sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O deficiente auditivo

O deficiente ausente
Participando de fóruns, seminários, debates, cursos etc. aos poucos vamos percebendo a ausência da pessoa deficiente auditiva.
Obviamente, até em decorrência do conceito “normal” a maioria das pessoas é ouvinte e bem dotada da faculdade de escutar. Existe, contudo, uma gama enorme de restrições de audição afetando muita gente. O deficiente auditivo não carrega marcas visíveis de sua redução sensorial, exceto quando utiliza aparelho de surdez, algo muito discreto e caro. O resultado é a falta de atenção para um problema seriíssimo que aflige uma parte significativa da nossa sociedade.
Em muitos países a surdez foi motivo de ações espetaculares, marcantes. Nos EUA, país que muitos gostam de considerar como ruim, pernicioso, há mais de um século uma universidade é dedicada às pessoas com deficiência auditiva profunda. A Gallaudet University (http://www.gallaudet.edu/ ), criada em 1856 por Amos Kendall, obteve do Congresso Nacional dos EUA, em 1864 o direito de conferir a seus alunos em fim de curso o “college degree”, nosso primeiro nível superior, decisão transformada em lei pelo presidente Abraham Lincoln. Seus primeiros 3 formandos receberam diploma assinados pelo presidente norte americano Ulisses S. Grant, ato que se transformou em tradição dos EUA.
E no Brasil?
Aqui temos belas histórias, mas poucos resultados. Graças a teses e conveniências pessoais de líderes eventuais muito esforço foi desperdiçado em questões de método, conceito etc., coisa típica de brasileiro, sempre desperdiçando oportunidades e valorizando verborragia e vedetismos. Do ponto de vista legal avançamos, talvez mais por efeito da “onda” a favor das pessoas deficientes (é feio usar outras denominações...). Agora temos leis e o Brasil assinou protocolos, acordos, cartas e outras coisas tão ao gosto daqueles que participam de congressos, seminários e coisas assim. Por bem ou por mal temos uma legislação. E os surdos? Para eles o MEC, por exemplo, criou um roteiro impossível. Talvez no terceiro milênio da era cristã tenhamos um cenário razoavelmente eficaz a favor dos surdos em nossas universidades.
A deficiência auditiva não se limita às pessoas tidas e havidas nessa condição. O aumento da expectativa de vida está mostrando uma população com dificuldades de audição que era simplesmente ignorada. No mundo inteiro pode-se sentir a falta de educação e recursos no tratamento das pessoas idosas, o grau de desatenção, entretanto, varia muito de lugar a lugar.
Não termos atuação política eficaz a favor dos idosos leva a padrões de urbanismo, de construção, de sinalização e comunicação precários, gerando toda sorte de constrangimento e riscos à pessoa com idade avançada.
Felizmente os computadores, software, a ciência de modo geral evoluem e agora podemos afirmar que existe solução para qualquer problema nessa área. A questão é, temos pesquisadores, projetos e empresários dedicados às pessoas deficientes?
Para os deficientes físicos já podemos ver muita coisa, e para os surdos, por exemplo, existe algo além dos tradicionais e muito caros aparelhos de surdez?
Temos muito pouco, talvez pela ausência do surdo de quase todos os cenários de discussão de seus problemas. Talvez em Brasília, cidade com altíssimo padrão de renda (funcionários federais, estaduais e municipais mais do que privilegiados), capital federal, tenhamos um contingente de ativistas junto aos nossos legisladores e ao Poder Judiciário. Terão capacidade de refletir os problemas dos deficientes auditivos das pequenas cidades brasileiras? Das metrópoles distantes e mais sintonizadas com a nossa realidade?
Talvez pela omissão dos próprios surdos e idosos deficientes auditivos estejamos tão mal nessa área. De qualquer modo, precisamos, com urgência, fazer algo mais. Estamos pelo menos um século atrasados em relação aos países mais educados e atentos aos problemas dos deficientes. Há muito a mudar em nossa pátria amada, salve, salve.

João Carlos Cascaes
Curitiba, 14 de novembro de 2008

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