Engenharia ou Demagogia
A tragédia de SC apenas vem juntar-se a muitas que diariamente matam ou impedem a evolução da vida de milhões de brasileiros. Obviamente a natureza é violenta, implacável, antiecológica. Mata, rebenta, muda, destrói o que estiver no caminho de suas mudanças nem sempre previsíveis. Podemos, entretanto, com o apoio de bons profissionais, evitar muita coisa. Com certeza o que vimos acontecer no sul do Brasil teria tido conseqüências menores se os temas prevenção, defesa civil e gerenciamento enérgico de ocupação de espaços fosse regra em nosso Brasil romântico e irresponsável.
Minha vida profissional me permite dizer e ver angustiado, por exemplo, o que representa em destruição a não duplicação de rodovias por efeito de leis mal construídas e pessimamente aplicadas. Assim índios importados e periquitos acabam impedindo soluções mais do que necessárias. Por estatística podemos calcular o número provável de mortos em acidentes em qualquer estrada. Com certeza a carnificina [é muito maior do que a natureza nos impôs em Santa Catarina neste mês de novembro, continuando sem previsão segura de conclusão.
No Vale do Itajaí temos história (e não estória) para tudo. As barragens do Vale para contenção de cheias chegaram a ficar sem operadores durante mais de um ano porque extinguiram a repartição (DNOS) que as construíra. Tivemos que alertar o prefeito de Blumenau (Décio Lima, no início de sua gestão) para que ele acionasse governador e presidente da República para lhes dizer que aquelas barragens seriam extremamente perigosas se abandonadas. Alguns anos mais tarde ainda descobriram índios vandalizando as instalações de comando e as autoridades paralisadas por efeito da inimputabilidade e intocabilidade desses brasileiros...
O projeto JICA, desenvolvido com o apoio do governo japonês, com certeza teria evitado muita coisa, até porque reforçaria a preocupação com a drenagem do vale na sua área de menor altitude, a partir de Blumenau. Mais uma vez xiitas do meio ambiente e conveniências mesquinhas impediram a implementação desse benefício, assim como de duas outras barragens que já deveriam existir. Com certeza um trabalho dessa envergadura não é suficiente e precisa de complementações. Infelizmente, defendendo ações menores destruíram a melhor intervenção.
Aqui vale perguntar para quem pretende combater obras dessa espécie se, estando presos ao fundo de uma piscina com água beirando o queixo arrogante deles, um metro a mais ou menos de água seria desprezível. Essa foi a lógica maior utilizada pelos inimigos daquele belíssimo projeto (apoiado pela JICA) abandonado pelos nossos governantes, intimidados por más lideranças do Vale do Itajaí.
Obviamente não existe projeto grande, pequeno ou médio que não crie impactos ambientais. Fosse essa uma preocupação real de nossos cidadãos, eles evitariam ao máximo a utilização do transporte motorizado, não teriam imóveis de lazer em qualquer lugar, evitariam o consumo de bebidas que não fossem essenciais, enfim, procurariam uma maneira de ser semelhante a dos monges que se isolam da vida. A farsa do discurso incomoda.
Temos gente sofrendo, morrendo, catando lixo para sobreviver, morando em barracos infectos, tudo isso e muito mais por efeito de lógicas de gerenciamento incompreensíveis ou inexistentes.
Leis não faltam, para quê? É melhor parar por aqui...
O estado de Santa Catarina vai brecar, ter uma travada em seu desenvolvimento. Lá como em todo o Brasil faltaram governo, lideranças civis, participação e boa engenharia. O preço é elevadíssimo.
Será que em algum dia aprenderemos a criar um país sadio, inteligente e justo?
João Carlos Cascaes
Curitiba, 26.11.2008
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