sábado, 23 de agosto de 2008

A sustentatibilidade, o ensino universitário e o Grupo Hárpia

A convicção de que precisamos mudar as condições de trabalho e de existência do ser humano para que a vida se sustente na Terra é uma realidade que precisa ser vista com seriedade, assim como uma oportunidade de trabalho e de reengenharia da nossa existência.
A partir dessa constatação, que tende a ser unânime entre pesquisadores, convergimos para a necessidade de ações, urgentes diante da presunção de emergência, pois diversos indicadores mostram a necessidade de ações imediatas para se reverter a degradação ambiental.
Impõe-se novas técnicas de projeto, construção, de manutenção e de operação assim como a adoção de matérias biodegradáveis, utilização otimizada de combustíveis, reeducação sobre comportamentos de toda espécie, tudo formando um conjunto de propostas que precisam ser implementadas com urgência, antes que muitos prejuízos previsíveis aconteçam irreversivelmente.
Onde as mudanças devem começar? O que podemos fazer?
A partir do GFAL e outros eventos similares ficou a certeza de que a sustentabilidade precisa ser introduzida nos currículos de nossas universidades para que nossos futuros profissionais a adotem com convicção e eficácia.
Vale registrar que o exemplo é o melhor comando. Nada mais ridículo ou falso do que dizer algo e fazer outra coisa, ser contraditório, incoerente. O conceito universidade é tão solene e respeitado que seus chefes maiores se intitulam “Magníficos Reitores”. Espera-se da Academia o máximo, o melhor.
Infelizmente notamos que nossos centros universitários carecem de mudanças. Nosso Brasil legislador criou leis, estatutos, normas, regras etc. que resistem a “pegar”...
O que em nossas universidades precisa ser corrigido?
Em princípio tudo, tendo exclusivamente o tema sustentabilidade para análise, pois é flagrante o desperdício de energia, por exemplo, mantendo-se padrões de freqüência em aula que exigem instalações enormes para abrigar os alunos e seus automóveis e motocicletas (se não dentro do perímetro da escola, nas proximidades, em áreas alugadas ou mesmo nas ruas e, pior ainda, sobre as calçadas). A utilização do transporte coletivo pode minimizar impactos, mas é um acréscimo à saturação das cidades. Essa rotina exige deslocamentos diários e perda de tempo no trânsito (com desgaste emocional, físico, mental e monetário), além de toda exposição física à poluição e à violência.
Ou seja, como primeira atitude a favor da sustentabilidade nossas universidades poderão criar procedimentos de ensino que minimizem os deslocamentos de seus alunos, mestres e servidores, assim, entre inúmeras outras coisas, viabilizando a diminuição de ocupação de espaços preciosos, tornando-os, inclusive, se necessários, (entrando num dos muitos detalhes dignos de nota) permeáveis, áreas de absorção de chuvas ou, no mínimo, com cisternas que evitem a saturação do sistema de coleta de águas pluviais.
Nossas universidades devem ser exemplos de construções racionais com sistemas próprios de coleta e tratamento de esgoto e lixo, aproveitamento de águas da chuva, utilização máxima da energia solar e sua capacidade de iluminação, aquecimento etc, áreas verdes, edifícios “inteligentes” etc.
É pouco provável esperar um bom padrão de educação se as escolas e seus responsáveis não derem exemplo de boa engenharia e arquitetura.
A preocupação com o futuro da humanidade coloca na vontade de todos a intenção de se criar e induzir soluções. O dilema é que a complexidade de muitos processos pode esconder problemas maiores, gerar equívocos desastrosos.
Felizmente a internet viabiliza sistemas de bibliotecas, consulta instantânea, a globalização e permeabilidade universal da cultura técnica. Essa realidade afeta substancialmente a figura do professor, antes visto como um ser poderoso, dono da verdade e da razão. O estudante medianamente instruído e capacitado para acessar a rede mundial de computadores consegue em alguns minutos informações que seus pais (e professores) sequer sonhavam obter. A lição que tiramos é a de que o professor precisa mudar seus métodos de ensino e de avaliação de seus alunos. Em princípio atrevemo-nos a dizer que os professores de terceiro grau (momento da vida em que os estudantes precisam ser profissionalizados, descobrirem e agirem como adultos) devem se transformar em consultores e orientadores e manter a característica de aferidores de aprendizado de seus pupilos (até isso pode mudar com a introdução de exames gerais, tipo “Exame da Ordem”).
Nossas escolas de nível superior precisam ser e ter laboratórios, bibliotecas, museus, oficinas, de espaços para debates e de boas salas para os consultores, seu corpo docente.
O que mais seria conveniente produzir?
A eletrônica moderna com seus computadores, pendrives, DVDs, PCs, antenas, fibras óticas, modens, internet etc permite a criação de novos formatos e sistemas de construção do que denominamos livro (esquecendo a definição criada pela Lei do Livro).
Se em algum momento do passado o “livro” foi um conjunto de tábuas de pedra ou argila, ou ainda madeira, cheias de hieróglifos, escrita cuneiforme ou outra qualquer, evoluindo para os rolos de papirus, chegando finalmente ao que Gutenberg viabilizou usando o papel comum, agora existe a possibilidade de se produzir livros eletrônicos, com milhares de páginas, ilustrações dinâmicas, sem restrição de cores, interativos, planilhas e gráficos que se ajustam aos dados colocados, desenhos em três dimensões, holografia, tudo podendo ser feito a custos reduzidos para o aluno, colocando-se no rodapé o nome do patrocinador, do mecenas, da instituição produtora, ainda relacionando consultores (professores), linkando o livro com laboratórios virtuais, museus, bibliotecas, centros de P&D, ou seja, sem limites para a imaginação.
Com tantos recursos à disposição da humanidade, diante da emergência que se coloca e da necessidade de se levar o ensino e a cultura técnica a todos os rincões desse planeta, “só” precisamos refazer as ementas dos cursos introduzindo técnicas e propostas a favor da sustentatibilidade da vida na Terra. O ajuste das ementas é uma necessidade urgentíssima e perigosa, como já o dissemos. Carecemos de propostas reais e sadias, sem venenos ocultos, sem desvios perigosos. Na área energética, por exemplo, os riscos são enormes, pois se falarmos de agressão ambiental não poderemos esquecer que, além dos tradicionais impedimentos focados em todos os estudos de impacto ambiental, existem alguns pouco valorizados, como os impactos visuais e auditivos.
Temos que viver.
Apesar de tudo a necessidade de se proteger, de se sustentar leva a impactos inevitáveis. Os registros das diversas espécies da fauna e flora mostram, ao longo dos milhões de anos em que a vida se percebe sobre a Terra (bilhões de ano?), que uma espécie desloca outra, que a saturação eventual acontece assim como catástrofes naturais podem alterar substancialmente, em curtíssimo tempo, toda a relação de seres vivos sobre a Terra. Nós, por efeito de instintos e sandices, temos plenas condições de mútuo extermínio. Escapamos, até agora, ou melhor, não nos aniquilamos em tragédias de porte universal causadas pelo ser humano, mas estamos em condições de proporcioná-las. As milhares de bombas nucleares detonadas nas últimas décadas prenunciam uma guerra atômica, que certamente afetará drasticamente o meio ambiente sobre a Terra inteira. Armas biológicas, gases especiais, tudo indica que o gatilho está armado. Prosaicamente vemos, por exemplo, gigantescos arsenais flutuantes passeando pelos mares, teoricamente para a defesa da liberdade, liberdade de destruir. O crescimento do fundamentalismo religioso e político é um perigo tão grande ou muito maior do que o desmatamento de nossas florestas.
Sentimos, pois, que precisamos ensinar e educar a civilização para a sustentabilidade. Existe um código de ética universal? Vamos desenvolvê-lo? Lendo livros sobre o assunto ficamos maravilhados com a inteligência de certas personalidades clássicas da história da filosofia. Muitos códigos foram feitos sob o império de dogmas antigos. Temos outros indicadores, novas visões da vida sobre a Terra. Com urgência devemos acrescentar às nossas convicções pessoais a certeza da necessidade de se mudar muitas coisas, principalmente a nós mesmos, se quisermos que nossos descendentes possam viver com dignidade e as oportunidades de saúde e felicidade que talvez tenhamos desperdiçado.
A responsabilidade pelas mudanças é de todos nós, maior daqueles que conquistaram saber e poder.
Temos no Grupo Hàrpia a intenção de discutir e sugerir ações para a inserção do tema sustentabilidade no ambiente universitário. Ótimo!
O que, quando, como, quanto, quem e onde atuar?
No GFAL e, posteriormente, no Call For Action tivemos palestras, exemplos, debates e sugestões. Entre os grandes palestrantes, Ran Charam disse:
As empresas podem usar a mente, o raciocínio para projetar sistemas que permitam tornar um produto ou serviço acessível, na base, por exemplo, de 1 dólar. "Não ter dinheiro é uma situação que força a inovação", disse Charan. Ou seja, esperar verbas milionárias para mudar o ensino no Brasil é o mesmo que pretender esperar barcos de luxo para se salvar de enchentes. Devemos, podemos fazer muito com os recursos disponíveis. Nossas universidades são empresas públicas pagas pelo povo para servi-lo, quando estatais. Se privadas têm um compromisso ético e legal com a nação que lhes permitiu exercer a atividade do ensino.
Uma das conseqüências do Call For Action do GFAL foi a formação do Grupo Hárpia (GH). Denominação um tanto assustadora, vale para criar um pouco de suspense sobre o que seus idealizadores se propuseram a fazer, ou seja, trabalhar para a inserção do tema sustentabilidade no currículo e ementa de cadeiras dos cursos universitários.
Fazendo parte do GH queremos realizar, ver resultados. Nada mais inútil do que sentirmos ao longo do tempo que desperdiçamos tempo. Sabemos e podemos muito, ser, fazer e lutar para concretizar algumas ações eficazes deve ser nossa missão no Grupo Hárpia.
Nessa etapa de planejamento devemos , sem perder muito tempo, criar desafios e propostas para nós mesmos.
Nosso Grupo Hárpia, por exemplo, pode elaborar uma agenda de palestras nas universidades e faculdades isoladas para apresentação de nossas teses, a serem estabelecidas de acordo com um cronograma acelerado de reuniões (presenciais ou virtuais).
Maravilhosamente o Grupo Hárpia é composto por pessoas inseridas em cargos estratégicos em nossas maiores universidades. Supõe-se, assim, que não será difícil obter oportunidades de manifestação em seus ambientes.
Paralelamente o GH poderá analisar propostas para maior eficiência das universidades e do ensino de modo a ajustá-los a comportamentos adequados aos desafios do terceiro milênio.
Não devemos esquecer que a adoção de novas técnicas de ensino poderá favorecer substancialmente as pessoas deficientes, submetidas ao suplício de transitar por cidades hostis e freqüentar aulas nem sempre acessíveis.
Podemos e devemos nos perguntar: o que vamos fazer?


João Carlos Cascaes
23.8.2008

http://harpiagfal.blogspot.com/

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