quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mundo perdido no silêncio

A luta pela vida transforma as pessoas. De modo geral pode-se sentir que o egoísmo cresce à medida que o indivíduo mergulha em seus problemas, algo natural, mas ruim quando essas pessoas têm poder, autoridade para corrigir erros que atingem a vida daqueles a quem deveriam servir, no mínimo para honrar suas promessas em clubes de serviço, em rezas e rituais de bajulação a algum ser superior e até para dizer ao final do ano, “sim, fiz algo de bom para o próximo, amei-o da maneira que gostaria de ser amado”.
Em Curitiba sentimos que a preocupação com os idosos, as crianças e o respeito às pessoas com necessidades especiais se desmancha na violência de uma cidade que já ignora o crime organizado, convive com traficantes e sente que chegar vivo em casa é um grande negócio. Naturalmente a questão “necessidades especiais do povo deficiente” não aparece no horário político como deveria. Asfalto dá dinheiro? Vamos prometer mais, no mínimo cria-se a expectativa de bonança para empreiteiros, fabricantes de cimento e os felizardos donos de automóveis.
Entre os deficientes existem aqueles mais esquecidos, mais distantes da mídia. Talvez por não externalizarem suas dificuldades e não conseguirem entender de forma adequada o que se diz à volta, os surdos, meio surdos, aqueles que têm ecofonia, todos que de uma forma ou de outra ouvem mal se isolam, deixando também de dramatizar suas necessidades.
Um exemplo de crueldade podemos encontrar nas escolas. Temos leis e decretos, existe tecnologia para a compensação da surdez, coisas tão simples como a correção da voz ou maior atenção ao aluno deficiente auditivo não acontecem porque um conjunto de artifícios deu aos mestres autonomia para desprezar seus estudantes e às escolas meios diretos e indiretos de se livrarem dos alunos que não desejam.
Temos eleições para as universidades, templos ao corporativismo. Escolas públicas, pagas pelo povo, com o dinheiro do contribuinte, se dão ao direito de escolherem entre os seus os seus diretores e reitores. As eleições, quando muito, deixam uma fatia menor do poder eleitoral para os alunos. Assim educamos nossos futuros profissionais a desprezarem a comunidade maior, o povo da cidade, a nação.
Temos solução. Bibliotecas públicas digitais, internet, equipamentos de apoio ao surdo, ao cego, ao paraplégico, ao deficiente mental, um conjunto de recursos deveria ser o desafio diuturno dos professores assim como, fora das universidades, estar na lista de prioridades dos institutos de planejamento urbano, das indústrias, do povo nas cidades em todos os seus lugares.
É fácil de perceber que o atendimento às pessoas com necessidades especiais é a última prioridade, afetando, inclusive, por extensão, os projetos bilionários de transporte coletivo urbano. Nossos fazedores de projetos são incapazes de prever recursos para as calçadas, calçadas decentes, não as pistas de obstáculos que constroem em Curitiba.
Educar, mudar currículos escolares, ensinar todos os brasileiros os 8 jeitos de mudar o mundo, atender o estudante onde ele mora, dar ao cidadão, em qualquer lugar desse Brasil gigantesco, educação e cultura é um desafio que a tecnologia viabiliza, mas, e as corporações? Perderão emprego com a internet e os sistemas de baixo custo de processamento e transmissão de dados?
Vamos investir no convencional ou aceitar as maravilhas do progresso?
Enquanto não corrigirem leis, decretos, normas etc absurdos, como as que regulamentaram a colocação de tradutores em LIBRAS nas escolas públicas brasileiras, levando a concursos que não conseguem preencher o número de vagas de professores “mandrakes” imaginados pelos especialistas do MEC, o aluno deficiente vai perdendo a escolaridade que precisa para poder trabalhar.
Nas ruas das cidades os idosos são atropelados, submetidos a acidentes porque os saudosistas decidiram manter os padrões das titias velhinhas e o Brasil prossegue preocupado com um futebol que é a cara de nossas autoridades, medíocre e caro.

Cascaes
11.9.2008

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