3

Literatura e normas técnicas

A universalização da cultura tem, agora, as imensas facilidades geradas pela tecnologia. A internet, utilizando recursos de comunicação de grande capacidade e velocidade, é um maravilhoso presente do céu. Para muitos que não podem acessar a internet existe a possibilidade de utilização de PCs e CDs, com todas as facilidades que a informática produziu. O livro eletrônico é uma realidade maravilhosa. A dificuldade, nesse caso, é a compreensão e utilização desse potencial pois a inércia comportamental e intelectual é incrível, típicas de qualquer ser humano.
O Brasil precisa desenvolver um imenso programa de formação profissional para acelerar seu desenvolvimento e se aproximar dos países mais ricos.
O ensino à distância já é parte dos projetos do Ministério da Educação, com diversos programas em andamento, inclusive alguns com o apoio de algumas redes de televisão. Isso é ótimo, deve estar influindo positivamente na vida de muitos brasileiros. Infelizmente é difícil avaliar a produtividade e alcance mas, pouco a pouco, deverão aparecer resultados nesse imenso Brasil.
Alguns recursos, contudo, não têm sido utilizados adequadamente.
O MEC deveria estimular, apoiar, impulsionar um programa amplo de produção de livros eletrônicos. Na área da Engenharia, por exemplo, sentimos a decadência brutal da oferta de livros nas livrarias existentes. O ensino fica tremendamente prejudicado pela falta de suporte literário, com todas as seqüelas possíveis e imagináveis na vida profissional dos futuros engenheiros. Com o apoio de grandes indústrias e utilização de algum fundo setorial existente ou a ser criado haveria como, em pouco tempo, estabelecer concursos, selecionar e publicar centenas de livros sem papel, via internet ou CDs. Note-se que o livro eletrônico poderá conter informações dinâmicas, criar links, trazer imagens que o livro convencional nunca conseguiu oferecer. Assim, a custos muito baixos, o Brasil geraria em língua portuguesa e com padrões modernos a base de apoio que os professores e alunos, pesquisadores e profissionais precisam para melhor desempenho de suas atividades.
Dentro dessa lógica seria ótimo, também, se a ABNT sofresse uma mudança radical. As normas técnicas brasileiras deveriam estar à disposição de todos, sem qualquer custo. Para isso a internet seria a ferramenta ideal e rápida. Some-se a facilidade de atualização desses documentos, poder-se-ia imaginar a tremenda alavancagem que a nação daria na evolução de suas tecnologias. Atualmente a situação é kafkiana, merecendo uma boa análise de alguma comissão técnica do Congresso Nacional, do MEC e do Ministério da Indústria e Comércio. Os custos de sustentação da ABNT poderiam ser absorvidos pelos CREAs ou outras entidades, e sua estrutura deveria ser revista para, acima de tudo, possibilitar a oferta maciça de seus produtos à nação.
O Brasil é um país enorme com uma população carente de informações. O atendimento a suas necessidades precisa apoiar-se em tecnologias de baixo custo, de fácil acessibilidade e confiabilidade. Os governos estaduais, o federal e até as grandes empresas poderiam implementar e aprimorar um programa de educação à distância abrangente, sem lacunas, emergencial. Com os recursos de edição eletrônica, internet e dos fundos setoriais haveria como mudar a cara de nosso povo, tirá-lo da ignorância, trazê-lo para o século 21. Precisamos de ousadia, amor à pátria e disposição para compreender e utilizar novas tecnologias.
Época de eleições é período de novas propostas, programas e promessas. Talvez alguns candidatos descubram o filão existente nessa área. Muito poderá ser feito com alguma competência e honestidade. É só querer.

Cascaes
7.9.2


O portador de deficiências e o governo

A campanha eleitoral deu aos candidatos a oportunidade de apresentarem seus programas de ação, se eleitos. Sintomaticamente quase não ouvimos propostas a favor dos portadores de deficiências. Cegos, surdos, paraplégicos, os idosos, enfim todos aqueles com restrições motoras, sensoriais e / ou mentais foram esquecidos. Diante da tragédia social em que vivemos, a prioridade foi dizer o elementar, ou seja, a necessidade de mais empregos para todos, segurança, saúde etc. Os marqueteiros sabiam que o povo brasileiro já não esperava padrões maiores que os mínimos necessários à própria sobrevivência.
Nota-se que as necessidades das pessoas com alguma restrição em relação ao padrão são ignoradas em quase todas as iniciativas privadas e públicas. Calçadas, sinalização, arranjos arquitetônicos e urbanísticos, telecomunicações, enfim, em praticamente todas as atividades o cidadão especial é ignorado. Quando muito se faz alguma rampa ou banheiro adaptado, muito mais por força de lei do que por vontade de atender bem.
Recentemente, em reunião na Fundação Ecumênica, ficamos perplexos com o tratamento que as escolas especiais tiveram durante a administração da ex secretária da educação, Dra. Saliba. A revolta dos líderes presentes era clara e inequívoca, quando, em suas manifestações, exemplificavam mostrando o relacionamento com a Secretaria de Educação do Estado do Paraná, antigamente tida como exemplo no desenvolvimento de ações a favor dos PPDs. O desprezo dessa Secretária pelos portadores de deficiências nessa fase tenebrosa de sua história ficará na memória dos paranaenses, ela não será esquecida.
Infelizmente o problema é maior que o Paraná. Vale lembrar que apesar da discurseira, os sistemas de televisão do Senado e da Câmara de Deputados não apresentam qualquer recurso de compreensão para os deficientes auditivos e também não têm programa dedicado às questões relativas aos portadores de deficiências. Se nossos legisladores abandonam as pessoas com necessidades especiais, fica fácil de entender a omissão generalizada das autoridades de nosso país, com raras exceções (onde?).
A tecnologia permite soluções onde antes tínhamos situações complexas. Para as pessoas com necessidades especiais existem próteses mais e mais eficazes, tratamentos que poderiam reduzir traumas e melhorar o estado da pessoa atingida por alguma doença ou acidente, além de processos educacionais mais eficazes. Para isso seria importante haver mais atenção, mais recursos.
É interessante ver no Brasil a imensa mobilização contra a AIDS e o esquecimento dos hemofílicos, cancerosos, PPDs, dos chagásicos etc. Sente-se que os problemas sociais só ganham importância quando atingem pessoas importantes...
Tivemos, com o Plano Real, a oportunidade de gastar bilhões de dólares em turismo no exterior, na importação de automóveis e bebidas de toda espécie, no exercício de luxos que agora pesam nas contas externas brasileiras. Importamos até sucata de porta aviões. Dessa fortuna pouco se gastou, entretanto, com a importação de equipamentos hospitalares, aparelhos para tratamento de PPDs e próteses especiais para nosso povo. Aliás, povo no Brasil tem sido sinônimo de material de consumo sob todos os aspectos.
A mudança de comando do país traz uma imensa esperança de maior atenção aos brasileiros, realmente carentes de cuidados públicos. Milhões de cidadãos esperam a oportunidade de poderem trabalhar, de viver com dignidade nesse país tão rico naturalmente e tão pobre de espíritos sadios. É hora de mudança, as esperanças são grandes. Que Deus queira que não sejamos frustrados mais uma vez.

Cascaes
26.10.02

Comunicação para os portadores de deficiências auditivas

A luta contra a fome no Brasil, país exportador de alimentos, mostra a violência de um povo capaz de rezar e fazer cerimônias complexas mas resistente a qualquer coisa além da caridade de fim de semana. As ruas mostram inúmeros carros importados e os famosos shoppings vendem artigos de luxo caríssimos. Para importá-los o Brasil exporta carne, arroz, soja e outros produtos alimentícios. Precisamos de dólares para sustentar costumes de nações ricas. A insensibilidade apresenta outros aspectos, entre eles o desprezo pelos portadores de deficiências. É mais importante preservar uma calçada feita há meio século do que torná-la transitável para os dependentes de cadeiras de rodas. Os exemplos são absurdamente numerosos e refletem o comportamento de seres humanos recém saídos das selvas. Cheios de medo, de superstições e vazios de vontades reais de construir um mundo melhor.
Agravando tudo vemos filosofias individualistas ganharem os povos mais ricos, deles vindo a determinação de relações mais duras, menos assistencialistas, como gostam de dizer.
Pode-se, entretanto, fazer muito até dentro da pior lógica capitalista. Existe um mercado gigantesco de produtos que poderiam melhorar a vida dos idosos, dos paraplégicos, surdos, pessoas com problemas mentais, sensoriais e motoras. Estima-se em torno de 10% a população com problemas dentro do que se convenciona qualificar como portadora de deficiências.
Nas telecomunicações os surdos já podem utilizar o recurso de mensagens escritas. Graças aos “torpedos” trocam mensagens, integrando-se à comunicação à distância. Os filmes legendados ou com tradução para a LIBRAS permitem a compreensão de imagens antes sem lógica para o espectador. Com certeza teremos muito mais se a Humanidade não se consumir em guerras. A ciência mostra mais e mais ferramentas que, bem usadas, integrarão muitos excluídos da vida normal.
Entre o que se poderia fazer de imediato seria a adaptação dos sistemas de socorro e apoio aos serviços de comunicação via celulares. Diante de um acidente a operadora, pré informada da posse de celular por algum PPD, teria um padrão escrito (torpedos) de questionamento e informação ou outra forma simplificada de apoio. Com os computadores é fácil preparar um estoque de informações que seriam acionadas diante de qualquer código. Além de tornar o processo mais seguro, evitaria que o surdo (por exemplo) se sentisse totalmente perdido na ocorrência de uma emergência em que necessitasse de assistência médica, jurídica, técnica ou qualquer outra.
A vitória de Luís Inácio Lula da Silva traz a esperança de mais atenção com os problemas de sobrevivência dos brasileiros. Superamos, talvez, a fase de desprezo do governo FHC. É bom repetir, “talvez”, pois vemos tantos economistas na equipe Lula que ficamos assustados. De que “escola” seriam esses fazedores de números cabalísticos? Esperamos que eles não convençam o Presidente a esquecer seus discursos.
O Brasil é um país que se entope de MSc e PHDs. As universidades públicas, por piores que sejam, têm pesquisadores e laboratórios. Que maravilhoso seria se parte desse potencial fosse utilizado para o desenvolvimento de recursos a favor dos portadores de deficiências. No Congresso Nacional encontramos centenas de brasileiros eleitos, seria ótimo se eles abraçassem a causa dos PPDs com mais criatividade e disposição. A mediocridade eterniza problemas que nosso país já poderia ter resolvido.
É triste observar o drama da sobrevivência de pessoas que poderiam estar trabalhando, produzindo, mas se vêem limitadas pela falta de pequenos aprimoramentos da estrutura urbana, nos aparelhos das concessionárias, em tudo o que forma essa sociedade de seres humanos rezadores e pagadores de promessas.

Cascaes
21.11.02

O bom professor
Lecionar é arte difícil, desafio que poucos conseguem vencer com eficácia. Nossas escolas são o resultado de um processo educacional que vem do início da história da Humanidade, onde, em seus primórdios, ensinar era mais o compromisso de mestres de ofício ou de pessoas que acreditavam na necessidade de conquistar mentes jovens ou treinar soldados.
A diretriz religiosa dominou a educação no mundo ocidental. Para ler bíblias era preciso dominar as letras.
A revolução industrial criou outro tipo de escola, aquela que produzia operários capazes de usar máquinas e vender, registrar e criar produtos em escala. Paralelamente os exércitos ganharam sofisticação, precisando de pessoas bem treinadas, aptas a calcular a trajetória da bala de canhão e dóceis o suficiente para aceitarem serem mortas em qualquer campo de batalha. A disciplina, de modo geral, ganhou força nas salas de aula.
O trabalhador disciplinado é a grande riqueza de muitas nações. Ricas em dólares e pobres em personalidades, pois é difícil produzir as duas coisas ao mesmo tempo.
Felizmente o número de escolas cresceu muito em nosso território. A flexibilização de critérios do MEC permitiu a milhões de brasileiros freqüentar escolas universitárias. O ensino privado exige pagamento de mensalidades, precisa de alunos com dinheiro. Trabalhando ou não para pagar suas mensalidades, a verdade é que muitos brasileiros, graças às escolas noturnas, principalmente, agora podem sonhar com um diploma, super valorizado nesse Brasil corporativo, cartorialista, cheio de leis e regras para o exercício de qualquer profissão.
A contrapartida dessa oferta de bancos escolares é a existência de um enorme contingente de alunos que vão para as aulas cansados, com horas reduzidas, carentes de recursos adicionais para a compra de livros e de tempo para grandes pesquisas e trabalhos. Como trabalhar com esse tipo de aluno?
Profissionais antigos de profissão, pessoas que realmente exercem suas atividades definidas em diploma, sabem que as universidades são a base de uma vida onde a grande escola é o próprio exercício da profissão. Ninguém sai das escolas preparado para, de imediato, construir, curar, ensinar. A vida é a principal mestra e nela o profissional mais responsável procurará as lições que teoricamente recebeu nos bancos escolares. Dos tempos de aula formal deverá trazer, muito bem consolidado, a base teórica, o domínio das ciências que servirão de suporte para o raciocínio universal. O aprimoramento profissional, entretanto, será produto de aprendizado permanente. Aliás, é divertido observar a visão do estudante em relação à carreira que tiver escolhido. Exceto as profissões mais óbvias (Medicina entre elas), do resto terá pouca sensibilidade dos desafios que enfrentará.
Nesse contexto podemos perguntar como o professor deverá se comportar. Será ele um rigoroso disciplinador? Muitas profissões exigem criatividade, não seria a criatividade produto da iconoclastia? A Engenharia, por exemplo, necessita de profissionais com amplos conhecimentos.
Outro aspecto sensível é o preciosismo do mestre, cobrando estudos e trabalhos extensos, profundos dos alunos. Se o aluno freqüenta uma escola onde um professor domina as aulas, impondo dedicação maior à sua cadeira, aterrorizando o estudante, não estará sendo prejudicado à medida que ficar sem tempo para estudar as outras matérias?
Para ensinar o professor enfrenta muitos desafios. Qualquer professor, via de regra dirá que faltam laboratórios, bibliotecas decentes, alunos com disponibilidade para o estudo que a amplitude de sua disciplina exige. Diante de tudo isso, sendo brasileiro, terá que saber conciliar sua visão de domínio de sua cadeira com a realidade. Para tanto deverá, dominando todos os seus paradigmas de ensino, gostar do aluno e com ele vivenciar um plano de ensino que forme cidadãos preparados para a vida.

Cascaes
14.11.02


Redução de custos

A redução de custos tem sido uma diretriz forte nas administrações das empresas. A globalização abriu fronteiras, trazendo competidores nem sempre equivalentes. Em muitos países o trabalho infantil, a falta de leis justas e subsídios de toda espécie reduzem custos que uma nação mais desenvolvida não tem como competir.
A Humanidade precisa com urgência impor padrões internacionais de trabalho, sob pena de se institucionalizar a escravidão, ainda que camuflada, escondida sob diversas formas.
Para baixar custos no Brasil utiliza-se intensamente a terceirização e outros subterfúgios, inclusive com prejuízos fiscais para a nação. Infelizmente não existe uma atenção maior de nosso povo com o prejuízo causado pelas importações ilegais e mesmo o não pagamento de impostos, muitos menos com a degradação de serviços mal controlados.
A automação é uma forma de diminuir preços. A tecnologia permite substituir gente por aparelhos mais sofisticados, em alguns casos diminuindo drasticamente a participação de operários. Isso tem um preço social elevado num país com tantos desempregados. A preocupação do empregador em diminuir o número de funcionários também se deve aos excessos de uma legislação e jurisprudência que pretendem defender o trabalhador, mas que, no Brasil, geraram formas de pressão insuportável para muitas empresas.
Reduzir custos, entretanto, é algo extremamente positivo quando possibilita maior consumo de produtos essenciais, de artigos de conforto e educação. Nesse sentido muita coisa poderá ser feita se alguns dogmas e preconceitos forem superados. O ensino à distância, por exemplo, tem um potencial colossal com as novas tecnologias de comunicação. O estudante poderá ter a escola em casa e não mais ser obrigado a deslocamentos enormes. Estudo simultâneo ou não ao trabalho de professores à distância, há como transmitir muito a custos menores para gente que talvez de outra forma fosse impedida de aprender o que todas as ciências acumulam.
Para o processo cultural é possível a utilização de uma coleção de recursos que começaram pela criação do alfabeto, das técnicas de redação, do livro impresso (a invenção de Guttemberg mudou a história da Humanidade), avançou com os discos e filmes e agora a internet. Logo teremos no mercado os televisores digitais, acrescentando um terminal poderoso nas casas, escolas e clubes. O desafio é utilizar, de forma inteligente e eficaz, o potencial tecnológico à nossa disposição.
A globalização forçou mudanças de paradigmas. Pode-se dizer que agora “quem não corre fica para trás”. Nesse cenário de altíssima competitividade a diminuição dos custos e maior eficácia do processo educacional é o desafio que as grandes nações estão sabendo explorar. No Brasil já temos as emissoras de televisão educativas, os programas de tele-ensino e o início do ensino à distância formal. Isso é maravilhoso, pois sabemos que milhões de brasileiros não podem freqüentar escolas regulares por diversas razões, entre elas a disponibilidade de tempo (trabalham), as grandes distâncias, a agressividade do ambiente urbano e a impossibilidade de pagar mensalidades elevadas em relação ao poder aquisitivo que possuem.
Reduzir custos simplesmente é algo com aspectos positivos e negativos, mas, para grande parte dos brasileiros, penalizados pelo desemprego num país com tantas oportunidades, aprender usando formas de baixo custo será a redenção ou pelo menos a esperança de um progresso mais do que justo e necessário.

Cascaes
7.6.2


Biblioteca Nacional

Meu amigo Professor Pucci costuma me mandar boas histórias e notícias. Entre suas colaborações, a mais recente foi apontar para o site http://www.bn.br/ da Fundação Biblioteca Nacional. Nesse endereço uma belíssima coleção de livros clássicos (autores nacionais) poderá ser obtida de graça via internet. Esse é um excelente exemplo da tecnologia a favor da cultura. Outro endereço indicado pelo Professor, amigo e Irmão (,’,) Pucci (Universidade Católica do Paraná) é http://www.terra.com.br/educacao/index_virtualbooks.htm, o que mostra a riqueza de oportunidades que a internet está oferecendo.
O site da Biblioteca Nacional tem livros de Machado de Assis a Aluísio de Azevedo, não são muitos, mas o suficiente para oferecer um bom tempo de distração e cultura.
A iniciativa dessas entidades (Fundação Biblioteca Nacional e provedora Terra) mostra quanto poderemos progredir num país em que os custos pesam demais nos salários absurdamente baixos de muitos brasileiros. Evidentemente não veremos computadores e internet em barracos de favelas, mas em bibliotecas escolares e públicas será possível instalar sistemas para leitura pela nossa gente mais pobre.
Entre o livro gratuito e o encadernado cheio de frescuras e muito caro existe agora, além das clássicas brochuras e simples cópias xerox, o livro eletrônico pago, vendido em CDs ou mesmo via internet.
As possibilidades da eletrônica são imensas. As ilustrações dos livros poderão ganhar vida, o texto conter oportunidades de contato com o autor ou entre leitores, espaço para exercícios, ou seja, uma nova forma de comunicação com um potencial espetacular do ponto de vista didático e cultural.
Nisso tudo ficamos imaginando portais dedicados à Medicina, à Engenharia, Arquitetura, Urbanismo, Direito e outras atividades humanas. Lembrando que vivemos num país de dimensões continentais e que o custo dessas obras poderia ficar em torno de 10% do preço dos livros atuais, sugerindo que tragam mídia paga e outros recursos para redução de custos, não deixando esquecer que grandes empresas poderiam fazer concursos para escolha das melhores contribuições e que os fundos setoriais estão com muito dinheiro esperando bons projetos, ganhamos a certeza de que o Brasil poderia, dentro de poucos anos, gerar uma tremenda biblioteca a favor de seu povo, de preços baixos, atualizada, pró-ativa, dinâmica.
No setor elétrico, por exemplo, tivemos durante um tempo a maravilhosa série “Memória da Eletricidade” editada pelo Centro de Memória da Eletricidade no Brasil. Eram tempos do império do papel, os livros eram de acesso difícil, mas foram as grandes opções de registro da cultura, da história e da ciência. Agora temos a eletrônica, a cibernética, a internet; por quê demoramos tanto para tirar dessas ferramentas de comunicação o que realmente precisamos para crescer?
A acessibilidade à cultura, às publicações científicas e outros trabalhos de interesse geral é fundamental ao desenvolvimento de qualquer indivíduo. A grande chave do progresso da Humanidade foi a universalização cultural graças à escrita, aos livros e tudo o mais. Nesse terceiro milênio teremos muito mais. Isso dá a esperança de evolução, de desenvolvimento acelerado e positivo se essas formas de comunicação forem utilizadas corretamente.
Universidades, centros de pesquisa, entidades dedicadas a estudos científicos e sociais ganham formas de custo reduzido para divulgação de seus trabalhos. Um bom exemplo é apontado pelo nosso amigo Pucci.
Parabéns para a Biblioteca Nacional e provedora Terra e muito obrigado mano Pucci pelas dicas.

Cascaes
6.6.2


Televisões e os deficientes auditivos

O portador de deficiência sobra quando os problemas sociais aumentam. O povo brasileiro passa por um momento tenebroso. A criminalidade, o desemprego e a redução do poder aquisitivo de todos aqueles que dependem de salários ou aposentadorias deixam a todos sem maiores preocupações do que simplesmente sobreviver. Perde-se esperanças quando se observa o buraco em que o país mergulhou por efeito dos “gênios e homens cultos” que nos governaram.
Os problemas poderiam ser menores, contudo, se alguns cuidados existissem. Entre todos, os portadores de deficiências estão entre os mais atingidos pela indiferença da nação. Percebe-se a despreocupação com todos eles quando notamos a desatenção dos vereadores e prefeitos, materializada por calçadas intransitáveis, ruas que se transformam em pistas de alta velocidade, sinalização precária, ausência de guardas, falta de mídia e educação para com o idoso, a criança e todos aqueles com restrições motoras, sensoriais e mentais (e/ou). As campanhas de esmolas continuam, afinal ajudam muitos a ganhar o céu e a limpar a consciência suja...
O Congresso Nacional será renovado. Muitos chegarão pela primeira vez ao Parlamento Nacional. Em Brasília poderão fazer e corrigir leis. Ótimo, precisamos ajustar muita coisa, se possível humanizando um governo que tem sido extremamente solícito aos banqueiros, talvez agora tenhamos alguém querendo nosso povo.
Ensino à distância é algo que existe desde a invenção do Correio. Nos EUA os primeiros cursos surgiram ao final do século 19. Educar é algo mais do que simplesmente dar diplomas, aliás esse documento de formalização de aprendizado é um bom instrumento de corporações e cartórios. Que seria do incompetente se não existissem formalismos? Como o burocrata viveria? Tudo tem seu lado positivo mas a supervalorização do diploma é algo que mereceria uma análise maior. Educar, felizmente, é algo mais do que conceder atribuições.
A televisão é um grande instrumento de educação em nosso país. Sendo instrumento de concessão e enriquecimento, nem sempre é o veículo adequado a ensinar crianças, jovens e adultos mas é uma realidade concreta, que precisa ser considerada em nossos processos de desenvolvimento.
Entre os canais de televisão existentes merece destaque a TV Câmara de Deputados e a TV Senado. Elas têm mostrado programas excelentes, de altíssimo valor cultural. Nelas, contudo, falta um padrão de comunicação que auxilie o portador de deficiência auditiva. Lamentavelmente não oferecem imagem simultânea de intérprete para a linguagem de sinais e, ou, legendas. Poderiam, como a TV Globo mostra em muitos de seus programas, ser apresentados em “close caption”, técnica obrigatória nos programas norte americanos e certamente em outros países mais desenvolvidos.
O Paraná elegeu Flávio Arns senador. Na Câmara de Deputados ele não conseguiu transmitir essa preocupação (ajuste para os surdos da TV Câmara de Deputados) ao comando da casa. Esperamos que no Senado consiga aprimorar serviços, entre eles as mudanças no próprio sistema de telecomunicações do Senado. Nossa esperança recai sobre o nosso senador pois ele foi presidente das APAEs, estando bem consciente da falta de atenção das nossas autoridades para com os portadores de deficiências.
Entre o ouvinte perfeito e o surdo absoluto existe uma graduação de sensibilidade, todos eles, contudo, a partir do deficiente com redução média têm nas legendas e linguagem de sinais (essa mais específica, dependendo de treinamento e boa visão) uma janela para o mundo. Nossa esperança é ter boa representação no Congresso. Com certeza os portadores de deficiências auditivas ganharão muito se, entre muitos outros ajustes, os sistemas de telecomunicação do Congresso Nacional se ajustarem às necessidades dos surdos.
Estamos felizes e esperançosos com a eleição de Flávio Arns para o Senado.

Cascaes
11.10.02


Universalização da cultura técnica

O Brasil precisa se desenvolver aceleradamente. Nossos índices falam por si só, mostrando a necessidade de implementação de processos educacionais em grande escala e com objetivos estratégicos.
Entre as grandes falhas brasileiras está a falta de cursos em quantidade e qualidade suficientes e necessários à formação de técnicos. A instrução de artes profissionais é uma necessidade sensível num país que prioriza escolas de terceiro grau e carece de um arsenal humano para as tarefas de nível intermediário. O profissional de segundo grau é figura rara. Encontramos muito mais os autodidatas do que pessoas preparadas em escolas técnicas, demonstrando uma falha lamentável em nossa estrutura escolar. Chegamos ao absurdo de ver escolas técnicas sendo transformadas em cursos de nível superior com o abandono das classes de segundo grau.
O resultado no Brasil é a indústria das ARTs, da regulamentação de profissões feitas mais para criar privilégios do que para proteger profissionais e clientes. Talvez pela ausência de oportunidades de trabalho digno, os diplomados acabem ocupando espaços em ofícios que tranqüilamente seriam exercidos por técnicos. A nação não se valoriza de baixo para cima, ou melhor, aqui a pessoa humilde é tratada com padrões típicos de miseráveis. Não vemos sindicatos de desempregados, desconhecemos leis que estimulem o emprego, não sabemos de políticas que valorizem as pessoas mais pobres, sempre tratadas como dignas de esmolas, nunca dentro de lógicas de valorização e promoção de trabalhos que poderiam fazer.
Felizmente a tecnologia do ensino à distância se desenvolve. No site do Ministério da Educação já podemos ver uma relação de programas e leis que utilizam os recursos da tecnologia moderna para levar aos rincões mais distantes de nossa terra alguma instrução e cultura. Programas como o de Tele Ensino da Rede Globo, agora com legenda, são exemplos importantes do que é possível fazer para levar formação e informação a todos os brasileiros.
Na área da Engenharia encontramos problemas mais delicados. Não sendo cursos à base do giz e do gogó, os cursos de carreiras técnicas se apóiam em escolas muitas vezes deficientes, sem laboratórios e bibliotecas suficientes ao padrão de ensino que seria desejável. O ensino no Brasil centrou-se em exigências sobre os professores. Hoje vale mais ter diploma de algum curso de mestrado do que muitos anos de experiência profissional. O resultado é o de sempre, engenheiros mal preparados para a vida.
Uma falha preocupante é a ausência de livros técnicos nacionais nas livrarias brasileiras. Nas universidades as apostilas dominam, mostrando uma improvisação ruim. Os cursos, por sua vez, escorados em livros antigos, baseiam seus ensinamentos em técnicas e formas superadas. Com certeza existem exceções. Professores e alunos mais abonados sabem trazer de livrarias estrangeiras o que precisam para estudar mas na grande maioria das escolas, universidades privadas com alunos exauridos pelas mensalidades, a solução é o caderno de anotações em classe e cópias xerox de algum livro da preferência do professor. Sem muitas opções, bitola-se o futuro profissional em torno de recursos precários para o ensino.
Isso é preocupante pois a tecnologia desenvolve-se exponencialmente. Os cenários de algumas décadas atrás estão completamente superados.
Com a internet e os CDs pode-se agora multiplicar livros a preços muito inferiores do que os tradicionais de papel. Precisamos criar portais e desenvolver uma política de geração de literatura técnica em português. Qualquer grande empresa poderia, sem muitas dificuldades, apoiar a criação e sustentação de portais dedicados à cultura técnica. É interessante notar como algumas indústrias têm publicações técnicas espetaculares em formato eletrônico mas não transformam esse acervo em material didático ao alcance de todos os profissionais.
O desenvolvimento do nosso país precisa de novos instrumentos além dos antigos. A tecnologia pode viabilizar e apoiar cursos de toda espécie a custos menores e com muito maior acessibilidade.

Cascaes
6.7.2

Os portadores de deficiências e o trabalho

Trabalhar, ser útil, é o anseio de qualquer ser humano decente. Quando uma pessoa produz mais do que se consome, ela com certeza se sentirá melhor, saberá que, se algo acontecer, fará falta, será percebida a sua ausência.
O trabalho é uma forma decente de se conquistar o sustento da família, o direito de se participar do benefícios de uma sociedade que procura sobreviver aos desafios da Natureza.
Qualquer ser humano se sentir útil. Quando isso não acontece, regride, definha, mergulha em neuroses e depressões. Essa condição vale também para os portadores de deficiências. Eles querem e têm o direito de trabalhar. Lamentavelmente criou-se um quadro de compaixão ou desprezo por essa gente. Muitos rejeitam a simples presença de alguém com alguma condição diferente daquela que julga ser a ideal. O nazismo que o diga. Recentemente conversando com uma amigo sócio proprietário de um excelente colégio de Curitiba, ele me disse revoltado que um consultor contratado para uma análise e sugestões para sua escola, entre as recomendações desse especialista, estava a de dificultar a presença de portadores de deficiências em sua escola, isso afastaria outros alunos, reduziria a famosa lucratividade.
Temos leis obrigando a contratação de portadores de deficiências em grandes empresas. Estão sendo respeitadas? Será que os fiscais do Ministério do Trabalho estão atentos a essa condição?
O exemplo precisa vir de cima. É fácil ver que não é respeitado. Quantos portadores de deficiências lecionam? Trabalham nas escolas públicas e privadas? Não seria fantástico se nossas crianças tivessem professores nessas condições? Isso não seria educativo?
A escola precisa também educar, ensinar as artes da cidadania. Soa à hipocrisia ver que dizem uma coisa e fazem outra. Nela a criança deveria encontrar pessoas idosas, portadoras de deficiências, uma coleção de indivíduos de bom caráter mas que mostrassem e que todos merecem respeito. O idoso é praticamente impedido de trabalhar. É produto descartável por lei. Fora dessa faixa etária, contudo, qualquer cidadão em suas diversas formas deveria estar presente em todos os lugares de nossa sociedade.
Para os aleijados, para aqueles que dependem de próteses, não é bem assim. Calçadas mal feitas, sinalização para quem enxerga e ouve bem, falta de rampas, elevadores, banheiros adequados, tudo é feito para rejeitar nosso povo diferente dos padrões aceitos pelas elites.
A luta para mudanças, contudo, mostra alguns resultados. Precisamos de bandeiras e a certeza de que os portadores de deficiências merecem, tem o direito de viver numa sociedade em que sejam aceitos como cidadãos normais, com todos os direitos e deveres que nossa constituição federal estabelece e aqueles que nossos legisladores esqueceram mas que a moral e a dignidade do ser humano exigem.

JCC, 18/7/2000


Esqueceram os surdos
A mídia política mostra com agudeza a falta de atenção aos portadores de deficiências. Além do pouco destaque às suas necessidades, os processos de comunicação pouco se preocupam com as pessoas menos favorecidas pela natureza.
Em Curitiba, cidade com tantas escolas e clínicas para deficientes auditivos, o que demonstra a quantidade existente de pessoas nessa condição, pelo menos até agora, 17 de setembro, não percebemos atenção maior aos surdos.
Por quê a propaganda via televisão não aparece legendada ou com tradução simultânea para a LIBRAS? Por quê os candidatos falam tão pouco das necessidades daqueles que não ouvem direito? Com certeza os marqueteiros desprezaram esse segmento da população. É difícil acreditar que tantos candidatos simplesmente tenham esquecido essa gente.
Nunca é tarde para começar, contudo. Precisamos lembrar que existe um projeto de lei apresentado pelo vereador Borges dos Reis, tramitando na Câmara de Vereadores, instituindo a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) na administração e escolas públicas do município de Curitiba. Esse projeto já foi em uma primeira versão rejeitado, agora todos esperamos que seja aprovado com urgência, talvez ainda antes das eleições. Já existe a nível estadual, só falta implementa-lo conforme aprovado pelo Governador.
O respeito ao portador de deficiência auditiva é geral. Ele não se destaca na multidão, não usa muletas nem outras próteses visíveis com facilidade. Não aparecendo não diz à multidão que precisa de certos cuidados.
A luta a favor do portador de deficiência é difícil pois nossa sociedade não respeita ninguém. Quando vemos crianças abandonadas, esmolando ou vendendo quinquilharias, firmamos a visão de que estamos numa sociedade selvagem. Os templos sempre estão cheios de gente. É mais fácil rezar e pedir perdão do que simplesmente cumprir os ensinamentos de seus profetas.
Muita coisa poderá ser feita a favor do portador de deficiência de modo geral. Em princípio seria justo obrigar as escolas a terem funcionários e professores nessa condição. A educação àqueles sem problemas seria enriquecida com esta convivência. A adaptação de todos os prédios públicos, há muito pleiteada por aqueles que têm dificuldades de acesso, nunca foi completada. Os teatros de Curitiba permitem acesso a cadeirantes? Têm banheiros adaptados? Oferecem formas alternativas de comunicação?
Os ônibus com piso rebaixado são coisa antiga nos países civilizados. Aqui, talvez pela inexistência de calçadas transitáveis, os nossos ônibus mal atendem os atletas.
Muitos esquecem que, atingindo idade maior, aos poucos andarão pior, ouvirão e enxergarão menos, terão raciocínio mais lento.
Sentimos falta de maior agressividade por parte dos responsáveis pelas associações dedicadas aos portadores de deficiências. A crise econômica endureceu nossos administradores públicos. O perigo é permanecerem nesta condição quando não for mais necessário tanta violência. As eleições estão aí. Vamos cobrar de nossos candidatos manifestações mais veementes a favor dos portadores de deficiências.
Os surdos, entre eles, precisam da aprovação urgente da LIBRAS em Curitiba. Vamos mostrar isso nas propagandas?
JCC, 17/9/2000

A escola e o portador de deficiências

Educar é uma das grandes funções de qualquer escola.
Vivemos um período brutal da história da Humanidade. O neo liberalismo transmite a todos as virtudes dos “enxugamentos”, da indiferença em relação à miséria, transmite as maravilhas da exploração do homem pelo homem sem dó nem piedade. Nessas condições é de se esperar que as escolas adotem os modelos mais duros e preparem seus alunos para a competição da selva urbana, onde as feras entrarão se matando e abrindo espaços para os mais fortes. Essa é a nossa realidade, fruto da incapacidade de assimilação das melhores propostas socialistas.
Acreditamos que podemos mudar, que o Brasil e o resto da Humanidade ainda tenham o bom senso da necessidade da mudança. Até nosso presidente Bill Clinton já fala em leis trabalhistas internacionais. Sabe que a sobrevivência de todos depende de alguma distribuição de renda e de mútuo respeito. Juridicamente somos todos iguais; por efeito de inúmeros acidentes e benefícios naturais, não existem duas pessoas iguais. Essas alternativas que herdamos por obra do Grande Arquiteto do Universo geram as maravilhas das inúmeras formas do ser humano.
Muitos nascem diferentes, outros adquirem lesões permanentes. Em nossa sociedade em torno de 10% são o que poderíamos denominar “portadores de deficiências”. O que chamamos de deficiências são reduções (simples ou associadas) motoras, sensoriais ou mentais que comprometam o desempenho típico da média das pessoas. Todo indivíduo que viva o suficiente terá também alguma deficiência no alongamento da idade. Na terceira idade, os que lá chegarem descobrirão as angústias e agressões dos mais jovens, nas ofensas e falta de atenção aos mais velhos, época em que alguns enxergarão pior, ouvirão menos e pouco a pouco perderão algumas capacidades mentais e motoras.
O século 21 trará inúmeros desafios, o mais importante deles, mais grave que a famosa poluição, falta de água ou energia, será a necessidade de aceitação dos direitos do ser humano, seja ele branco ou preto, pobre ou rico, aleijado ou “perfeito”. Encontrar formas de mútua aceitação e valorização das diferenças, oferecendo-se a todos o melhor padrão de vida deverá ser a meta de qualquer povo sadio de espírito. Aliás, o pior portador de deficiência é aquele mal formado espiritualmente. Lamentavelmente muitas dessas feras adquiriram força e mandam em nossa sociedade.
A escola, nela reside nossa esperança maior. O que fazer para que além de simples contas e letras eduque?
O ambiente escolar precisa desenvolver as melhores propostas, transmiti-las a seus alunos em palavras e exemplos. Assim vale perguntar: quantos portadores de deficiências lecionam? Nas escolas existe gente em cadeira de rodas dando aula? Algum surdo estaria ensinando as artes da mímica ou seus conhecimentos e visões da vida? Em seus serviços de rotina encontramos gente que possa mostrar às crianças que do idoso ao mais aleijado dos seres humanos, todos poderiam de alguma forma estar com elas estudando, trabalhando?
Existem muitas leis a favor dos portadores de deficiências. O paradoxal é que as mesmas pessoas que as aprovam são as primeiras a não respeitá-las.
Teremos eleições em outubro. Se nosso povo pretende alguma mudança precisa estar atento às propostas dos candidatos. Ouçam com atenção, estudem seus currículos, vejam se são sinceros ao fazerem promessas. É muito importante para todos nós que as escolas mudem a favor dos portadores de deficiências. Todos nós seremos deficientes se vivermos o suficiente, é bom ir desde já educando aqueles que cuidarão de nós na nossa velhice.

JCC, 16/7/2000

O ensino especial à distância

A inclusão no ensino regular do estudante portador de deficiência é o grande discurso internacional sobre o assunto. No Brasil, como sempre fazemos, o discurso veio com facilidade. O tema é tão atraente que já virou argumento para as corporações de professores pedirem aumento de salário, se ganharem competência para o ensino aos portadores de deficiências. Como tudo em nossa terra, o exercício profissional com qualidade e competência é entendido como algo excepcional e não a regra.
A multiplicação de universidades é outro fenômeno recente. Ótimo! Graças à flexibilização do Ministério da Educação hoje temos um número de vagas em escolas de terceiro grau muito acima do existente há poucos anos. A rede privada de ensino transformou-se num grande negócio. As faculdades de giz estão por todo lado, criando expectativas de diplomas e lucros para os empreendedores. Finalmente o povo brasileiro começa a sentir a possibilidade de formação superior, antes privilégio de alguns poucos, muito poucos.
Os portadores de deficiências, contudo, são última prioridade do ensino público e privado. Para as escolas públicas representam aumento de custos, para as particulares, além do maior custo trazem rejeições, preconceitos e desinteresse dos empreendedores, com oportunidades mais fáceis entre os alunos sem restrições.
A grande novidade é a redução drástica de custos e aumento espantoso de recursos na área de telecomunicações e processamento de dados. Graças a essa condição pode-se montar cursos nos melhores centros, transmitindo suas aulas para onde, quando, quanto e como os alunos precisarem. Além dos benefícios da simples oferta dos cursos, eles têm tudo para serem melhores que os cursos convencionais, presos às limitações físicas de professores e salas frias.
Para os deficientes auditivos, por exemplo, será possível gravar a melhor aula do melhor professor na melhor escola do mundo e legendar a apresentação, acrescentando-se informações e imagens com linguagem de sinais para a plena compreensão desses alunos. Lógico, toda uma tecnologia didática é necessária para a aferição de resultados e ajustes dos cursos.
E os paraplégicos? Eles poderão ter salas de aula em suas associações, apoiados por todos e tudo o que for necessário. Telões, CDs, vídeos, filmadoras e transmissores completam com os apoiadores o ambiente de ensino, que precisam. As leis que garantem espaço no mercado de trabalho não servem para nada se os portadores de deficiências não tiverem formação profissional adequada. Nessa época em que até cirurgias são ensinadas à distância, com certeza teremos inúmeras formas de educação capazes de preparar esses 10% de nossa população, segregados, mal tratados, em grande parte excluídos do mundo convencional.

JCC, 26/11/2000

Um comentário:

Franco Rovedo disse...

ë isso mesmo Cascaes!!!