domingo, 7 de dezembro de 2008

Queime depois de ler

Queime depois de ler

Vimos uma “comédia” que mais parecia uma tragédia, uma descrição pretensamente cômica do comportamento de um grupo de pessoas que representa muito bem o que vemos com freqüência crescente em nossa sociedade.
Uma mulher já um tanto desgastada, querendo de qualquer jeito fazer cirurgias plásticas que dependiam de dinheiro que não tinha, exercitando a lógica do “é dando que se recebe”, procurando um companheiro em todos os cantos da cidade de Washington, acaba sendo parceira num processo de chantagem e em seguida na venda do que imaginava serem “segredos militares”. A trama se desenvolve num ritmo acelerado, inclusive com as batidas de carro que os norte americanos tanto apreciam, mostrando, contudo, o grau de alienação de pessoas comuns demais em nossos dias.
O sentimento de “estado nacional” é relativamente recente. No século dezenove apareceu com força, foi contestado por alguns “movimentos populares” da época, de esquerda internacionalista, tornou-se forte, viabilizou guerras, mas também serviu para unir pessoas que antes só andavam juntas por força dos chefes religiosos e sob o chicote da aristocracia.
Nos EUA os americanos aprenderam a cultivar o amor à pátria, tanto assim que a bandeira daquele país é usada exaustivamente até em shows eróticos. Apesar de tudo vimos um filme produzido na capital daquele país, onde, sem mais nem menos, uma dupla de trapalhões descobre a oportunidade de se entregar ao Deus Dinheiro e não titubeia em expor o próprio povo vendendo-se a estrangeiros. O espantoso é sentir que “aquilo” poderia ser normal entre americanos que diversas vezes sacrificaram tantos jovens a favor de seu país.
Esse é um processo que vemos acontecer em todos os cantos do mundo moderno, afinal, quem se recusa a ter um bom emprego em qualquer multinacional mesmo que ela trabalhe contra os interesses nacionais? Não é comum vermos amigos se mandando para o estrangeiro, mudando de nacionalidade, de língua e costumes, saindo e falando mal de uma terra que nunca defenderam? Não é normal descobrirmos amigos vendendo a alma para poderem freqüentar os clubes de ricos de suas cidades?
O nacionalismo ainda existe, sim. Grupos econômicos poderosos lutam para manter o poder de suas pátrias. A crise econômica que nos abate ilustra movimentos de defesa dos interesses estrangeiros da mesma maneira como vimos acontecer na crise de 1929, onde, no Brasil, por exemplo, as concessionárias de energia elétrica sob controle deles se transformaram em instrumentos de evasão de divisas a favor de investimentos na América do Norte, principalmente. Ainda agora o amigo Joaquim Francisco de Carvalho manda emails desesperados denunciando a determinação do governo do Estado de São Paulo que pretende privatizar as usinas da CESP, impedindo-se, inclusive, a participação das nossas estatais nos leilões (colombiana pode), para quê? Ao troco de quê? O que existe por trás disso tudo?
Pior ainda foi ver a declaração do presidente da República dizendo que não podia parar de vender terras na Amazônia para os gringos, pois o país precisa de divisas (para salvar Itaú, Unibanco e AIG? Para compensar os erros estratosféricos dos economistas de algumas empresas exportadoras de grande porte?).
O personagem principal do filme tem o nome de Linda. Podemos perguntar, quantas Lindas existem entre nós? Qual é o futuro de países cujos cidadãos se dispõem a vender tudo, inclusive a si próprios, para poderem fazer cirurgias plásticas, consumir coisas que precisam de cursos para serem entendidas, mostrarem-se melhores em alguma coisa, já que lhes falta o principal, caráter, cidadania, amor à pátria?


João Carlos Cascaes

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