terça-feira, 7 de outubro de 2008

O desespero de um pai deficiente

O desespero de um pai deficiente

Deus é um grande educador. Ele nos ensina e acima de tudo nos dá desafios que precisamos entender. Deus não nos ensina para o prazer da cultura, mas para que façamos algo, para que realizemos alguma de suas vontades.
Damos à figura do Criador qualidades humanas. Temos o hábito de imaginar um ser superior muito parecido conosco. É uma visão pretensiosa, egocêntrica; é, apesar disso, a que conseguimos construir.
Nascemos, crescemos, vivemos e envelhecemos. Para quê? Existirá no Universo alguma vontade ética? Moral?
Devemos acreditar que temos missões, que a vida significa criar, produzir, fazer algo. E a missão que tivermos será, talvez, proporcional à que o Grande Arquiteto terá planejado para nós.
Nossas tarefas podem vir de diversas formas. Alguns têm poderes, outros mostram necessidades...
Ser pai de uma criança com necessidades especiais é um desafio monumental. O sofrimento é indescritível. A esperança, contudo, é a força que leva qualquer pai ou mãe à luta. No mínimo a vontade de ver seu filho ou filha amado, respeitado leva-nos a insistir em sua formação universal, profissional. Não raro nos defrontamos com situações estranhas, kafkianas. Ver nossos filhos expostos à vontade de pessoas nem sempre bem educadas é um suplício. Nada é mais triste do que a incompreensão, a frieza de certos indivíduos que sabemos poderem fazer muito, mas que se limitam a ações de conveniência pessoal, a metas corporativas, a vontades pequenas que nem merecem ser descritas.
Deus sabe o que faz e nós simplesmente servimos de objeto de sua vontade, mas que seria isso?
Todas as explicações éticas e materiais existem a favor daqueles que agridem nossos filhos, afinal, como eles entenderão a magnitude do desespero que domina nossas mentes? São pessoas que ganharam saúde, que não têm outros defeitos além de qualidades morais fáceis de serem escondidas. Podem tranqüilamente viver e morrer em paz com suas pequenas consciências.
A deficiência é dos pais. Quem mandou gerarem filhos especiais? Por quê vêm incomodar os perfeitos?
A raiva ou o fatalismo serão caminhos que poderemos escolher. Poderemos ser simpáticos. Poderemos agradar. Poderemos aceitar as regras das corporações, dos chefes, de mestres, daqueles que governarem nossos filhos; e os outros?
Poderemos encontrar soluções específicas, e os outros?
Poderemos salvar um filho, e seus amigos?
Aos poucos vamos sentindo o peso de nossa tremenda deficiência. Não conseguimos vencer barreiras, perdemos para o primeiro burocrata de plantão.
Impõem-nos a resignação ou a tremenda raiva que nos coloca em posição quase assassina.
Quando chegamos ao desespero, tendo inspiração, ganhamos idéias. Os projetos, as propostas aparecem. Vamos, contudo, enfrentar as críticas, os desafios.
Poderemos ser ricos, poderosos e usar tudo o que tivermos para salvar nossos filhos, e os outros?
Felizmente o mundo evolui. Talvez regrida moralmente, mas a ciência cresce. Assim vamos ganhando a esperança de que a Matemática, a Física, a Biologia, a Informática, a Mecânica e outras ciências exatas, inexatas, materiais e biológicas resolvam o que a humanidade não corrige socialmente. Evoluímos num sentido e oscilamos noutro.
Nesse turbilhão de sentimentos um pai deficiente se perde, angustia-se, pode até destruir seu filho. Nesse mundo desumano e brutal é difícil achar simpatias e vontades reais de solução de problemas que existem, talvez, para testar a qualidade de nossa formação. A separação do joio do trigo é um desafio permanente...
O fundamental, entretanto, é encontrar um espaço para nossos filhos e com eles aprimorar o comportamento da sociedade como um todo, todos merecem serem respeitados, precisam de oportunidades para crescer. É lhes dar o que merecem, o que têm direito. A luta compensa, é justa e natural, é divina.

Cascaes
21.12.2006

Nenhum comentário: